Ensino-aprendizagem não é dual
e sim grupal, defende especialista

22/11/2013 - 12:04

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O professor José Marcos, assessor da Cori

O professor José Marcos, assessor da Cori

Maria Aparecida Moysés, coordenadora do evento

Maria Aparecida Moysés, coordenadora do evento

Mesa de abertura do Fórum Permanente

Mesa de abertura do Fórum Permanente

Plateia lota Fórum no Centro de Convenções

Plateia lota Fórum no Centro de Convenções

Mesa-redonda

Mesa-redonda

A psicóloga Carla Biancha

A psicóloga Carla Biancha

O ser humano é distinto e tem diferentes significados em seu repertório de aprendizado, mas não se pode pensar que por isso alguns tenham menos direitos. Devem ser garantidas as mesmas oportunidades para que essas pessoas usufruam do processo de socialização. Mas a escola tem determinado, ainda hoje, o papel de dizer se aquele determinado aluno dá para o estudo ou não; se é escolarizável ou não. A escola deve ser para todos, bem como o reconhecimento da sua singularidade nas conexões com a universalidade da espécie humana.

A fala é da psicóloga Carla Biancha Angelucci durante o Fórum Permanente Esporte e Saúde nesta sexta-feira (22) no Centro de Convenções da Unicamp. Ela participou da mesa-redonda sobre “Medicalização da aprendizagem e do comportamento”. Para ela, a escola não envolve somente a transmissão de conteúdos, não precisa acontecer num espaço específico e mais: o processo de ensino-aprendizagem não é dual, e sim grupal, devendo ser construído com todos os envolvidos nesse interesse.

Segundo a especialista, na atualidade a diversidade comparece como um conjunto de patologias, marcadamente de caráter inevitável. Assim, todas as diferenças acabam sendo estudadas, descritas e catalogadas. “Tornam-se um conjunto de sintomas e manifestações comportamentais e isso tem desumanizado muito a visão que os profissionais têm da criança e do estudante”, salientou.

Diante dos históricos compromissos da educação, conforme Carla Biancha, é preciso discutir a função da escola e da psicologia nos processos educativos. A escola, lamentou, não consegue lidar com as diferenças entre as crianças e usa métodos pedagógicos que não atingem todos os alunos. "Se a criança não se interessar pela educação, é muito possível que ela comece a apresentar situações de conflito."

Verifica-se hoje um tratamento de diferenças comportamentais como se elas fossem doenças. "O diagnóstico foi banalizado e problemas que são pedagógicos – e deviam ser tratados com estratégias de ensino – vão parar no âmbito da saúde, substituindo a experiência da convivência", situou.

Além disso, algumas escolas adotaram como conduta a anamnese, instrumento da área da saúde que migrou para a realidade escolar, a fim de conhecer melhor os alunos. E ela é feita pela mãe, ou responsável, que preenche os comportamentos e necessidades dos filhos numa folha de papel, expondo inclusive o que a criança não gostaria de ter revelado. “O sujeito desaparece. Perdemos sua narrativa”, constatou a psicóloga.

Em sua opinião, a formação docente, as relações ensino-aprendizagem e a concepção de vida escolar são aspectos sobre os quais a sociedade ainda necessita se debruçar mais. O trabalho do psicólogo, acredita ela, é indispensável nas escolas, mas é emergente repensar as intervenções de modo que elas possam contribuir coletivamente e efetivamente para a democratização do ensino e para a transformação social, ressalva a especialista.

O Fórum Permanente Esporte e Saúde, promovido pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e organizado pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM), prossegue à tarde, com uma ampla programação.