Desenvolvimento do adolescente
é debatido em Fórum Permanente
21/11/2013 - 11:36
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“É emocionante que a adolescência tenha se tornado vocal e ativa, mas a luta do adolescente que hoje se faz sentir no mundo inteiro tem que ser enfrentada... Se os adolescentes querem ter vida e vitalidade, os adultos são necessários.” A frase atribuída ao psicanalista inglês Donald Winnicott em 1968 continua sendo atual em 2013. E o tempo e o ambiente são os fatores terapêuticos essenciais para as incertezas dessa fase da vida de algumas pessoas, comentou a docente Eloísa Helena Rubelo Valler Celeri, chefe do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, durante o Fórum Permanente Esporte e Saúde realizado nesta quinta-feira (21) no Centro de Convenções da Universidade. Esse evento, que propõe discutir temas de relevância social, foi promovido pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e organizado pelo Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da FCM.
Ao falar de adolescência e desenvolvimento, a médica relembrou que essa fase da vida é de grande vulnerabilidade para comportamentos de risco, nisso incluindo-se o uso do álcool, do tabaco e das substâncias lícitas e ilícitas. Os hábitos adquiridos na adolescência podem causar, e geralmente causam, impacto na vida adulta, sobretudo com o desenvolvimento de doenças crônicas como os transtornos psiquiátricos. Esses hábitos podem coincidir com o desejo de independência, início de novas amizades, ingresso na universidade, exercício da sexualidade e uso de substâncias por diversão.
As diversas transformações na vida dessas pessoas podem conduzir ao enfraquecimento de instituições, valores e modelos, como a família, a escola e a igreja por exemplo. Desta maneira, o jovem não encontra mais apoio para vivenciar esse novo período de sua existência.
Segundo um estudo da Academia Americana de Psiquiatria, a impulsividade e a ânsia de assumir riscos faz com que os adolescentes tenham respostas em duas regiões cerebrais: no córtex pré-frontal e no sistema límbico. O trabalho sugere que haveria um desbalanço devido à imaturidade entre os dois sistemas. Enquanto a impulsividade teria relação com o córtex pré-frontal, assumir riscos teria relação com o núcleo ventro-estriatal. “Assim, haveria pouca modulação até os 24 anos, quando esse jovem começa a se aproximar das características de um adulto”, contou a médica.
Na adolescência, relatou ela, buscar sensações é mais intenso do que na infância. Agora, crianças que têm uma maior procura de sensações são de maior risco para essa maturação.
Depois dos 20 anos, o indivíduo começa a ficar mais preocupado com as consequências de seus atos e com o custo disso. Conforme ainda a médica, os transtornos psiquiátricos, como o transtorno de ansiedade, aumentam a partir dos 15 anos, bem como a adoção de substâncias como o álcool e a maconha.
A palestrante acredita que o próprio desenvolvimento cerebral pode ajudar muito a compreender que este é um momento de risco para o surgimento de outros transtornos, em razão de mudanças corporais que estão acontecendo e que geram crises de aceitação do corpo. "Eles vivem grande angústia e, por isso, suas decisões são repentinas, como se isso fosse diminuir as incertezas. O jovem é 'chamado' a tomar posições”, relembrou à plateia.
Novos paradigmas
"Novos tipos de pais criaram novos tipos de crianças. A nova relação permeia uma constante renegociação. Ocorre que, com o afrouxamento do confronto, mudanças vão ocorrendo. E os pais precisam manter a comunicação com os filhos e devem continuar funcionando como suportes sociais”, aconselhou a especialista.
Como parte das mudanças, surgem as mídias sociais, que atualmente vêm oferecendo a oportunidade desses jovens serem ouvidos, o que pode trazer algumas consequências: elas tanto podem se mostrar produtivas para pesquisas e para as narrativas, ampliando a sua resiliência, como podem evidenciar inclusive alguns deslizes durante as postagens. “Mostrarem e serem mostrados, serem alvos de comentários, estarem presentes o tempo todo e estarem conectados 24 horas, tudo isso se relaciona com o agir dos adolescentes, e os pais, pensando na validade de os monitorarem em tempo integral, podem esgarçar os limites da sua privacidade”, advertiu. Mas, de acordo com a especialista, ainda não existem respostas prontas para toda essa problemática.
Por outro lado, a médica reconhece que faltam profissionais treinados para cuidar do adolescente e faltam pesquisas que enfatizem os modos de intervenção mais apropriados. "Normalmente, os ensaios clínicos incluem nas investigações indivíduos com idade entre 18 e 55 anos e não estabelecem diferença de respostas para cada fase”, lamenta a docente, que também coordena o Ambulatório de Psiquiatria Infantil do HC da Unicamp.
Comentários
As aulas e as discussões
As aulas e as discussões foram muito boas, Heloísa e Renata dominam o assunto com propriedade, fundamento e experiência prática. Expresso aqui minha admiração pelas duas, confirmada novamente.