Seminário aborda dimensões da
profissão acadêmica no contexto internacional

27/04/2015 - 14:29

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Simon Schwartzman

Simon Schwartzman

Simon Schwartzman (centro), Elizabeth Balbachevsky e Helena Sampaio

Simon Schwartzman (centro), Elizabeth Balbachevsky e Helena Sampaio

Leandro Tessler, Simon Schwartzman, Elizabeth Balbachevsky, Helena Sampaio, Cibele Yahn, Ana Maria Carneiro e Renato Pedrosa

Leandro Tessler, Simon Schwartzman, Elizabeth Balbachevsky, Helena Sampaio, Cibele Yahn, Ana Maria Carneiro e Renato Pedrosa

Timo Aarrevaara – Universidade de Helsinki, Finlândia

Timo Aarrevaara – Universidade de Helsinki, Finlândia

Evento realizado entre
22 e 24 de abril reuniu
pesquisadores do Brasil
e do exterior no IEL

O Seminário Internacional a Profissão Acadêmica e os Desafios da Inovação abordou estudos sobre as áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), dando continuidade aos trabalhos da rede internacional de pesquisa The Changing Academic Profession (CAP), criada em 2005. O evento reuniu pesquisadores da rede e convidados brasileiros e estrangeiros, entre os dias 22 e 24 de abril, no Auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. Vídeo

A mesa "Realidades Nacionais: Sistemas de Ensino Superior de Consolidação Recente", que aconteceu na tarde do dia 23, aprofundou o debate sobre o ambiente de pesquisa e desenvolvimento em países da América, Ásia e Oceania. Glen Alan Jones, professor da Universidade de Toronto, explicou que o governo do Canadá desempenha um papel importante no financiamento e nas parcerias com as universidades, incentivando-as a trabalharem junto à indústria, principalmente nas áreas de ciência e tecnologia. Os recursos são particularmente concentrados nos campos de ciência e tecnologia e medicina. Jones questionou a possibilidade de essa concentração criar desigualdades entre institutos de estudo ou hierarquias entre professores, como em comparação com áreas de humanas.

Na Coreia do Sul, as pesquisas acadêmicas tiveram um aumento significativo na década de 1980, a partir de mudanças no ambiente econômico do país. De forma competitiva, as empresas privadas passaram a se associar à academia, criando centros de tecnologias que trabalhassem em suas demandas, como a Hyundai, LG e Samsung.  Em 2012, o setor privado foi responsável por 75% do investimento em pesquisa no país, segundo dados do Ministério da Ciência e do Korea Institute of Science and Technology Evaluation & Planning (KISTEP). Apesar do avanço, o professor Jung Cheol Shin, da Universidade Nacional da Coreia, criticou a cultura acadêmica coreana, que privilegia os docentes mais experientes e a interação entre eles. Dessa maneira, afirmou o professor, cria-se um ambiente acadêmico em que as decisões não são pautadas pela meritocracia e pesquisadores que têm ideias inovadoras podem não ser bem-vindos.

O modelo acadêmico brasileiro, inspirado no norte-americano, foi implantado pelo governo em 1968. Esse sistema, que agregou também ideias da França e da Alemanha, parte do princípio da universidade como forma de construção de uma sociedade moderna. Entretanto, o acesso ao conhecimento acadêmico ainda é considerado como privilégio, tornando-se uma forma de concentração de poder, como apontou, na sexta-feira (24), o professor Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) e autor do livro "A Educação Superior na América Latina e os Desafios do Século XXI", lançado durante o seminário.

As estruturas das universidades norte-americanas e alemãs são baseadas em conceitos acadêmicos modernos, em que os diferentes conhecimentos disciplinares e a informação tecnicamente consistente exercem um papel fundamental, afirmou a professora Maria Ligia Barbosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Já na universidade dita "patrimonialista", a dimensão técnica não tem tanta importância, mas sim a dimensão social. Desse modo, o diploma passa a ter um papel mais importante que o conhecimento, criticou a docente da UFRJ. "A estrutura de funcionamento do sistema brasileiro carrega um peso muito grande dessa dimensão social e dá pouca importância para a questão substantiva do conhecimento que aquele diploma deveria testar. A partir disso, surge uma forma de dominação patrimonial, um certo 'coronelismo'."

A organização do simpósio foi uma iniciativa do Fórum Pensamento Estratégico (Penses), do Laboratório de Estudos Sobre Ensino Superior (LEES), do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT-IF) e do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas (NUPPs) da USP. Saiba como foi o primeiro dia do Simpósio.