A professora Débora Cristina Jeffrey assumiu, nesta segunda-feira (06), a diretoria da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp e se tornou a primeira mulher negra a dirigir uma unidade de ensino, pesquisa e extensão na história da Universidade. A docente substitui o professor Renê Trentin Silveira e vai ocupar o cargo até 2028. O professor Guilherme do Val Toledo Prado substitui professor Alexandro Paixão na vaga de diretor associado da instituição.
Nascida em Campinas, Débora Jeffrey tem uma história de vida ligada à Universidade. A mãe, Maria de Lourdes, trabalhou por quase três décadas como auxiliar de enfermagem no Hospital das Clínicas. Débora, por sua vez, estudou na Unicamp e tornou-se professora da casa. Também atua como líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Política e Avaliação Educacional (Gepale) e como vice-presidente da região sudeste da Sociedade Brasileira de Educação Comparada (SBEC).
Débora Jeffrey foi aplaudida de pé ao assinar o termo de posse. Agradeceu familiares, amigos, colegas e fez referência especial à sua ialorixá, Aparecida de Iemanjá. E comemorou o que considera novos tempos. “Essa é a nova Unicamp. Quando olhamos para trás, uma sala como esta daqui, de hoje, não era assim. Estar aqui e marcar esse divisor de águas na universidade, como a primeira docente titular negra a assumir essa cadeira, é de grande responsabilidade”, afirmou. “Mas não estou falando sozinha. Estou falando de uma história do passado; estou falando agora do presente e de uma história futura. Porque estamos em construção.”
A cerimônia de posse contou com a presença de diversos coletivos negros — Núcleo de Consciência Negra da Unicamp, Aquilomba Fórum, Coletivo Arvoredo Negro, Unicamp Network —, além do Centro Acadêmico Marielle Franco e de acadêmicos indígenas. Contou ainda com representações de entidades como a Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Rede Brasil de Afro Empreendedores, do Conselho da Comunidade Negra e da Sociedade Brasileira de Educação Comparada.
Reconhecimento
Segundo a nova diretora, o ato é resultado de um processo de luta por reparação histórica, simbólico da resistência do povo negro neste país. “Sou porque somos. E esse sentimento é representativo”, disse Jeffrey antes de saudar um extenso conjunto de mulheres negras que se tornaram símbolo. “Salve as Marias, Rainha Nzinga, Dandara, Maria Firmina, Lélia Gonzales, Neusa Santos Souza, Beatriz Nascimento, Laudelina de Campos Melo, Luiza Barros, Marielle Franco. Salve Nilma Lino Gomes, Eunice Prudente, Petronilha Silva, Matilde Ribeiro, Benedita da Silva, Leci Brandão, Sueli Carneiro, Maria Valéria Barbosa, Monica Abranches Galindo, Gislaine Santos e tantas outras mulheres negras inspiradoras”, reforçou, sob aplausos da plateia.
Renê Trentin Silveira disse tratar-se de um momento representativo e lamentou a demora para que uma negra assumisse um cargo de direção. “Foram mais de 50 anos desde a fundação da Unicamp”, disse Silveira. “Mas, por outro lado, é bom que coube à FE inaugurar esse novo tempo, de mais diversidade e mais democracia em nossa universidade. Este é um momento memorável, representativo da força combativa do povo, do movimento negro e de todas as pessoas que com eles se solidarizam na luta pela superação do racismo institucional e estrutural e da desigualdade social no país.”
‘Processo de inclusão é irreversível‘
A professora Maria Luiza Moretti, coordenadora-geral da Unicamp, criticou a falta de equidade de gênero na Universidade e lembrou que, dos 24 núcleos de ensino, apenas quatro são dirigidos por mulheres. “Isso é muito pouco”, constatou. A Débora Jeffrey, recomendou que seja persistente. “Nunca duvide de sua força. Muitas vezes vão duvidar de você, mas tenha confiança.”
Já o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, disse que o processo de inclusão em desenvolvimento na Unicamp é irreversível. “Nossa universidade abraçou, definitivamente, a causa da inclusão. Temos 50% dos nossos alunos provenientes de escola pública, e 35% dos nossos alunos são pretos e pardos, representando a porcentagem existente no estado de São Paulo”, afirmou. “E, provavelmente, somos a universidade do país que mais investe em programas de inclusão e permanência. Ao adotar medidas como essas, não estamos apenas acertando contas com o passado, mas construindo pontes e perspectivas para o futuro. Isso é transformador.”