Rondonistas contam o que
esperam em Aldeias Altas

16/01/2014 - 17:05

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Ana Raquel Beck, da FEnF

Ana Raquel Beck, da FEnF

Ester Lopes Pinto, da FCM

Ester Lopes Pinto, da FCM

João Meyer e Amauri Aguiar, da Preac

João Meyer e Amauri Aguiar, da Preac

Kaian Ciasca, do IA

Kaian Ciasca, do IA

Ariane Rimoli, da FCA

Ariane Rimoli, da FCA

Cauê Félix e Silva, do IA

Cauê Félix e Silva, do IA

Ingrid Gafanhão, do IB

Ingrid Gafanhão, do IB

Ronan Benecase, da FEnF

Ronan Benecase, da FEnF

Gabriela Spagnol, da FEnF

Gabriela Spagnol, da FEnF

Oito alunos e duas professoras da Unicamp estão chegando à cidade de Aldeias Altas, localizada na mesorregião leste do Maranhão, para atuar na Operação Velho Monge do Projeto Rondon 2014, de 18 de janeiro a 3 de fevereiro – e com eles segue uma nona estudante, mas para embarcar em navio da Marinha do Brasil na missão Ação Cívico-Social (ACiSo) durante o mesmo período. “Aprender, muito mais do que ensinar” nas comunidades locais é o pensamento dominante entre os jovens que a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) reuniu dois dias antes da viagem para que falassem de suas expectativas.

 “O objetivo desta reunião é manifestar o apoio da Preac à equipe e colher os depoimentos daqueles que vão para um lugar sem o conforto a que estão habitados; e, na volta, ouvir sobre as experiências vividas por cada um”, afirma Amauri Aguiar, que responde pela participação da Unicamp no Projeto Rondon. “É uma oportunidade rara para o aluno de graduação, principalmente do Sudeste, ganhar uma visão sobre outras realidades do país. Os depoimentos também podem servir de estímulo à adesão de mais professores e estudantes da Universidade”.

O Projeto Rondon é coordenado pelo Ministério da Defesa, com a colaboração do Ministério da Educação, sendo que a Operação Velho Monge será desenvolvida em 20 municípios do Maranhão e Piauí, cada qual recebendo duas equipes de universidades. Em Aldeias Altas, os rondonistas na Unicamp trabalharão no Conjunto A, que envolve atividades em saúde, educação, direitos humanos e justiça, e cultura; simultaneamente, um grupo de outra universidade se ocupará do Conjunto B: tecnologia e produção, trabalho, meio ambiente e comunicação. São as oito áreas reconhecidas pelo Fórum dos Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras como áreas temáticas de extensão universitária.

O professor João Frederico Meyer, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, observa que a Unicamp vem se destacando por ter seus projetos aprovados continuamente pelo Projeto Rondon desde 2005. “A experiência que vimos tendo é de que as pessoas que vão nunca voltam iguais: no contato com outros ‘brasis’, aprendem a fazer uma nova leitura do país e do mundo. Há uma construção dialógica do conhecimento, construindo conversando com os outros; também existe o aspecto epistemológico, em que o que aprendemos aqui ganha novo aspecto e sentido; e, finalmente, colocamos a ciência a serviço da comunidade.” 

A equipe multidisciplinar é coordenada pela professora Ana Raquel Beck, da Faculdade de Enfermagem (FEnf), que terá a colaboração da professora Ariane Rimoli, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA). Os alunos que ficarão por 15 dias em Aldeias Altas são Gabriela Spagnol e Ronan Benecase, ambos da enfermagem; Ingrid Gafanhão, da biologia (IB); Kaian Ciasca e Cauê Félix e Silva, os dois da midialogia (IA); Ana Favacho, das ciências sociais (IFCH); Fernanda Bortz, da farmácia (FCM); e Vítor Menini, da história (IFCH). Ester Lopes Pinto, da farmácia, é quem vai visitar populações ribeirinhas pela ACiSo. 

DEPOIMENTOS 

“É minha primeira operação no Projeto Rondon. Vou perder a colação de grau da Enfermagem, mas a expectativa é grande. Enquanto universidade pública, nós temos a obrigação de dar um retorno à sociedade por todo o investimento que os alunos recebem. Esse tipo de atividade faz com que o aluno tenha uma visão diferenciada e não se torne um profissional que vai viver só no seu mundo; ele vai ter sempre a percepção de que o objetivo é fazer algo para ajudar a transformar a sociedade. O Rondon traz essa oportunidade de integração com outras comunidades, realidades e culturas. Nossas pesquisas vão se pautar pela transdisciplinaridade, buscando transformar e resgatar um pouco da história da população local, e com oficinas na área de saúde abordando questões como drogas, planejamento familiar, amamentação e procedimentos de enfermagem. Podemos pensar que vamos dar, mas com certeza nós é que vamos ganhar com tudo isso. São experiências de vida e isso faz a diferença.” (Ana Raquel Beck) 

“Faz toda diferença. Entender que dentro da universidade, mesmo havendo vários institutos e faculdades, é preciso buscar a integração entre áreas de saber e que a Extensão é o espaço privilegiado para isso. Ouvimos que as pessoas precisam se especializar cada vez mais; precisamos, sim, mas com uma visão holística e global, do mundo, de transformação pessoal e da sociedade. Essa experiência vai nessa direção. Por mais que a universidade crie especialistas de ponta, estamos num mundo que precisa de diálogo, saúde, arte, de tudo um pouco. Ouvindo no rádio sobre os ‘rolezinhos’, vim pensando num rolezinho da transformação, levando essa moçada para conhecer a realidade, não intelectualmente, mas humanamente. Vamos nos deparar com dificuldades e nossas limitações. Primeiro, precisamos entender quem são eles, que o que é bom para nós pode não ser para eles. Vamos com o espírito preparado para não julgar e, também, não para ajudar, mas para trocar. E dividir um espaço que está ficando cada vez menor, que é o mundo.” (Ariane Rimoli) 

