Estudantes se empolgam
com experiência na Unicamp

29/01/2013 - 16:00

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A intérprete e monitora Aryane Nogueira

A intérprete e monitora Aryane Nogueira

Alunos durante aula na Unicamp

Alunos durante aula na Unicamp

Mariana da Silva: fono ou enfermagem?

Mariana da Silva: fono ou enfermagem?

Tímidos, os estudantes do ensino médio que participam do Programa Ciência & Arte nas Férias (CAF) geralmente costumam falar pouco quando são abordados por jornalistas e fotógrafos, sobretudo nas primeiras semanas do projeto. Não foi o caso deste espontâneo e participativo grupo de cinco alunos da Escola Estadual Professor João Lourenço Rodrigues, do bairro Cambuí, em Campinas. Mas esta não é a única exceção do grupo de estudantes, que se entusiasma com a experiência na Universidade. 

“Estamos trabalhando com eles o ensino de português aliado a outras disciplinas. Na primeira semana, eles aprenderam geografia, na segunda semana, história e agora, biologia. Nós ensinamos os conteúdos destas disciplinas, mas também trabalhamos o português. Isso porque, no caso dos surdos, a primeira língua deles é a de sinais. Portanto, o português entra na escola como uma segunda língua, e seu aprendizado torna-se essencial”, explica a fonoaudióloga e pesquisadora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), Aryane dos Santos Nogueira. Além de intérprete, Aryane atua como monitora responsável pelos cinco estudantes. 

Ela recebe muitos elogios junto com as demais professoras, as graduandas de fonoaudiologia Vitoria Zarattin de Assis e Viviane Cristina Fuini. “As professoras são legais e atenciosas. Elas nos apresentam conteúdos mais específicos. Estou aprendendo, por exemplo, sobre biologia, sobre os animais e como evitar os problemas ambientais. Me sinto muito feliz, vejo que estou aumentando o meu conhecimento”, revela a colegial Wania Fernandes Machado.

Filipe Ferreira Furlan se surpreendeu com o “aprendizado aqui na Unicamp". "Eu estudei verbos e questões sobre a natureza, o meio ambiente, estou aprendendo muito”, elogia o estudante, complementando pelo colega Natálio Xavier Sousa Costa. “Essa experiência está abrindo a nossa mente, nós estamos conseguindo desenvolver nosso aprendizado, está sendo muito bom”.

Às quartas-feiras os estudantes aprofundam o conhecimento adquirido em sala de aula com visita às unidades de ensino e pesquisa. Eles já conheceram a Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), a Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) e os Institutos de Biologia (IB) e Artes (IA), conta a monitora Aryane Nogueira, que desenvolve seu doutorado sobre a leitura e produção de imagens no processo de letramento de estudantes surdos. 

“É a terceira semana do projeto. Os estudantes são extremamente interessados e curiosos. Está sendo ótimo trabalhar com eles”, enfatiza a pesquisadora. “Eles nos disseram que a experiência aqui é muito diferente do que acontece na escola. Lá, muitas vezes, eles ficam sem entender os conteúdos passados. E também acham que os assuntos são ensinados de forma muito simplificada. Aqui fica tudo claro, o conhecimento é aprofundado, eles nos revelam”, relata.

A experiência de aprendizado dos estudantes surdos na Unicamp tem sido possível graças ao projeto “Ensino de Português como L2 [segunda leitura] para surdos”, coordenado pela docente Ivani Rodrigues Silva. Ela atua no Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação "Prof. Dr. Gabriel O.S. Porto”, ligado à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

“O Cepre atua há 39 anos na área da surdez. Neste projeto foram incluídos quatro alunos de graduação em Letras e quatro de graduação em Fonoaudiologia, futuros profissionais que poderão vir a atuar com esse grupo de alunos na comunidade”, conta a professora.

Fonoaudiologia ou enfermagem?
A Unicamp sempre foi o sonho da estudante Vitória Fernandes Marin Fonseca. Sua colega Mariana Ferreira da Silva está gostando tanto da experiência do Ciência & Arte nas Férias que pretende fazer uma graduação na Universidade. Sua única dúvida é se segue o conselho da mãe ou opta pela sua escolha inicial.

“Eu pretendo continuar aqui na Unicamp. Vejo que a Universidade se preocupa com os direitos dos surdos, tem os professores, os interpretes e tem até professora surda. Isso ajuda no nosso desenvolvimento. Eu queria muito enfermagem, mas minha mãe tem me orientado a fazer pedagogia para trabalhar junto com os surdos porque eles necessitam de professores surdos para interagir com eles”, hesita.