Seminário Internacional "Avanços em estudos de energia "
" Fluxos de energia na ecologia e na economia"
Porto Venere, Itália, maio 26-30, 1998.
DOCUMENTO FINAL
OBJETIVOS
Cerca de cinqüenta cientistas das áreas de Ecologia, Análise de Energia e Economia Ecológica se reuniram em Porto Venere, Itália, durante a última semana de maio de 1998, para identificar as iniciativas políticas e as pesquisas necessárias para o estabelecimento de um padrão equilibrado de interação entre a humanidade e o ambiente, assim como para melhorar a compreensão dos métodos de análise energética e definir seus alcances.
O seminário procurou integrar os cientistas que atuam no campo de energia/econômia/meio ambiente e sociedade e focalizar objetivos comuns, formando uma massa crítica de cientistas atentos aos aspectos sociais da energia. Além disso, tentou estabelecer novamente uma política de debates científicos para propor o uso sustentável dos recursos naturais e energéticos, entendendo a relação destes com a economia humana.
Dentro dessa perspectiva, as três metas do seminário foram:
Os tópicos do seminário não tiveram a intenção de diminuir a diversidade de abordagens científicas procurando um único método para uma realidade intrinsicamente complexa. Pelo contrário, os participantes buscaram conhecer as qualidades científicas e valorar a importância de uma grande variedade de abordagens, propondo, criticando, e aplicando vários métodos de análise, suposições, e limitações à diversos tipos de problemas e situações.
MOTIVAÇÃO CIENTÍFICA:
Nas duas últimas décadas, cientistas do mundo todo desenvolveram métodos para análise de sistemas econômicos e ecológicos usando diversos conceitos de energia. Nenhum deles foi capaz de interpretar, de forma suficiente, a complexidade dos problemas que humanidade confronta. Por esse motivo, a tônica do encontro foi recomendar o uso de metodologias complementares para conseguir abordart toda a complexidade dos problemas
No início dos anos 60, aplicaram-se os conceitos de fluxos de energia à sistemas ecológicos, e este trabalho pioneiro proporcionou as bases para as aplicações aos sistemas econômicos nos anos 80 e 90. A análise de energia na década de 70 orientou-se para o estudo da eficiência nos processos de produção, avaliação de tecnologias alternativas de energia primária, estimação das necessidades diretas e indiretas de energia das atividades de produção e o consumo e, principalmente, a diminuição no fornecimento dos insumos naturais que promovem o crescimento econômico. Foram desenvolvidas conexões com a Ecologia e as preocupações sócio-ambientais. Esta área de estudo amadureceu nos anos oitenta e no começo dos noventa. Tanto a análise de processos como as abordagens baseadas na teoria de sistemas, foram usadas para identificar as interdependências físicas dos sistemas econômicos e ecológicos e para avaliar cenários de desenvolvimento para sociedade humana levando em conta limites ecológicos.
Trata-se de um domínio complexo de investigação científica:
PRINCIPAIS PONTOS IDENTIFICADOS:
1. Importância da energia para a sociedade
Em todos os tipos de economia desde 1900, o crescimento, o produto interno e o bem estar social estiveram fortemente relacionados ao uso de energia.
O preço econômico não confere adequadamente a importância de energia à economia. Estimar a contribuição da energia e dos insumos materiais aos processos basenado-se apenas nos preços dos recursos não é correto. Deve-se reconhecer o papel fundamental da energia na economia. A teoria econômica tradicional desconsidera a importância de energia, porque postula que a contribuição de energia para o crescimento econômico é determinada pela baixa participação que a energia tem (aproximadamente 5%) no custo total de produção que inclui capital, trabalho e energia.
Mesmo que pudesse ser negligenciado seu custo, sendo a energia uma das forças impulsoras do processo econômico, é urgente prestar atenção aos aspectos biofísicos da relação economia - energia, para não subestimar o rol dela na intensificação dos processos de automação onde máquinas movidas a energia substituem o trabalho humano.
Existem diferenças significativas na qualidade e na quantidade dos fluxos de energia e nas contribuições atuais e potenciais delas para sociedade:
Alguns participantes sugeriram que não há, à vista, limitações no fornecimento de energia para a humanidade, mas manifestaram preocupação com os limitações tecnológicas atuais. Já outros sugeriram que o fornecimento de energia tem um custo energético e ambiental, e que muitas fontes que pareciam ter um potencial para oferecer para sociedade provaram não render energia líquida.
Os aumentos em eficiência de energia tendem a aumentar seu uso, redundando em maior processamento e consumo. O efeito de rebote ("Paradoxo de Jevon") opera dinamicamente e não aparece nas análises estáticas (pontuais) e custa a ser compreendido pela maioria dos cidadãos e dos políticos.
2. Reconhecimento dos limites de capacidade de carga do globo terrestre
Os participantes do encontro acharam que as questões relativas à capacidade de carga global devem ter a maior prioridade e ressaltaram que, nesse sentido, a análise de energia oferece perspectivas muito importantes que não deveriam ser ignoradas pelas populações do mundo nem por seus líderes.
A "Sustentabilidade" é, muito freqüentemente, um conceito enganoso cuja definição em termos de tempo e espaço pode variar de acordo com diferentes disciplinas e pontos de vista. A análise de energia oferece a possibilidade de quantificar os recursos biofísicos, detectar fatores limitantes e fornecer as bases de políticas públicas para as economias sustentáveis.
Os cientistas e economistas que participaram do seminário recomendam aos Governos do mundo uma definição rápida de marcos jurídicos para o "Patrimônio Natural", o que dará ao ambiente uma posição apropriada perante a lei.
