Mayana Zatz pede cautela
quanto ao genoma pessoal

22/05/2013 - 16:21

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Paulo Arruda: curso vai se tornar anual

Paulo Arruda: curso vai se tornar anual

Gláucia Pastore e Edi Sartorato recebem Mayana Zatz

Gláucia Pastore e Edi Sartorato recebem Mayana Zatz

“O estudo do genoma pessoal é o futuro da medicina. No entanto, é preciso ver como e para quê esse estudo vai ser usado, tema que vou abordar na minha palestra”, adiantou a professora Mayana Zatz, antes de discorrer sobre “Genoma Pessoal” na Unicamp, nesta quarta-feira de manhã. Figurando entre os experts em genética médica e humana do país, a coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP esteve entre os convidados do curso internacional “Tópicos Avançados em Genômica e Biologia Celular”, que vai até sexta-feira, no Centro de Convenções. Mais sobre o curso

“Em pessoas normais, que queiram estudar seu genoma apenas por recreação, vamos encontrar inúmeras alterações que não saberemos interpretar. Por isso, o objetivo deve ser realmente para diagnóstico e prevenção de doenças, em famílias de risco, que já tenham registro de doença genética. Ou então para a área da farmacogenômica, em que se busca uma resposta individual a drogas – área que também vai revolucionar a medicina. É preciso saber quando é importante estudar seu genoma, caso contrário, podemos trazer mais prejuízos do que benefícios”, reiterou a pesquisadora.

Vídeos produzidos pela TV Unicamp:
Mayana
Paulo Arruda
Edi Sartorato

Nesses dias em que a megaestrela Angelina Jolie levantou a polêmica em torno do sequenciamento individual do DNA, revelando ao mundo que recorreu à tecnologia e optou pela retirada dos seios ao ver identificada uma mudança genética hereditária, Mariana Zatz não se omitiu. “Defendo o direito de todos de decidir. Ela tem uma história familiar bastante forte e teve condições de decidir. E divulgar o que fez, talvez tenha sido bom para alertar outras mulheres em situação semelhante.”

Mayana Zatz observa que o esforço dos cientistas para o sequenciamento de todo o genoma humano custou 3 bilhões de dólares, e que agora isso pode ser feito por pouco mais de mil dólares. “O importante já não é a tecnologia e sim a interpretação do genoma, o que apenas começamos a aprender. Uma das questões é entender por que pessoas com a mesma mutação podem ter quadros clínicos completamente diferentes. Descobrimos novos genes responsáveis por doenças, mas ainda temos um longo caminho a percorrer, pois existem 20 mil doenças genéticas, algumas causadas por mutações simples e outras por alteração de várias mutações. É esse o nosso caminho.”

Na palestra, a especialista também destacou os seus temores, como da realização de testes em crianças e do acesso aos dados de genomas individuais. “A primeira preocupação é saber quem deve ser testado. Sou totalmente contra a se testar pessoas normais, assintomáticas, principalmente crianças, com o propósito de identificar doenças de início tardio para formular um tratamento. Outra preocupação, por exemplo, é se as empresas de seguros de saúde vão ter acesso aos nossos dados genômicos, até porque não é preciso tirar amostra de sangue para ter o genoma analisado, já que deixamos o DNA por todo lado. Tendo acesso a informações sobre riscos e doenças genéticas que podemos adquirir mais tarde, as empresas podem cobrar muito mais.”

Por outro lado, como exemplo de aplicação importante deste conhecimento, Mayana Zatz aponta o Projeto 80+, desenvolvido pelo centro que coordena na USP, em que são coletados genomas de pessoas saudáveis com mais de 80 anos pensando em ajudar as gerações mais novas a viver mais e melhor no futuro. “Esses genomas serão comparados com os quadros clínicos de pessoas acima de 60 anos que vêm sendo acompanhadas desde 2000, algumas saudáveis, outras nem tanto. Um objetivo é entender o que determina o envelhecimento saudável; o outro é obter uma base de dados da nossa população: se uma alteração na pessoa mais jovem e saudável for encontrada também nos 80+, saberemos que ela não é importante”, explica a pesquisadora, que fornece dois endereços para os interessados em serem voluntários: 80mais@gmail.com ou https://tinyurl.com/80mais

Tópicos avançados

O curso internacional “Tópicos Avançados em Genômica e Biologia Celular” é realizado em parceira entre o Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) e o Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho (LaCTAD), com apoio da Fapesp. “O evento segue exatamente a linha da notícia bombástica da Angelina Jolie e inúmeros pesquisadores de alto nível, brasileiros e estrangeiros, estarão discutindo essa questão com cientistas e alunos. Ele vai se tornar anual e temos outros em mente para consolidar o prestígio da Unicamp na área de genômica e bioinformática”,  afirmou o professor Paulo Arruda, coordenador geral do curso.

A professora Gláucia Pastore, pró-reitora de Pesquisa, ressaltou a importância de um evento para discutir a base molecular da doença e como a genômica pode esclarecer seus mecanismos e acelerar as possibilidades de cura. “Uma das discussões de hoje, por exemplo, é o mal de Alzheimer, que ainda necessita de um fundamento adequado para explicá-la”, disse, em referência à palestra de abertura de Lawrence Goldstein, da Universidade da Califórnia (San Diego), sobre o uso de células-tronco contra a doença.