O ensinar e aprender matemática e
o tributo ao ‘homem que calculava’

06/07/2015 - 16:53

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Mesa da cerimônia de abertura do V Shiam

Mesa da cerimônia de abertura do V Shiam

Organização da exposição

Organização da exposição "Malbatemática"

Malba Tahan com a sua coleção de sapos

Malba Tahan com a sua coleção de sapos

Evento teve recorde de mais de 500 inscritos

Evento teve recorde de mais de 500 inscritos

“Ensinaraprender” é uma palavra composta (sem hífen) que expressa melhor “a complexidade e a dialética de como percebemos a relação entre o ensino e a aprendizagem”, segundo os seus criadores e organizadores do V Shiam – Seminário Nacional de Histórias e Investigações de/em Aulas de Matemática, aberto na manhã desta segunda-feira (6) em cerimônia no Centro de Convenções, e que prossegue até quarta (8). O evento, tendo como tema “Os sentidos do ensinaraprender matemática na escola e na formação docente”, é organizado pelo Grupo de Sábado (GdS) e pelo Grupo de Pesquisa sobre Práticas Pedagógicas em Matemática (Prapem), com apoio da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, Capes e Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac). 

Paralelamente ao seminário acontece a exposição “Malbatemática”, em outro auditório do mesmo Centro de Convenções, marcando os 120 anos de nascimento de Malba Tahan, pseudônimo que fez a fama do professor brasileiro Julio Cesar de Mello e Souza, a ponto de a data de 6 de maio ser institucionalizada como o Dia Nacional da Matemática. Na mostra estão objetos pessoais, documentos e publicações que fazem parte do acervo doado pela família de Malba Tahan à Faculdade de Educação e que está sob a responsabilidade do Centro de Memória da Unicamp (CMU). O curador da exposição é o professor Sérgio Lorenzato, que concedeu entrevista sobre o seu mestre ao Portal da Unicamp. 

O V Shiam tem mais de 500 inscritos, entre professores de redes públicas e privadas, estudantes de pós-graduação, estudantes de licenciatura em matemática e pedagogia e formadores de professores de matemática. O seminário é uma iniciativa do GdS, grupo que surgiu em 1999 congregando professores do ensino básico da região de Campinas – interessados em refletir, ler, investigar e escrever sobre a prática docente de matemática nas escolas – e acadêmicos da Unicamp – interessados em investigar o processo de formação contínua e de desenvolvimento profissional dos participantes. 

O professor Dario Fiorentini, coordenador-geral do V Shiam, enalteceu o recorde de inscritos apesar do momento conturbado na política, na economia e, consequentemente, na área educacional. “Estamos discutindo o sentido de ensinaraprender matemática na prática escolar e na formação docente mesmo com essa crise, temendo o que possa vir a ocorrer na área. Nosso grupo completou 16 anos seguindo a ideia de construir outras possibilidades de prestar ensino e aprendizagem da matemática. É com alegria que vejo esse movimento crescer, trazendo suas histórias e investigações em salas de aula para compartilhar e debater com os colegas.” 

Diretor da Faculdade de Educação, o professor Luiz Carlos de Freitas afirmou que o V Shiam é um evento importante por se tratar de um contraponto a políticas educacionais que estão se firmando cada vez mais no cenário brasileiro. “Forças políticas que foram se reorganizando agora disputam a própria condução do governo, com laivos de golpismo que, na minha idade, achava que não teríamos mais que assistir. Essas forças são as que definirão políticas educacionais trazendo para as escolas aquela visão do conhecimento separado das relações, que se põe na apostila e se manda o professor procurar a página do dia e ensinar aos alunos. Este seminário é um movimento de resistência.” 

Malbatemática 
Fica aberta também até quarta-feira a exposição “Malbatemática”, com parte do acervo de Malba Taha (1895-1974). Rodrigo Serra, organizador da exposição, explica que a ideia é mostrar um pouco de cada faceta do brasileiro que ficou conhecido mais como escritor, autor de “O Homem que Calculava”. “São objetos relacionados também às suas atividades de professor, educador e conferencista. O acervo é composto por cerca de 10 mil documentos, que ainda estamos catalogando. Selecionamos peças pessoais, como a varinha que usava para dar aulas, algumas peças de sua coleção de sapos, um porta-treco que mantinha sobre a escrivaninha, uma carta que recebeu de Chico Xavier, o primeiro exemplar da revista Erre, que criou aos 12 anos.” 

O professor Sérgio Lorenzato, coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Matemática nos/dos Anos Iniciais (Gepemai), concederá a palestra “Malbatemática” no mesmo espaço da exposição da qual é curador, às 9 horas desta quarta-feira. “Durante a palestra vamos colocar algumas questões aos professores: por que a data de nascimento de Malba Tahan foi escolhida como Dia Nacional da Matemática, qual foi sua contribuição e, principalmente, como o professor pode levar os seus ensinamentos para a sala de aula.” 

Rosana Prado Biani, professora dos anos iniciais do ensino fundamental, realizou um projeto para divulgar o nome de Malba Tahan junto às crianças. “Mesmo nas escolas, não se conhece quem foi Julio Cesar nem Malba Tahan, pseudônimo com o qual ficou famoso e que acabou incluindo em seu nome original. As crianças elaboraram cartazes contendo as biografias de ambos e a cronologia dos livros (120, sendo em torno de 70 dedicados à educação matemática), além de uma capa para ‘O Homem que Calculava’, sua obra mais traduzida. Os pais também foram convidados a interagir, respondendo a desafios propostos no livro.” 

A professora Tânia Santos, também do Gepemai, adianta que o grupo terá um espaço no site oficial de Malba Tahan mantido pela família, alimentando-o com os inúmeros desafios e outras situações envolvendo a matemática. “São desafios que ele próprio propôs em seus livros e que os professores da rede poderão desenvolver em sala de aula. Temos muitas coisas no acervo, inclusive inéditas.”