Louis Ignarro conta como foi
‘O caminho para Estocolmo’
05/04/2013 - 10:48
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“Hoje vou falar sobre a minha pesquisa, desde o começo quando nós descobrimos o óxido nítrico, todo o caminho percorrido e como esse trabalho nos levou a conquistar o Prêmio Nobel”, adiantou o farmacologista norte-americano Louis Joseph Ignarro, momentos antes da concorrida palestra “O caminho para Estocolmo”. O evento realizado na tarde de quinta-feira fez parte das comemorações dos 50 Anos da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
Louis Ignarro dividiu o Nobel de Medicina de 1998 com Ferid Murad, que esteve na FCM em outubro do ano passado, e com Robert F. Furchgott, falecido em 2011. A láurea se deveu à descoberta de que o óxido nítrico, antes considerado um poluente do ar, é uma molécula sinalizadora no sistema cardiovascular, com aplicações no tratamento de doenças cardíacas, impotência e mesmo câncer. A descoberta levou ao desenvolvimento de medicamentos que atuam na dilatação dos vasos sanguíneos, dentre eles o Viagra.
“É maravilhoso viajar pelo mundo, ver lugares que nunca vi e falar sobre o meu trabalho”, disse Ignarro, que depois do prêmio passou a atuar como consultor de universidades e órgãos governamentais. “Participo de discussões sobre a graduação dos estudantes em medicina, mostrando como fazemos nos Estados Unidos e como eu penso que a universidade de um país, em particular, deve estruturar a educação para torná-la prioridade máxima. Eventualmente, encaminhamos bons pesquisadores e boas pesquisas para boas publicações.”
Professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Louis Ignarro sabe que a razão para tantos convites é que cada um dos países que visita deseja saber como ganhar um Prêmio Nobel. “Não tenho uma solução mágica, mas posso dar algumas ideias sobre isso”, afirmou, sem se esquivar de comentar sobre as chances de um brasileiro laureado. “No meu entendimento, ainda não há um Nobel em fisiologia, medicina ou química no Brasil. Mas acho que no futuro haverá. O mais importante é que o país proveja a motivação e a inovação junto aos jovens estudantes.”
A esse respeito, o farmacologista acrescentou que teve a sorte de receber educação e de fazer pesquisa nos EUA, que dão particular atenção aos jovens que estão desenvolvendo ciência. “O governo financia aquele que está fazendo pesquisa, não é preciso se preocupar com falta de dinheiro, unicamente com seus experimentos. É quando jovem que surgem as ideias que vão se transformar em futuras e boas pesquisas. Isso tudo começa nos primeiros anos escolares, quando as ciências são apresentadas, com bons professores e visitas a laboratórios.”
Ainda sobre as chances de o Brasil conquistar um Prêmio Nobel, Ignarro ponderou que o país deve continuar melhorando a qualidade da educação dos jovens cientistas, como já vem fazendo, e que cabe ao governo investir pesados recursos em centros de pesquisa. “De outro modo, como o cientista fará um trabalho que irá resultar num Nobel? É preciso trabalhar para conquistar o prêmio e trabalhar custa dinheiro, não dá para fazer isso de graça em ciências – talvez seja possível em literatura, mas não em ciências.”
Louis Ignarro veio à Unicamp a convite do professor Gilberto De Nucci, do Departamento de Farmacologia da FCM, e também para participar do Congresso de Cardiologia em Florianópolis, no final de semana. Entretanto, ele não vê possibilidade de voltar com acordos de cooperação em nível institucional. “Há dez anos teria sido mais simples, mas hoje estou me aposentando oficialmente e não tenho mais laboratório na UCLA, parei de fazer pesquisa básica. Ao invés disso, tenho ajudado pessoas de outras universidades como consultor, o que pode ser uma oportunidade para mim no Brasil. Se alguém se interessar, ficarei feliz em contribuir com minhas ideias.”