Vestibular dobra pontuação
do PAAIS e avança inclusão

13/06/2013 - 10:06

Luís Alberto Magna, pró-reitor de graduação da Unicamp

Para muitos estudantes do ensino médio de escolas da rede pública ingressar em uma conceituada universidade pública é um sonho. O problema é quando o sonho começa a se transformar em autoexclusão. Poderia ter sido o caso de Juliana Portes Thiago. Mas a atual estudante do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp contrariou o desestímulo.

Juliana ficou muitos anos sem estudar depois que se formou no ensino médio. Precisava trabalhar. “Sempre achei que minha maior dificuldade seria acompanhar o curso, não academicamente, mas devido a questões financeiras. Isso por conta do deslocamento da minha cidade Limeira para cá, a desistência do trabalho lá para fazer aqui um curso integral”, conta Juliana. Mesmo diante do contexto nada favorável, a estudante decidiu encarar o desafio do vestibular e ingressou no curso de Ciências Sociais da Unicamp, em 2007. Formou-se bacharel em Antropologia, em 2011 e atualmente está concluindo o bacharelado em Sociologia. “Imaginei que o ingresso no curso seria lento, já que fiquei muito tempo sem estudar, mas consegui a aprovação já na primeira tentativa!”, comemora a estudante.

Há vários anos, a Unicamp se dedica a entender o fenômeno da autoexclusão e criar ações para diminuí-lo, estimulando o ingresso e a permanência de egressos de escolas públicas em seus cursos de graduação. Com a recente aprovação peloJuliana Portes Thiago Conselho Universitário (Consu), órgão máximo da Unicamp, de ações visando à inclusão social nos cursos de graduação, a universidade deu um passo adiante em busca de uma distribuição sociocultural e étnica entre seus estudantes próxima à da sociedade brasileira. Dentre as ações, está o aumento do bônus do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social da Unicamp (PAAIS). “Promover a inclusão social significa que queremos uma universidade mais sintonizada com os grandes interesses nacionais”, afirma o pró-reitor de graduação da Unicamp, Luís Alberto Magna.

Criado em 2004, o PAAIS bonifica, no vestibular, estudantes que cursaram o ensino médio integralmente em escolas públicas. Com a alteração aprovada pelo Consu, a pontuação será dobrada já a partir do próximo vestibular da Unicamp, cujas inscrições começam no dia 19 de agosto. Estudantes de escolas públicas terão direito a 60 pontos (antes eram 30) a mais na nota final do vestibular. Já os estudantes de escolas públicas autodeclarados pretos, pardos e indígenas (de acordo com a nomenclatura utilizada pelo IBGE) receberão, ao final da segunda fase, além dos 60 pontos, outros 20 (eram 10), pela cor/etnia, totalizando 80 pontos.

O objetivo primeiro é atrair estudantes egressos de escolas da rede pública para a Unicamp. “As ações pretendem ser abrangentes. Vamos começar antes mesmo do ingresso, estimulando os alunos de escolas da rede pública a prestarem o Vestibular Nacional Unicamp e desmistificando a ideia de que entrar na universidade é algo impossível para quem cursa escola pública”, explica Magna. De acordo com o pró-reitor, as diretrizes aprovadas pelo Consu sugerem, também, um planejamento estratégico para garantir a permanência de estudantes com necessidades de ordem financeira, já que esse é o perfil socioeconômico majoritário entre egressos da rede pública. “O aumento dos pontos do PAAIS é apenas uma das três frentes em que a Unicamp vai atuar na promoção da inclusão social, sendo: estímulo e motivação à procura pela Universidade, ação no vestibular e ações posteriores de auxílio e apoio à permanência”. As três linhas de atuação serão propostas e avaliadas por meio de um Grupo de Trabalho formado exclusivamente para esse fim, composto por integrantes de várias áreas da Universidade e presidido pelo pró-reitor de graduação. “Essa medida de dobrar a pontuação do PAAIS para estudantes de escolas públicas não se extingue em si mesma. Vamos continuar analisando, para refinar as propostas de inclusão social”, completa Magna.

O pró-reitor de graduação da Unicamp ressalta uma questão fundamental na discussão de políticas de inclusão. De acordo com Magna, um estudo recente da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) demonstrou que não há diferença de desempenho acadêmico entre alunos egressos de escolas públicas e os demais. O estudo analisou ingressantes entre os anos de 2005 e 2008, acompanhando quatro anos de vida acadêmica. Com notas inferiores no vestibular, esses estudantes conseguiram melhorar seu desempenho ao igualar as notas obtidas ao longo do curso na Unicamp com as dos demais alunos. “O interessante é que se existem dificuldades para acompanhar o curso, elas são superadas, inclusive sem necessidade de reforço. O que pode indicar que as deficiências de ensino prévias não são tão grandes a ponto de comprometer o rendimento acadêmico”, comenta Magna. 