3. Falhas da Economia Neoclássica
A Economia Neoclássica (ENC) não consegue lidar adequadamente com as questões relativas à externalidades, contribuições ambientais, reciclagem de lixo, e o valor dos recursos naturais. Além disso, falta-lhe uma base científica e teórica adequada para discutir intercâmbio internacional eqüitativo, compromissos entre gerações humanas, critérios para alocação de recursos entre as classes econômicas.
Os seguintes pontos foram discutidos a respeito da economia neoclássica:
É evidente que uma proposta alternativa de análise da atividade econômica humana é necessária, já que as tentativas
para atribuir valor econômico as externalidades usando a "vontade para pagar", "valoração contingente", ou métodos similares
não são convincentes.
Por outro lado, a análise de energia (em suas várias formas) pode ajudar ampliar o escopo da economia tradicional e permitir a
evolução de uma contabilidade simplesmente numérica e com um padrão único de valoração para um
método que utilize vários critérios e parâmetros. Não existe, ainda, uma alternativa desenvolvida plenamente,
porém foram conseguidos avanços importantes por vários investigadores que consideram como pressuposto inicial, não
dos desejos e preferências humanas, mas da realidade biofísica.
Espera-se que a avaliação biofísica possa ser fundida com alguns componentes úteis da economia neoclássica e clássica
para gerar um sistema de análise econômico-energético capaz de responder aos desafios contemporâneos.
Em resumo, a Economia Neoclássica é uma ferramenta inadequada para a análise de assuntos econômicos em larga escala. Mas, os responsáveis por tomar decisões (os políticos), a mídia e o público em geral, ainda não compreendem a seriedade dos graves questionamentos científicos sobre o paradigma da ENC.
4. Abordagens Complementares
As estimativas sobre a sustentabilidade devem ressaltar as características de renovação permanente dos sistemas econômicos-ecológicos, sua interdependência e sua dinâmica. Para isto são requeridos tanto os métodos numéricos quanto aqueles que consigam ponderar empiricamente as exigências das sociedades humanas para o desenvolvimento a longo prazo, considerando os diversos contextos ecológicos. Como as análises de energia geralmente conseguem avaliar em forma conjunta os sistemas econômico-ecológicos, elas constituem uma ferramenta de grande utilidade nesta pesquisa tão necessária.
A medição da capacidade biofísica dos sistemas da terra é fundamental para qualquer análise de energia do mundo futuro. A distribuição dos recursos da terra é inerente ao espaço. Os modelos geográficos juntamente com bases de dados referenciados espacialmente (como aqueles processados com de sistemas de informação geográfica e modelos para simulação em computador capazes de prever o comportamento de ecossistemas) constituem uma ferramenta poderosa para estimar a capacidade de suporte do mundo. Essa informação será, no devido tempo, muito útil para os planejadores globais, pois proporciona meios para prever, de acordo com o tempo e considerando uma variedade de escalas (regional, nacional, e mundial), a capacidade potencial da Terra para apoiar opções de uso de energia interrelacionadas, que incluem produção agrícola, absorção de carbono e poluentes, armazenamentos de água, e conservação da terra.
Modelar sistemas complexos por meio da energia e outros cálculos biofísicos é altamente recomendado. O estado da arte desta modelagem está melhorando continuamente, mas ainda há muitos assuntos básicos a serem solucionados para fazer dela uma ferramenta mais integrada e confiável. Já foram desenvolvidos muitos modelos e métodos de interpretação e, com certas modificações, poderiam servir aos propósitos de análise de energia.
ASSUNTOS METODOLÓGICOS
Foi discutida uma variedade de assuntos metodológicos, entre eles os seguintes:
QUESTÕES PARA PESQUISA
Vários projetos de pesquisa específicos foram discutidos pelos participantes
RESUMO
Em todo o seminário, enquanto se buscava um consenso entre abordagens divergentes, porém complementares, houve muito mais discussão do que propriamente consenso. Mostrou-se evidente a necessidade de se obter melhor compreensão do domínio ou área de aplicação das diversas linhas metodológicas apresentadas. Durante a discussão, foi dito que no evento realizado e no próximo Seminário de Avanços em Estudos de Energia, que acontecerá no ano 2000, será necessário esclarecer essas diferenças.
Alguns participantes do seminário chegaram a acordos de trabalhar em análises de forma conjunta (e isto deve começar imediatamente). Este é um primeiro passo no desenvolvimento das complementaridades necessárias para enfrentar os problemas multi-facetados que estão diante da humanidade.
Foram discutidos muitos assuntos relacionados às questões sociais e filosóficas mais do que à análise de energia, porque ficou evidente que isso era extremamente importante para os participantes.
Estes temas incluíam: procedimentos de contabilidade nacional que considerem a diminuição dos recursos e a degradação ambiental, além de questões relativas ao crescimento populacional, à capacidade de carga do globo terrestre, sustentabilidade, e à eqüidade inter e trans-geracional. Estes assuntos estavam em primeiro plano dentre as questões que os participantes sugeriram para serem analisadas pelas várias linhas metodológicas, para tornar as análises de energia, nos próximos anos, mais pertinentes e politicamente relevantes.
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Tradução do documento existente na Internet no endereço:
Segundo Seminário Bienal Internacional
"Avanços em Estudos de Energia"
"Materiais explorando, Constrangimento, e Estratégias".
Porto Venere, Itália, 23-27 de maio de 2000
Sérgio Ulgiati ulgiati@unisi.it
Comitê de Organização
http://www.chim.unisi.it/portovenere.html
Tradução: Laboratório de Engenharia Ecológica e Informática Aplicada
http://www.unicamp.br/fea/ortega/index.htm
Campinas, SP, 26 de janeiro de 2000