Jornalista Eustáquio Gomes
recebe homenagem póstuma
20/03/2014 - 13:01
- Text:
- Images:
- Images Editor:
“De que são feitos os dias? De pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças.” Os versos de Cecília Meireles bem se aplicam ao jornalista e escritor Eustáquio Gomes, falecido em 31 de janeiro deste ano. Vagarosas saudades e silenciosas lembranças foram demonstradas o tempo todo durante homenagem póstuma a ele que foi o coordenador da Assessoria de Comunicação e Imprensa (Ascom) da Unicamp de 1982 a 2010. A solenidade ocorreu nesta quarta-feira (20) no Centro Cultural de Inclusão Integração Social (CIS-Guanabara), órgão da Universidade.
Primeiro veio a música reflexiva da Euterpe - Banda Comunitária de Campinas, regida pelo maestro Alex Soares; depois os discursos e as reminiscências; e depois ainda fragmentos de um videodocumentário produzido pela RTV-Unicamp, que está em fase de elaboração e que tem lançamento previsto para o mês de outubro, data em que Eustáquio completaria 62 anos. O videodocumentário soma 20 depoimentos de amigos e de quem conheceu de perto o trabalho do autor de O Mandarim, a história dos primeiros anos da Universidade de Campinas. Veja os depoimentos.
Além da viúva Vera Gomes e dos filhos Leandro e Lalinka, estiveram na solenidade cerca de 60 pessoas, entre familiares, pessoas próximas ao jornalista e a comunidade universitária. A família do homenageado recebeu de presente um quadro de Eustáquio pintado pelo artista plástico Elvis Silva. A cerimônia foi planejada pelo CIS-Guanabara em parceria com a Coordenadoria Geral da Universidade, a Preac, a Ascom, a RTV-Unicamp e o GGBS.
O pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) João Frederico Azevedo Meyer, representando o reitor José Tadeu Jorge, contou três passagens que marcaram a convivência com o homenageado. Uma delas foi que João Frederico e sua esposa foram assistir a uma peça teatral na cidade: A febre amorosa (de 1994). Gostaram muito. Foram descobrir mais tarde que a peça era de autoria de Eustáquio.
O pró-reitor também lembrou que, ao desenvolver um projeto de aves migratórias e o risco de doenças, que seria apresentado em um evento, recebeu de Eustáquio instruções para divulgação na imprensa, evidenciando o trabalho apurado que o jornalista fazia na Unicamp. Isso ainda sem falar nas diversas oportunidades em que ambos discutiram algumas crônicas de Eustáquio, em geral publicadas na Revista Metrópole semanalmente aos domingos. Uma delas o impressionou muito. Contava a despedida de Eustáquio e do pai, pois iria estudar num seminário. “Começou a chover. E os dois se abrigaram em uma manilha. Foi emocionante o relato e motivo de muitas conversas”, disse.
O coordenador-associado da Assessoria de Imprensa Roberto Costa recordou o Eustáquio que ele conheceu na década de 1980 e cuja convivência se estendeu por 20 anos de trabalho conjunto. Lembrou as caminhadas que fizeram na Praça da Paz, os almoços com a equipe de trabalho, as risadas, as histórias e o testamento que deixava a cada um quando alguém aniversariava. Fez isso por anos, inclusive em sua despedida com vistas à aposentadoria.
Roberto Costa recordou que o 'Tatá', apelido carinhoso que recebeu, nunca deixou de atender as pessoas, não abandonava a redação antes que tudo estivesse completamente resolvido e que tinha o costume de ler para os amigos suas crônicas antes mesmo da publicação, encartada com o Jornal Correio Popular.
O diretor-associado da RTV-Unicamp Amarildo Carnicel, visivelmente emotivo, relatou que foram 15 anos de trabalho com o homenageado. “Falar de Eustáquio é falar de satisfação, de amizade, de compreensão e de generosidade. E, como profissional, era puro talento. O pouco que fiz devo a ele”, salientou.
No videodocumentário, o professor Ezequiel Theodoro mencionou conhecer dois Eustáquios em sua obra: o ser Eustáquio e a obra do Eustáquio. Um era o ser que observava, registrava, percebia fraquezas, e o outro, que era completamente diferente do que se via na ficção.
Lalinka agradeceu a homenagem e contou que conviveu com o pai que exercitou o dom de escrever e o pai fragilizado pela doença (ele teve um AVC). “A relação com ele foi uma dádiva. A fase da doença não me trouxe medo. Foi, antes, um privilégio poder retribuir a sua dedicação.” Leandro pontuou que a homenagem refletiu o carinho que as pessoas sentiam pelo seu pai. "Foi emocionante ouvir o que cada um disse aqui, e mais uma vez vimos falar da sua generosidade, que lhe era peculiar", ao que completou a esposa Vera: “Muito obrigada! Eu me senti muito apoiada com essa manifestação."
Mais depoimentos
"Eustáquio sempre teve muita paciência. Este foi o seu legado. Não se importava em ensinar e nunca deixou alguém sem resposta como ótimo assessor de imprensa. Ele foi um facilitador do trabalho dos jornalistas. Outra coisa: sempre nos passou boas sugestões de pauta."
Maria Teresa Costa, jornalista do Correio Popular
"Não cheguei a conhecer o Eustáquio pessoalmente, mas em minha opinião ele é digno de total respeito por ter conseguido criar quase que sozinho um órgão tão destacado como a Assessoria da Unicamp."
Gabriela Villén, jornalista da Assessoria de Imprensa da Unicamp
"Conheci Eustáquio na gestão do reitor Paulo Renato. Foi convidado para trabalharem juntos. Eu só tinha passado por redações de jornal e ele me deu a oportunidade de vivenciar o trabalho de assessoria de imprensa, que passou a ser minha nova atividade. Outra oportunidade veio com a produção de obras de recuperação da história institucional e corporativa. Eustáquio, impossibilitado de escrever um livro sobre o Instituto de Química, incumbiu-me. Novamente ele me abriu portas. A partir daí escrevi outras histórias: as do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica, do Instituto de Geociências, Hemocentro, Cepetro e Faculdade de Engenharia Química. Esses dois desafios delinearam a minha trajetória. Portanto, a minha gratidão ao mestre."
Paulo César Nascimento, jornalista