O PAAIS
A participação no PAAIS é facultativa e os candidatos devem indicá-la no próprio formulário de inscrição para o vestibular. É importante salientar que uma vez aprovado, o estudante que optou em receber os pontos do PAAIS deverá comprovar sua condição de egresso da rede pública de ensino por meio da documentação exigida no momento da matrícula. Em relação à cor/etnia, não há comprovação, pois a Unicamp adota o princípio da autodeclaração.

Os pontos do PAAIS não podem ser usados pelos participantes do programa na primeira fase do vestibular. É preciso ser aprovado para a segunda fase, fazer todas as provas e, só então, acrescentar o bônus do PAAIS (de 60 ou 80 pontos) à nota final obtida.

O pré-requisito para participar do programa é ter cursado os três anos do ensino médio em escolas mantidas pelos governos municipal, estadual ou federal. Bolsistas em instituições privadas não podem beneficiar-se. Candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que não tenham feito o ensino médio público também não podem receber os pontos do Programa.

Projeções
Ao dobrar a pontuação dada aos candidatos de escolas públicas, a Unicamp espera um aumento do número de matriculados com esse perfil já no próximo ano. Este ano, o Vestibular Unicamp registrou 28% dos matriculados oriundos da rede pública de ensino. De acordo com as projeções realizadas, esse valor passaria para 36,5% com o aumento do bônus. A medida deve ter impacto, também, entre os candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas, que representam 8,3% dos aprovados em 2013 e passariam para 9%, segundo os estudos.

Comentários

A capacidade intelectual não está atrelada ao simples ato de decorar fatos e sim de interpreta-los...
Por falta de oportunidades Einstein ia desistir de seus sonhos, mas felizmente surgirá uma luz ao fim do túnel, o que seu pai infelizmente não pode presenciar o mundo testemunhou...
O que nos falta é oportunidade, pois sabemos que somos capazes de retribuir para mundo o que "mundo" nos negou...
Que esse ato se espalhe e juntos alcançaremos o sucesso! Através da inclusão, da amizade e da dedicação, passaremos de meros espectadores para protagonistas da nova história que outrora era mera utopia ...
Obrigado...

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evolutioncontato@yahoo.com.br

Parabéns Unicamp!!! Realmente é um sonho entrar em uma faculdade tão respeitada como é a Unicamp. Graças a Deus, e ao PAAIS, esse sonho pode ser tornar realidade, no caso, a minha realidade. Obrigado e parabéns!!!

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emersonsph@hotmail.com

Embora que tardio, ações como estas são de extrema importância para que cada dia possamos estreitar a distância entre o abismo criado entre os alunos oriundos de escolas públicas e a Universidade Pública...Parabén a UNICAMP

Parabéns Unicamp e ao PAAIS, se Deus permitir farei parte desta tão conceituada Universidade creio que este sonho tornará realidade em minha vida.

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regianeifsp@outlook.com

Admiro a UNICAMP por mais essa iniciativa, que acaba tendo resultados melhores que simples reservas de vagas, porém, olhando para as estatísticas, percebo que ainda é muito baixa a porcentagem de candidatos de escolas públicas inscritos e até mesmo matriculados em anos anteriores. Acredito que a UNICAMP deve melhorar ainda mais programas de incentivo e inclusão como o PAAIS, pois, apesar de minimizar um pouco a situação, ainda continua evidente a diferença.
Como estudante de escola pública, posso dizer que o ensino que é disponibilizado, não supre sequer metade do que é cobrado no vestibular da UNICAMP e o paradigma de dificuldade e impossível foi o que mais presenciei.
Apesar de tudo, me inscrevi, me preparei estudando por conta e agora aguardo ansiosamente o resultado da primeira fase.

Email: 
valmirmassoni@hotmail.com

Por causa de 20 pontos eu fiquei de fora na segunda fase do vestibular de 2014, talvez tenha perdido vaga pra algum aluno de escola pública e de cursinho, mas este ano estarei mais seguro nesta nova regra. Parabénss

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lukssky@yahoo.com.br

Não há dúvidas que esse é um grande incentivo a nós que viemos de escolas públicas, afinal, a diferença de ensino, muitas vezes devido ao pouco tempo e pouca quantidade de aulas em relação à rede particular, é um fator decisivo na hora do vestibular. Assim como todos, desejo minha tão sonhada vaga na Unicamp e pretendo batalhar por ela ate que eu possa conquista-la. Obrigada por mais esse incentivo, Unicamp!

Email: 
isabela.fguarnieri@gmail.com