‘Cafundó – A África no
Brasil’ é relançado no IEL
16/04/2014 - 13:48
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O linguista Carlos Vogt e o antropólogo Peter Fry lançaram na manhã desta quarta-feira (16), no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, a segunda edição do livro Cafundó – A África No Brasil (Editora da Unicamp). Também foram lançados pelos autores os documentos sonoros da pesquisa que originou a obra, agora digitalizados pelo Centro de Documentação Alexandre Eulálio (Cedae) do IEL. O reitor José Tadeu Jorge, membros da administração superior, docentes, alunos e funcionários prestigiaram o evento.
Após o lançamento, houve um debate com a presença dos autores e de representantes da comunidade Cafundó, localizada em Salto de Pirapora, a cerca de 150 quilômetros da capital paulistana. Constituída por negros descendentes de escravos em sua maioria, esta comunidade rural se comunicava por meio de uma língua africana desconhecida. O agrupamento foi ‘descoberto’ no final da década de 1970 por jornalistas e pelos estudiosos Carlos Vogt e Peter Fry. Totalizando cerca de 80 pessoas, atualmente, a população do local utiliza em seu cotidiano a língua ‘cupópia’.
Na opinião dos autores, esta língua, que utiliza um léxico de origem banto, tem papel estruturador para a sobrevivência do agrupamento, que representa também uma história de resistência. O livro, lançado pela primeira vez em 1996, é o resultado das pesquisas de dez anos de Vogt e Fry, realizadas entre 1978 e 1988 no local.
“A ideia de uma segunda edição é sempre, de um lado, disponibilizar o acesso à obra quando ela se esgota na primeira edição. E do outro, registrar também a satisfação dos autores por ver que o livro continua dando a possibilidade de poder ser útil do ponto de vista do conhecimento, da realidade social, cultural e econômica das populações negras do país e do papel importante que essas populações têm na formação da nossa identidade e da nossa cultura”, ressaltou Vogt durante o lançamento.
Para o estudioso Peter Fry um dos assuntos que a antropologia tenta abordar desde as suas origens é como lidar com o encontro das civilizações. “E este é um caso de encontro forçado de civilizações. Os Estados Unidos da América importou escravos, como o Brasil. Lá os escravos foram segregados, aqui no Brasil eles foram dominados. Não é a mesma coisa. Portanto, imaginava-se que a cultura africana tivesse mais evidente nos Estados Unidos do que no Brasil, por causa da segregação. E isso não aconteceu. A África está muito presente no Brasil”, afirmou.
O reitor José Tadeu Jorge, situou, por sua vez, que a obra chega num momento importante para o país, em que se debate a questão da inclusão social. “Dezoito anos depois da publicação do livro, temos uma segunda edição, inclusive no formato eletrônico de e-book. Neste momento, em especial, esta segunda edição é muito apropriada porque se discute intensamente, na Universidade e também fora dela, a questão da inclusão social”, relacionou Tadeu Jorge.
A cerimônia de lançamento contou com a presença do diretor-executivo da Editora da Unicamp, Eduardo Roberto Junqueira Guimarães; da diretora do IEL, Matilde Virginia Ricardi Scaramucci; do diretor-associado da Unidade, Flávio Ribeiro de Oliveira; do chefe de gabinete-adjunto da reitoria, Osvaldir Pereira Taranto; e da coordenadora do Cedae, Raquel Salek Fiad.
Sobre o autores:
Carlos Vogt é linguista e poeta. Foi reitor da Unicamp e hoje coordena o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo dessa instituição. É autor de vários livros, entre eles O intervalo semântico (Editora da Unicamp/Ateliê Editorial, 2009).
Peter Fry é antropólogo e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Foi professor no Museu Nacional e antes, quando de sua vinda da Inglaterra para o Brasil, foi professor no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, que ajudou a implantar.
Leia a matéria sobre a obra publicada pelo Jornal da Unicamp:
Cafundó retrata contradições do Brasil contemporâneo