Risco na alimentação fora de casa

04/09/2013 - 13:31

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Evento promovido pela Unicamp e Proteste

Evento promovido pela Unicamp e Proteste

Maria Dolci, coordenadora da Proteste

Maria Dolci, coordenadora da Proteste

Ângela de Castro, especialista da Anvisa

Ângela de Castro, especialista da Anvisa

O docente Marcelo Cristianini, do Nepa

O docente Marcelo Cristianini, do Nepa

Público acompanha discussões

Público acompanha discussões

Uma pesquisa inédita divulgada nesta quarta-feira (4) na Unicamp apontou alto nível de contaminação em alimentos comercializados em ruas, praias e restaurantes de nove capitais brasileiras que serão sedes da Copa do Mundo de 2014. O estudo conduzido pela Associação Proteste de Consumidores foi divulgado durante seminário internacional que discutiu a higiene de alimentos fora de casa. O evento foi realizado pela Proteste e Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa) da Unicamp.

A investigação, obtida por meio de análises microbiológicas em 150 alimentos prontos, apontou que, deste total, 11% estão impróprios para o consumo. Foram encontrados nestes alimentos microrganismos nocivos à saúde, como coliformes fecais, estafilococos e bacillus cereus. Conforme a Proteste, estas bactérias podem ocasionar uma síndrome conhecida como DTA, sigla para Doença Transmitida por Alimento, que provoca diarreia, vômitos, perda do apetite e náuseas.

Ainda de acordo com o teste, realizado entre abril e maio deste ano, 57% dos alimentos estão insatisfatórios, ou seja, apresentaram falha na higiene em alguma etapa da produção. Do total de amostras analisadas, apenas 32% estavam próprias para o consumo. A investigação avaliou alimentos coletados nas cidades de Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), São Paulo (SP), Vitória (ES) e Guarujá (SP). 
Comer fora: 57% dos alimentos estão insatisfatórios e 11% impróprios para o consumo
“Trata-se de um estudo de cenário. Fizemos a pesquisa porque a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] irá instituir um selo de qualidade para a classificação dos estabelecimentos que comercializarão alimentos durante a Copa do Mundo de 2014. Na Europa, a Dinamarca conta com um modelo similar. Mas a proposta é que o selo e a fiscalização não sejam estipulados somente durante a Copa. A ideia é que a preocupação com a qualidade dos alimentos seja algo permanente em todo o país”, expôs Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste. 

Para a especialista da Anvisa, Ângela Karinne Fagundes de Castro, o selo de qualidade objetiva ser um instrumento a mais para o consumidor fazer a seleção adequada dos estabelecimentos. “É um projeto piloto que será trabalhado inicialmente nas cidades-sedes da Copa. A iniciativa é semelhante à existente na Dinamarca. A Vigilância Sanitária fará a fiscalização como regularmente faz e, como resultado desta fiscalização, pontuará o estabelecimento conforme critérios de risco. Essa informação será divulgada tanto na Internet, como no próprio estabelecimento”, explica. 

“Precisa ficar claro que estes restaurantes categorizados são estabelecimentos que já estão aptos a funcionarem. Portanto, eles já dispõem, hoje, de um alvará sanitário. A diferença é que a Agência divulgará a performance de cada estabelecimento. Embora abertos e aptos para a comercialização de alimentos - bares, restaurantes e quiosques investem diferentemente na qualidade dos seus produtos. A ideia é que isso seja também uma forma de estímulo para que estes comércios qualifiquem seus funcionários, melhorem suas instalações e condições de limpeza”, completa Ângela de Castro, que atua na gerência de inspeção e controle de riscos alimentares da Anvisa. 

Para o engenheiro de alimentos Marcelo Cristianini, coordenador do Nepa, a finalidade do seminário internacional foi discutir os problemas da qualidade de alimentos, sobretudo àqueles consumidos fora de casa. Ainda segundo o pesquisador e docente da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, o objetivo, após este diagnóstico, é traçar planos conjuntamente com a Universidade, Anvisa, Proteste e Ministério Público.

“A ideia é debater estratégias de capacitação, acompanhamento e traçar políticas públicas para o setor. Não pretendemos apontar culpados, mas propor ações para melhorarmos daqui para frente já que todos nós estamos sujeitos a este tipo de alimentação”, esclareceu. Levantamento realizado em 2011 pelo Instituto Data Popular mostrou que 65% da população brasileira tem o hábito de comer fora. 

O coordenador do Nepa avaliou também que a parceria com a Proteste é muito positiva. Ele explicou que o núcleo da Unicamp, vinculado à FEA, trabalha com a questão da segurança alimentar de modo sistemático. “O Nepa é um núcleo multidisciplinar, que conta com profissionais e pesquisadores da engenharia de alimentos, nutrição, economia, saúde, ciências agrárias, entre outros”, pontuou. 

O seminário internacional, realizado no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), reuniu representantes da Anvisa, Ministério Público e da Justiça, de  universidades e representantes de associações de bares e restaurantes. Houve também a participação de Gitte Sorensen, da associação de consumidores da Dinamarca, primeiro país a instituir um selo de classificação da qualidade de alimentos. A proteste divulgará detalhes da pesquisa apresentada na Unicamp em sua página eletrônica.