Alvaro Bianchi lança o
livro “Arqueomarxismo”
29/05/2013 - 14:26
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O professor do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e diretor do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp, Alvaro Bianchi, acaba de lançar o livro intitulado Arqueomarxismo – Comentários sobre o pensamento socialista, pela editora Alameda. A obra reúne ensaios escritos por ele ao longo de dez anos sobre diferentes aspectos de vários autores. “O objetivo desses ensaios nunca foi submeter esses autores a uma exegese ou a uma enquete crítica e sim comentar certos aspectos de suas obras, esclarecendo alguns pontos que considerava que mereciam mais atenção”, explica o docente. Na entrevista que segue, concedida por e-mail dos Estados Unidos, onde desenvolve pesquisa acerca da história da ciência política daquele país na Columbia University, Bianchi fala sobre outros aspectos da obra e manifesta o desejo de que ela seja lida por “aqueles que querem entender esses autores, mas também por quem quer mudar o mundo”.
Portal Unicamp - Qual foi a motivação para a elaboração do livro?
Alvaro Biachi - O livro reúne ensaios escritos ao longo de quase dez anos sobre diferentes aspectos de vários autores. O objetivo desses ensaios nunca foi submeter esses autores a uma exegese ou a uma enquete crítica e sim comentar certos aspectos de suas obras esclarecendo alguns pontos que considerava que mereciam mais atenção. A ideia de comentário com a qual trabalho ajuda a esclarecer esse empreendimento. A tomei emprestada de Walter Benjamin o qual ao escrever comentários sobre a poesia de Bertold Brecht esclareceu que o comentário se distinguia da avaliação por preocupar-se apenas com a “beleza e o conteúdo positivo do texto”. Foi o que procurei fazer. Preocupar-me mais em expor a força do argumento de alguns autores de que submetê-los à crítica.
Portal - O que vem a ser o “arqueomarxismo” do qual o senhor trata no livro?
Alvaro - Há algum tempo me sinto desconfortável com a ideia de um marxismo “clássico”. A palavra “clássico” já pressupõe que um autor ou uma obra encontram-se cristalizados no passado, que são parte de um cânone, ou que já se transformaram em modelos a serem imitados. Não gosto de nenhuma dessas conotações. Mas o que mais me incomodava era o caráter conservador da ideia de clássico. Vale lembrar que em latim, a palavra “classis” indicava uma das cinco divisões do povo romano promovidas por Servius Tullius. Segundo Aulus Gellius, escritor do século 2 a.C., o vocábulo “classici” designava aqueles homens que possuíam uma renda elevada, enquanto que aqueles que não possuíam tal renda eram “infra class em”, ou seja, encontravam abaixo dos “classici”. O mesmo Aulus Gellius parece ter sido o primeiro na história a fazer uso da expressão “classicus” para referir-se aos escritores, falando do “classicus assiduusque scriptor, non proletarius”, que em uma tradução livre quer dizer escritor clássico e abastado, não proletário. Enfim, essa era uma carga pesada demais para um conceito e eu não queria assumi-la. Por isso usei o neologismo arqueomarxismo, para referir-me aos primeiros marxistas, os precursores que desenvolveram e difundiram o pensamento dos fundadores.
Portal - No livro, o senhor vai às obras de vários autores. Qual o objetivo dessas “visitas”?
Alvaro - Como disse, o objetivo é comentar. Mas esse comentário não é inocente. O comentário permite tomar partido, ou seja, escolher um lado. De um modo geral o que orienta este livro é uma contestação à ideia de que o marxismo é uma teoria ultrapassada, afirmação essa que perdeu muito de sua força com a crise econômica que teve início em 2007, bem como uma contestação a um certo marxismo que se converteu em ideologia de Estado ou que pretende sê-lo e que por essa razão está sempre atrás de um grande timoneiro, um comandante, ou um guia genial. Eu havia publicado em 2008 um livro sobre o pensamento de Antonio Gramsci que contrariava algumas teses muito difundidas e que provocou alguma discussão no Brasil. De certo modo o livro Arqueomarxismo fornece o pano de fundo daquele anterior deixando claro qual é meu lado nessa discussão.
Portal - A que público o livro de destina?
Alvaro - Eu espero que o livro seja lido por aqueles que querem entender esses autores, mas também por quem quer mudar o mundo. O pensamento marxista e crítico tem se revigorado em nosso país nas últimas décadas. Há revistas, conferências, seminários e colóquios especializados. Os pesquisadores dedicados ao estudo desse pensamento publicam livros, artigos e circulam internacionalmente. Mas ainda há uma distância entre esse pensamento e os movimentos sociais capazes de mudar o status quo. Por isso a ambição de conversar com esses dois públicos.
Portal - Tem acompanhado a repercussão do livro no Brasil?
Alvaro - Eu estou agora na Columbia University, em New York, desenvolvendo uma pesquisa sobre a história da ciência política nos Estados Unidos, um tema que vem me interessando cada vez mais. Quando o livro foi lançado eu já me encontrava aqui. Mas apesar da distância tenho acompanhado a repercussão do livro e algumas discussões que ele tem gerado e espero poder participar diretamente dessas discussões quando retornar ao Brasil em 2014.
Portal - A quem o senhor dedicou o livro?
Alvaro - Não dediquei este livro a ninguém em especial. Mas gostaria de lembrar aqui o professor do Departamento de Sociologia da Unicamp, Edmundo Fernandes Dias, falecido recentemente. Edmundo foi uma das forças mais criativas do pensamento marxista na Unicamp e, certamente, uma influência importantíssima para algumas das ideias aqui presentes.
Serviço
Título: Arqueomarxismo– Comentários sobre o pensamento socialista
Autor: Alvaro Bianchi
Editora: Alameda
Número de páginas: 228
Preço sugerido: R$ 40,00