Por que punir o consumidor
pelo desperdício de água?

14/02/2014 - 09:41

Wilson Jardim, do Laboratório de Química Ambiental

O risco de desabastecimento de água principalmente no Sul e Sudeste do país, devido ao período de estiagem historicamente anormal nessas regiões, tem levado vários municípios, inclusive Campinas, a instituir multas para pessoas flagradas desperdiçando água potável, como por exemplo, lavando carros e calçadas. A medida, entretanto, é contestada tanto do ponto de vista ético como prático pelo professor Wilson de Figueiredo Jardim, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp. 

“A necessidade de racionamento é uma realidade no momento, mas pergunto até que ponto as empresas fornecedoras podem imputar um ônus financeiro ao consumidor, se  elas próprias são responsáveis pela perda de 40% da água tratada no país. É um volume muito maior do que qualquer economia que possa ser feita pela população”, afirma o docente responsável pelo Laboratório de Química Ambiental (LQA). 

Lembrando que o consumo doméstico equivale a apenas 8% do consumo mundial de água doce (a agricultura responde por 70%), Wilson Jardim considera que, por maior que seja a adesão da população, globalmente o reflexo será mínimo. “O racionamento é uma questão de educação e cidadania, de preocupação ambiental, e não de punição. O único reflexo imediato para quem economiza água em casa é no bolso, quando vem a conta. E ainda que o consumidor seja perdulário, não deve ter sentimento de culpa por escovar os dentes com a torneira aberta.” 

A International Water Association (IWA) classifica as perdas de água como reais (na distribuição) ou aparentes (no faturamento). Considera-se como perdas reais todo volume de água perdido antes de chegar ao consumidor final, devido a problemas como vazamentos nas adutoras e em procedimentos operacionais (lavagem de filtros e descargas na rede). Já as perdas aparentes (não físicas) são as decorrentes de imprecisões na medição de consumo, ligações clandestinas, falhas no cadastro comercial, hidrômetros danificados. 

Segundo Wilson Jardim, dados de 2011 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), acerca de 26 prestadores de serviços de maior porte e de abrangência local, apontam um índice médio de 37,2% de perdas na distribuição. “A Sanasa [Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento] está comemorando a redução das perdas para 20% em dez anos, que é realmente importante – Macapá perde mais de 70%. Mas o consumidor de Campinas precisa saber que esses 20%, perdidos antes da água chegar à sua casa, dariam para lavar quilômetros de calçadas.” 

O docente do IQ ressalta que a redução das perdas só se consegue com uma gestão adequada. De acordo com estudo encomendado pelo Instituto Trata Brasil, tradicionalmente, os investimentos foram concentrados na expansão das redes de saneamento básico brasileiro, principalmente no serviço de abastecimento de água; e pouca atenção foi dada aos investimentos na manutenção e na modernização da gestão dos prestadores de serviços.

 

Comentários

Professor Wilson, esta mais do que certo Se nós consumidores somos multados por lavarmos um carro ou uma calçada, qual deve ser a multa das empresas fornecedoras de água, pelo vazamentos em rompimento das adutoras. A corda rebenta sempre do lado mais fraco, sempre sobra para o consumidor. Infelizmente.

Email: 
donizeti@cemib.unicamp.br

Concordo plenamente com o professor quando diz que o maior consumo de água está na agricultura e não no consumo doméstico. Isso deve ser tratado num âmbito mais amplo.
Quanto as empresas de água, fornecem para as áreas urbanas. Precisam trabalhar para não deixar faltar água para a população urbana, pois se houver desabastecimento todos serão afetados. Isso não tira o compromisso que as empresas precisam ter em reduzir as perdas reais e aparentes

Email: 
paduelimachado@yahoo.com.br

Ok, o consumidor doméstico não e o vilão da escassez de água, mas não desperdiçar e questão de educação. Nada deve ser desperdiçado. Quanto às empresas, é preciso "educá-las" com multas significativas para que não reincidam. Uma política séria de fiscalização e punição imediata seria uma forma de minimizar o desperdício empresarial.

Email: 
christinaalkmim@gmail.com