Mais próximos do sonho
31/08/2013 - 15:21
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Eles são amigos desde a infância. Eles têm o mesmo sobrenome, moram na mesma cidade, estudam na mesma escola estadual e têm o mesmo sonho: cursar uma universidade pública. Os três amigos de Monte Santo de Minas, em Minas Gerais – uma pequena cidade com 23 mil habitantes – estiveram visitando a UPA neste sábado e a notícia do aumento da pontuação oferecida pelo Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) trouxe uma nova esperança para os jovens. Para o próximo vestibular a bonificação passa de 30 para 60 pontos na nota final dos candidatos que tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas públicas, e mais de 20 pontos (antes eram 10) para aqueles que se autodeclararem pretos, pardos e indígenas.
Robert Igor Reis de Souza, Jeferson Nunes de Souza, Guilherme Teodoro Souza estão no terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Américo de Paiva e pretendem prestar o Vestibular da Unicamp 2014, para os cursos de Química e Artes Cênicas, respectivamente. O outro amigo, Elivelton de Paula Rodrigues também compartilha do mesmo sonho, mas tem aspirações de cursar Administração, o novo curso da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), que funciona no campus de Limeira.
Os quatro jovens fazem parte do grande contingente de alunos de escolas públicas que visitaram a UPA neste sábado em busca de informações e dicas de como poderiam transpor a “batalha” por uma vaga na universidade pública. Em média, 40% das escolas inscritas são instituições públicas. Segundo o coordenador-geral da Universidade, professor Alvaro Crósta, a programação foi incrementada, justamente, para oferecer o maior número de informações possíveis a esse público. De acordo com Crósta, as palestras enfocam fortemente as ações e os programas de inclusão social que a Unicamp tem anunciado nos últimos meses. “Queremos que o aluno de escola pública venha, anualmente, para o evento e tome conhecimento dos detalhes que facilitam o seu ingresso, pois muitas vezes a informação não chega até eles”, destaca. Para o reitor da Unicamp José Tadeu Jorge outro ponto de atenção da Universidade é com relação à política de permanência destes estudantes vindos de escola pública. “A proposta orçamentária de 2014 já prevê um aumento significativo do número de bolsas a fim de oferecer condições para que o estudante menos favorecido permaneça na universidade. Sabemos que esses jovens se beneficiarão deste tipo política e, por isso, queremos investir nestas ações”, afirma Tadeu Jorge.
Enquanto a Universidade se organiza para que, em 2017, 50% de seus estudantes sejam oriundos de escolas públicas, do outro lado, os jovens se preparam para a acirrada disputa de uma das vagas dos cursos. Os quatro amigos de Monte Santo de Minas, por exemplo, tentam aproveitar ao máximo os momentos de folga para estudarem para o exame. Todos eles trabalham e estudam no período noturno. Dois deles, inclusive, trabalham aos domingos, pois precisam contribuir com as despesas de casa. “Sabemos que teremos um longo percurso pela frente e, quem sabe, não esperamos um ano depois de formados para prestar o vestibular”, avaliam, conscientes de que querem ser os primeiros na família a cursar o ensino superior.
Com diferentes histórias de vida, outros quatro jovens de São João Nepomuceno, também em Minas Gerais, se esforçaram para vir à Unicamp. Viajaram nove horas para conhecer os cursos de Educação Física e de Química. Alan Hércules de Oliveira, Otávio de Araújo Costa, Dayroney Eduardo Matias da Silva e Bruno Benetti Lima, são estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Gabriel Arcanjo de Mendonça. Estavam acompanhados pelo professor de Geografia e vice-diretor da escola Leonardo Rezende Faria. O professor acredita que a discussão da inclusão na universidade pública deve ser feita em âmbito nacional. “Acho justo, mas o principal aspecto é que revela a fragilidade do ensino público”, acredita.
Leonardo Faria teve em sua história períodos em que cursou escola pública e escola particular e, por isso, compreende todas as dificuldades enfrentadas pelos alunos hoje. “A qualidade do ensino fundamental e médio em instituições públicas tendem a melhorar com as políticas de inclusão. Os alunos terão mais estímulo e vontade de transpor as barreiras”, define.
Guerreiros
Márcio Bretariol é mestrando no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp e professor da ETEC Rosa Perrone Scavone, em Itatiba. Neste sábado, ele esteve na Universidade não para se dedicar ao curso de pós-graduação que frequenta, mas sim para uma missão nobre: acompanhar seus alunos para uma visita à UPA. Bretariol teve sua formação completa em escola pública e hoje faz questão de também lecionar em uma escola pública de sua cidade natal. Na visão de seu colega Cristiano Oliveira, Márcio Bretariol é um guerreiro. “Para estudar em uma escola pública e conseguir uma vaga em uma universidade pública precisa ser um guerreiro. São muitas dificuldades e provações”, atesta. Em sala de aula, tanto Márcio como Cristiano convive com várias histórias de vida. “Temos tido muitos resultados positivos e o estímulo aos alunos deve ser constante”, comenta. Para os professores, o cenário que se estabeleceu ao longo dos anos em que o estudante de escola particular é quem tem mais chances em uma universidade pública não corresponde ao ‘curso natural’ das coisas. O objetivo deve ser valorizar o ensino público”, defende Cristiano Oliveira.
Com o aumento da pontuação oferecida pelo PAAIS, o sonho de frequentar uma universidade pública não está tão longe para George Luiz de Freitas, de 17 anos, morador de Ouro Fino, Minas Gerais. Ele está no terceiro ano de magistério na Escola Estadual Francisco Ribeiro da Fonseca e deseja ser ator. “A Unicamp é a única universidade que oferece a qualificação que quero e preciso no momento. Estou certo de que vou conseguir uma boa bagagem para o meu futuro”, declara.
George Freitas divide o seu tempo estudando, trabalhando como monitor em hotéis da região e, ainda, se dedicando a uma oficina de teatro. Há três anos, o estudante se prepara para a carreira artística e já coordena um grupo de teatro, denominado Anônimos e, em alguns meses, já terá o registro de ator amador e uma peça em cartaz intitulada “O Caso acusa”. Sua colega de oficina de teatro, Thais Suelen M. de Campos, está no primeiro ano e estuda na mesma escola. A esperança de cursar Artes Cênicas na Unicamp para ela é ainda maior, pois a expectativa da Universidade é que em 2017, 50% dos estudantes da Unicamp sejam egressos de escolas públicas.