A ciência a serviço
do futebol regional

25/04/2013 - 15:20

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A professora Denise Vaz de Macedo

A professora Denise Vaz de Macedo

O professor Laércio Vendite

O professor Laércio Vendite

Cena do jogo Ponte Preta x Palmeiras

Cena do jogo Ponte Preta x Palmeiras

Cena do jogo Ponte Preta x São Paulo

Cena do jogo Ponte Preta x São Paulo

Quando os jogos das quartas de final do Campeonato Paulista tiverem início no próximo final de semana, a Unicamp também estará em campo, pelo menos no plano científico. Dos oito clubes envolvidos nesta fase da competição, dois deles, Ponte Preta e Mogi Mirim, ambos da região de Campinas, contam com o apoio de pesquisas desenvolvidas por docentes da Universidade. Dados gerados por estudos nas áreas da estatística e da bioquímica do exercício são usados pelas agremiações para orientar treinamentos táticos, técnicos e físicos. O objetivo é melhorar o desempenho dos jogadores e, claro, vencer as partidas.

A aplicação do conhecimento científico em favor do esporte, mais especificamente do futebol, não é algo novo na vida do professor Laércio Vendite, do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC). Desde 1996 ele tem realizado um trabalho colaborativo na Ponte Preta, relacionado à área da Estatística no Esporte. Uma das missões do docente é gerar informações que, cruzadas com outros dados, possam aprimorar a performance do time. “A Ponte é hoje um clube muito bem estruturado. A Macaca tem departamentos – Médico, de Fisiologia, de Estatística etc – que conversam entre si. Ao darmos tratamento estatístico aos elementos disponíveis, nós temos como prognosticar, por exemplo, qual a chance de um atleta se contundir daqui a três jogos”, afirma.

Além disso, o grupo coordenado por Vendite também observa os jogos e coleta dados sobre o desempenho dos atletas. Assim, após as partidas, a comissão técnica tem à sua disposição números relativos à distância percorrida, ao esforço despendido e à região do campo mais frequentada pelos jogadores. “Nós também consideramos outros tipos de variáveis, como qual lado do campo é mais usado pela equipe para atacar. Essa análise, obviamente, também é feita em relação ao adversário. De posse dessas informações, a comissão técnica tem como definir um treinamento ou um esquema tático mais adequado a cada situação”, explica Vendite.

Com base na experiência desenvolvida na Ponte, Vendite concebeu um sistema que se tornou popular graças ao técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão. Dito de forma simplificada, o professor da Unicamp estabeleceu um planejamento de minimetas a serem cumpridas ao longo de uma dada competição. Assim, tudo é pensando de modo que o time conquiste, por exemplo, ao menos cinco pontos a cada três jogos. “Na primeira vez que utilizamos esse método, os resultados foram muito bons. Por isso, ele tem sido empregado até hoje”, conta o docente.

Todo início de campeonato ou turno, Vendite faz uma palestra aos atletas, para que eles compreendam bem os objetivos a serem alcançados. “O que eu digo a eles é o seguinte. Se uma pessoa vai ao endocrinologista e ouve que precisa eliminar 40 quilos em seis meses, é bem possível que ela se assuste. Entretanto, se o médico disser que ela precisa eliminar dois quilos por semana, isso fica mais fácil de ser absorvido e conquistado, pois gera menos expectativas. Assim, o foco da Ponte é em cada partida. No caso, o nosso próximo adversário será o Corinthians, domingo (28), em Campinas. Penso que o time tem todas as condições de vencer e avançar na luta pelo título”, previu Vendite, baseado tanto no trabalho realizado quanto na paixão pelo clube.

GPS
No Mogi Mirim, o aporte científico é oferecido pelo Laboratório de Bioquímica do Exercício (Labex), ligado ao Instituto de Biologia (IB). No clube, o trabalho é coordenado pela professora Denise Vaz de Macedo, em colaboração com o fisiologista Ricardo Fernandes Melo, que faz mestrado na Universidade. “Em parceria com a empresa Systware, nós acoplamos um GPS ao uniforme dos atletas e registramos toda a movimentação deles durante os treinos. Ao final das atividades, nós obtemos, de forma instantânea, informações sobre distância percorrida, velocidade média e quanto cada jogador correu ou andou, entre outros aspectos. Esses dados são posteriormente individualizados, e servem para a comissão técnica definir quem precisa treinar e quem precisa descansar, por exemplo, de modo a otimizar a performance dos atletas”, detalha.

Conforme a docente do IB, uma prova de que o trabalho vem dando certo foi a campanha feita pelo Mogi Mirim na fase de classificação do Campeonato Paulista. Ao terminar na segunda colocação, a equipe ganhou o direito de disputar a única partida das quartas de final em seus domínios, contra o Botafogo, neste sábado (27). “Minha impressão pessoal é de que o time será campeão”, arrisca Denise. Tanto ela quanto Vendite acreditam que o uso do conhecimento científico e da tecnologia pelo esporte é irreversível. Tais recursos, observam, colaboram para incrementar o rendimento dos atletas, sem interferir na habilidade ou genialidade deles.

“O Neymar, que é um gênio, é um bom exemplo disso. Basta observá-lo para notar que ele precisa de um pouco mais de massa muscular. Quando isso acontecer, ele certamente terá ainda mais condições de executar com brilhantismo as suas jogadas”, compara a professora da Unicamp. Segundo ela, trabalho semelhante ao executado no Mogi Mirim também é feito na Penapolense, que disputa igualmente as quartas de final do Paulistão, mas não pertence à região de Campinas. Lá, as atividades são acompanhadas mais de perto pelo preparador físico do clube, Renato Buscariolli de Oliveira, que é orientando de doutorado de Denise.

Comentários

Parabéns pela reportagem, também parabéns aos professores e aos respectivos clubes que oportunizaram estas relações. Sou do curso de Ciências do Esporte e pelo que eu li, penso e digo, cuidado, temos de ter informações sobre os jogos e treinamentos, isto é fato, porém temos de ter o conhecimento adequado para usá-las e torná-las fundamentos de tomadas de decisão. O processo de treinamento, que na minha opinião, o aspecto mais efetivo para o melhor desempenho de uma equipe, talvez apenas depois da coesão de grupo que é o ponto de partida, deve ser definido por treinadores de futebol juntamente com a comissão técnica, e esta deve ter a formação e atualização necessária para saberem o que fazer. Por fim, defendo esta relação Universidade-Clube numa perspectiva sustentável.