Ações sobre a saúde da
população negra avançam

02/09/2014 - 08:30

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Reunião na Reitoria

Reunião na Reitoria

A assistente social Aparecida do Carmo Miranda

A assistente social Aparecida do Carmo Miranda

O professor Francisco Aoki

O professor Francisco Aoki

A médica sanitarista Anna Volochko

A médica sanitarista Anna Volochko

A Coordenadoria de Assuntos Comunitários, ligada à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), reuniu-se na última quinta-feira (28) na Unicamp com a médica sanitarista Anna Volochko, do Programa de Saúde da População Negra da Secretaria de Estado da Saúde (SES), e com um staff de nomes ligados à saúde da população negra. O encontro teve em vista o fortalecimento da parceria institucional entre esta Universidade e a SES, no âmbito da implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

De acordo com o infectologista do Hospital de Clínicas (HC), professor Francisco Aoki, a Unicamp tem uma tradição de trabalhar com a saúde da população negra, como por exemplo a quilombola, promovendo simpósios e fóruns. “Essa reunião teve interlocução com a Diretoria Regional de Saúde (DRS-7), de Campinas, que se relaciona com 43 municípios albergados, incluindo a DRS de São João da Boa Vista e a de Piracicaba, com uma vasta região de seis milhões de habitantes, além de ações com o Ministério da Saúde”, afirma Aoki. A ideia é equalizar e promover ações conjuntas.

A sanitarista acredita que a cooperação com a Unicamp, ainda que informal, se deve ao interesse delineado nos princípios do SUS que trata da equidade em saúde. “Nesses vários anos de cooperação, temos tratado da questão da iniquidade. Agora a tendência é buscar uma institucionalização dessa parceria por meio de um trabalho mais programado, com mais ênfase à saúde da população negra e depois estendendo-se a outras populações também vulneráveis”, diz.

No encontro, foram discutidas iniciativas que devem ser realizadas daqui para frente em relação à saúde da população negra, como o desenvolvimento de treinamentos, capacitações, pesquisas e iniciativas de extensão. “Isso porque verificamos que há diferenças e iniquidades em relação ao tratamento que se dá a essas pessoas, de conseguir chegar aos serviços de saúde, de ter diferenciação na forma de tratamento e de recebê-los dentro da atenção básica ou mesmo na emergência”, verifica o infectologista.

Aoki comenta que são muitas as necessidades da população negra do ponto de vista organizacional. Existem, no momento, alguns programas nacionais que visam a uma melhor assistência a essa população em suas especificidades, para as doenças infecciosas, crônico-degenerativas, hipertensão, diabetes, doença falciforme, entre outras. “Queremos que essa população tenha as melhores chances de ser atendida pelo Sistema Único de Saúde, o SUS”, frisa.

Segundo a assistente social Aparecida do Carmo Miranda Campos, do programa de DST/Aids da Disciplina de Moléstias Infecciosas (MI) do Hospital-Dia da Unicamp, haverá uma ação mais pontual no mês de outubro. Dia 27 será o Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra. O grupo da Universidade, através da Preac e da Disciplina de MI, organizará uma feira de saúde para essa população no HC. A atividade será no dia 30 de outubro e contará com apoio da comunidade universitária.


População desassistida -
Inúmeros dados hoje demonstram que as condições de vida da população negra é inferior à da população branca, relata Anna. São dados relacionados à escolaridade, salário, tipo de trabalho executado. “Percebemos que essa população está nos patamares menos privilegiados da sociedade. Isso não ocorre de um modo aleatório. Provém historicamente de uma política na qual a população negra é considerada escrava. Não houve uma política pública que incentivasse a sua cidadania. Até hoje nós, na saúde, vivemos as consequências disso”, assinala. "Uma pessoa que é mais pobre, tem menos escolaridade e vive em locais mais pobres acaba tendo uma saúde mais pobre. Também tem a questão do racismo institucional, muitas vezes não percebido, em que essa população é discriminada no seu acolhimento, em seu acesso e na qualidade do serviço prestado", lamenta.

Conforme a médica, é comum ouvir de profissionais da saúde que eles não vão dar explicações a respeito do quadro de saúde para aquelas pessoas, pois não vão entender mesmo. Também não vão dar para elas uma terapia mais complexa porque não vão fazer. Por outro lado, historicamente também a população negra muitas vezes não procura o serviço no momento adequado, por medo justamente desse tipo de tratamento, por medo de ser discriminada. Então acaba chegando tardiamente ao serviço público. Tem mais: é importante frisar que a questão da iniquidade diz respeito a diferenças que não são justificadas. “Portanto, não poderia estar ocorrendo uma mortalidade tão maior para a população negra para causas evitáveis, que teoricamente deveriam ter o mesmo resultado para ambas as populações”, argumenta.