A nova turma do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) foi recepcionada na manhã desta terça-feira pelo reitor da Unicamp, Fernando Costa, no auditório da Biblioteca Central "Cesar Lattes". "Vocês estão aqui por mérito próprio; são os melhores alunos das suas escolas e terão muitas oportunidades nesta Universidade, estudando com os melhores professores, isso em todas as áreas do conhecimento", disse Fernando Costa, que realçou aos 77 matriculados (novos alunos ainda serão chamados) que eles não estão num curso preparatório. "Vocês já são alunos da Unicamp e essa formação será fundamental na vida de cada um. No futuro, outros alunos optarão por estar no lugar de vocês. Portanto, aproveitem tudo o que a Unicamp tem a lhes oferecer e fiquem o máximo de tempo que puderem aqui. Parabéns às suas famílias e saibam que é um orgulho para nós termos alunos assim", afirmou.

O ProFIS – Programa de Formação Interdisciplinar Superior - é voltado aos estudantes que cursaram o ensino médio em escolas públicas de Campinas. A seleção de estudantes não é feita através do vestibular, mas com base nas notas do Enem. O currículo inclui disciplinas das áreas de ciências humanas, biológicas, exatas e tecnológicas, com o objetivo de oferecer aos alunos uma visão integrada do mundo contemporâneo. Os concluintes podem escolher, por mérito e sem vestibular, um curso de graduação da Unicamp. O programa acaba de receber o prêmio da Fundação Péter Murányi como a melhor experiência em educação do ano no Brasil.

Após o pronunciamento do reitor, o pró-reitor de Pós-Graduação Marcelo Knobel proferiu aula inaugural aos alunos do ProFIS, que iniciaram aula nesta data, esclarecendo detalhes do programa e da vida universitária. Marcelo optou por uma conversa com os jovens. Com uma rápida sondagem, descobriu que o conhecimento sobre o ProFIS adveio principalmente de passagens por programas como o Ciência & Arte nas Férias, PIC-Jr., Unicamp de Portas Abertas (UPA), Química em Ação e Patrulheiros. Passou a contar a sua experiência como ex-aluno do curso de graduação em Física na Unicamp, em 1986. "Eu não sabia o que esperar de uma Universidade. Na escola privada, sempre fui um dos melhores alunos, como vocês, alcançando, na maioria das vezes, notas 9 e 10. Chegando aqui, na primeira prova de Matemática, tirei 1,5. Levei um choque muito grande. O que eu entendia por estudar muito foi repensado e o primeiro semestre foi de muita cautela", contou Marcelo. Além do mais, acrescentou, não sabia onde ficavam os lugares. "De um nome, passei a ser um número."

O pró-reitor procurou ilustrar o assunto chamando os alunos a uma reflexão do que é a vida universitária. Segundo ele, além das novas exigências, o aluno se depara com drogas, bebidas e amizades que se aliam a conflitos familiares. "Tudo vira um caldeirão, que pode explodir ou dar uma boa sopa", brincou. "E é justamente nesse momento que se escolhe a carreira a ser seguida. Escolhi Física, um curso muito diferente do que havia aprendido na escola. Meu pai queria que eu fizesse Medicina, mas tive que decepcioná-lo."

Marcelo ainda lembrou das exigências de um curso como o de Medicina, o qual requer do candidato ao Vestibular Unicamp um ótimo desempenho e muita pressão, pois neste 2013 foram 127 candidatos concorrendo a apenas uma vaga. Em sua opinião, a vantagem de ter um curso de formação como o ProFIS apresenta aos seus participantes uma noção geral das disciplinas e apenas posteriormente leva a uma decisão mais madura ao final de dois anos de estudos. Em países como Estados Unidos e Hong Kong, por exemplo, instituiu-se uma formação genérica para depois os estudantes escolherem uma área definitivamente. "As universidades começaram a perceber que era preciso dar essa noção mais geral", expôs. "Com um panorama mais amplo, é mais fácil julgar cada possibilidade antes propriamente do ingresso. Somente 14% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos estão hoje nos bancos universitários. Muitos tentam o vestibular mais de uma vez. Assim sendo, o programa não os leva a uma perda de dois anos. Antes, amplia o seu background."

O palestrantre procurou incentivar os alunos, informando que o curso oferecerá uma infraestrutura de 500 pessoas que irão trabalhar em prol de sua formação. A formatura da segunda turma ocorreu na última sexta-feira e o programa já é modelar para outras universidades do país e estrangeiras. Mas por enquanto este é um programa piloto da cidade de Campinas.

Ele contou também que a evasão no ProFIS fica em torno de 18%, estando abaixo da média de evasão da Unicamp. "A regra é estudar, se dedicar, aproveitar a Universidade e não desistir. Será uma experiência fantástica e única. Daqui a 30 anos vocês, quem sabe, se lembrarão dessa aula. Espero que se deem bem, pois esta é a nossa aposta", aconselhou.

Entusiasmada com a fala do pró-reitor, Hevelyn Eduardo, aluna da Escola Estadual "Euvira de Pardo Meo Muraro", no Jardim Florence, relatou que sempre quis estudar na Unicamp. Soube do ProFIS através de um professor e depois ouviu uma palestra a respeito na CPFL, onde era patrulheira. Até aqui, pensa em fazer o curso de Artes Cênicas. Pretende prestar o próximo Vestibular. Se não passar, deve continuar cursando o ProFIS e está aberta a uma mudança de perspectiva no percurso. Comentou que a palestra foi muito esclarecedora e que está muito feliz porque já tem um rumo e um longo trabalho pela frente, salientou.