“Era um sonho participar do Projeto Rondon, por causa dos que vão e voltam dizendo que aprenderam muito com toda essa troca. Na verdade, esse sonho eu estava perseguindo no exterior, em Londres, durante intercâmbio pelo [programa] Ciência sem Fronteiras, quando um ex-rondonista me estimulou muito. Entrei em contato com o Amauri [Aguiar] e conseguimos montar um projeto mesmo de longe, com um aluno em cada país e alguns no Brasil, liderados pelos professores. Ainda estávamos separados quando da aprovação do projeto. O sentimento é de retribuir, por tudo o que já aprendemos na Universidade. Já passamos pela pesquisa, até pela Extensão e eu já tive essa experiência internacional. Agora é voltar para o Brasil e retribuir com tudo o que aprendi durante a graduação – e aprender mais ainda, aprender sobre meu próprio país.” (Gabriela Spagnol) 

“Estava no Holanda quando a Gabi entrou em contato. No primeiro ano de graduação, um colega que acabava de retornar do Rondon falava com muito orgulho do que tinha acontecido com ele, do quanto tinha sido importante e de como seria legal se outros se dedicassem. Com a experiência no Ciência sem Fronteiras senti vontade de voltar e conhecer mais sobre o Brasil. Por que sempre que perguntavam do meu país, eu respondia com a visão que tinha da minha vida no Sudeste e do Sul, nunca do país como um todo; só tenho visão da minha realidade, não de outras pessoas de outros lugares. Isso meu deu muita vontade de fazer algo com que pudesse ampliar e interpretar o que via por aqui. Estou contente com a oportunidade, que espero aproveitar, aprendendo o bastante para que da próxima vez eu possa levar mais informações não só sobre a minha realidade, mas sobre tudo.” (Ingrid Gafanhão) 

“Tentei me inscrever anteriormente no Projeto Rondon, mas não deu tempo de concluir o projeto. Nem imaginava para esse ano, mas a caminho do almoço o Amauri me ligou dizendo que precisava de alguém para o projeto ACiSo. Vou participar tanto na atenção farmacêutica como na prestação de serviços em exames, e dar uma palestra sobre doenças parasitológicas. Li num jornal local que muitas pessoas de lá não sabem como contraem as doenças: têm os sintomas, acham que é verme; podem até ter um tratamento, mas depois contraem de novo porque não sabem como pegaram. Acho que precisam muito da nossa ajuda. Aprendemos muito na graduação e estudamos de graça, precisamos retribuir para quem precisa. Estou muito contente e espero contribuir com o projeto, mas também receber um retorno, todos dizem que a gente mais recebe do que doa. É uma outra realidade, voltamos com outra visão do mundo e, de certa forma, até para modificá-lo daqui mesmo. Um professor que voltou do Rondon sempre busca projetos sociai, por ter passado por uma transformação – e espero que isso aconteça comigo.” (Ester Lopes Pinto) 

“Fazia biologia na USP e hoje sou da midialogia da Unicamp. Um colega da biologia também falava bastante do Rondon e nunca esqueci, ficou na minha cabeça. Morava com a Gabi em Londres e, quando ela me chamou para pensar no projeto, aquele sentimento voltou. É uma oportunidade legal e está tudo claro na cabeça. Uma ideia muito presente no grupo é que não estamos indo para levar o que sabemos, como se fôssemos detentores do conhecimento, dizendo que façam assim a partir de agora; estamos levando a nossa experiência em determinados assuntos, não para comparar nem julgar, mas para que eles adaptem e usem do jeito que bem entenderem. Vão ser duas atividades de audiovisual, uma com equipamentos de baixo custo, como gravação em celular, e outra com atividades lúdicas para crianças (oficinas de malabarismo, jogos de roda). Também vamos gravar depoimentos com idosos falando de suas vidas, da cidade e da região, a fim de produzir um curta-metragem.” (Kaian Ciasca) 

“Também vim da USP, da psicologia, para a midialogia. A psicologia participava de um projeto na área da saúde e sempre me interessei pelo Rondon, até que o Kaian me convidou. Procurei ajudar a escrever o projeto e felizmente fomos escolhidos. Estou com receio quanto a vencer as próprias dificuldades, a insegurança de não saber o que vamos encarar. A Extensão é minha primeira experiência sobre essa troca. Vou procurar ser honesto nessa relação com a comunidade, olhar bem para o outro. As oficinas que estamos propondo, na verdade, são oficinas de facilitação, para começar a naturalizar o contato deles com o campo da arte, se é que já não fazem; se fazem, é tentar ampliar o conhecimento nessa área. Estou aberto para ouvir, aprender, estabelecer diálogos.” (Cauê Félix e Silva) 

“Entrei na graduação em 2009, junto com a Gabi, e logo no segundo ano a intenção era escrever um projeto para o Rondon. Tivemos desencontros, fui fazer intercambio e depois, ela. Quando acabava o intercâmbio, ela me escreveu avisando que faltava uma semana para se inscrever e que era a nossa última chance. O maior desafio é encontrar docentes. Mas o grupo foi se formando, escrevendo o projeto à distancia e deu tudo certo. Acho que conseguimos montar uma estrutura legal para obter bons resultados lá na cidade. Fui ao ACiSo no ano passado, com a expectativa de me doar para aquela população e fazer o melhor que pudesse. Mas, quando voltei, descobri que o aprendizado é muito maior pra gente. Já tendo essa experiência, minha expectativa é de ter retorno muito maior na cidade do que no navio.” (Ronan Benecase)