Doenças negligenciadas têm a devida
atenção nos Fóruns Permanentes

05/08/2015 - 15:48

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Mesa de abertura do Fórum 'Vida e Saúde'

Mesa de abertura do Fórum 'Vida e Saúde'

Luiz Carlos Dias, do Instituto de Química

Luiz Carlos Dias, do Instituto de Química

Rodrigo Catharino, organizador do evento

Rodrigo Catharino, organizador do evento

João Ernesto de Carvalho, diretor da FCF

João Ernesto de Carvalho, diretor da FCF

Esquistossomose, doença de Chagas, leishmaniose, malária e hanseníase fazem parte do grupo de doenças negligenciadas, assim chamadas por serem praticamente ignoradas em pesquisas de inovação tecnológica e científica – o que se deve principalmente ao desinteresse econômico, visto que elas acometem as populações pobres abaixo da linha do Equador. “Doenças negligenciadas: do diagnóstico ao tratamento” foi o tema de mais uma edição dos Fóruns Permanentes “Vida e Saúde”, organizada pla Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp. Os Fóruns Permanentes da Unicamp são uma iniciativa da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU). 

O professor Rodrigo Ramos Catharino, organizador deste fórum pela FCF, via no evento uma contribuição para a convergência de estudos e pesquisas visando o desenvolvimento de novos métodos de diagnósticos e de tratamento das doenças negligenciadas. “Vamos discutir sobre doenças próprias do país, que podem inclusive serem chamadas de ‘verde-amarelas’, e que devem ser tão combatidas quanto outras que merecem mais atenção da comunidade científica, como as cardíacas. Encontramos pouquíssimos estudos tanto na literatura acadêmica como no meio da indústria farmacêutica, quando existe uma população massiva, sem poder aquisitivo, contraindo essas doenças.” 

A palestra de abertura – “A pesquisa de fármacos para o combate de doenças negligenciadas” – foi concedida por Luiz Carlos Dias, docente do Instituto de Química (IQ) premiado por sua atuação à frente do Laboratório de Química Orgânica Sintética e apontado como um dos ícones da área no Brasil. “Vou abordar um trabalho que venho desenvolvendo desde 2013 com duas organizações internacionais sem fins lucrativos: a Medicines for Malaria Venture (MMV) e a Drugs for Neglected Diseases iniciative (DNDi), baseadas em Genebra (Suíça). São organizações voltadas ao desenvolvimento de novas formulações e novos medicamentos para tratar, por exemplo, doença de Chagas, leishmaniose, leishmaniose visceral e malária.” 

Dias explica que o papel do seu laboratório nesta parceria é a preparação de compostos com potencial para medicamentos que são enviados à MMV e DNDi, e depois testados em vários laboratórios acadêmicos e de grandes farmacêuticas espalhados pelo mundo. “Focamos inicialmente a doença de Chagas e a malária e já temos resultados fantásticos, embora a parceria ainda esteja no início – queremos intensificá-la com o envolvimento de outras instituições. Minha ideia é montar um consórcio entre Unicamp, MMV, DNDi e USP de São Carlos, esperando um forte apoio da Fapesp. Apoio não só financeiro, mas de pessoal, principalmente de pós-doutores."

O docente do IQ já orienta dois pós-docs com a MMV e outros dois com a DNDi, que concederá mais duas bolsas. “Preciso de mais gente trabalhando neste processo de descoberta de novas moléculas, a fim de entrar na fase de estudos clínicos. Trata-se realmente de pesquisa aplicada, pois o objetivo das duas organizações é descobrir novos medicamentos – cada uma delas já desenvolveu cerca de seis formulações, como uma dose pediátrica para Chagas, porque crianças sofrem bastante com os efeitos colaterais no tratamento da doença. Meu laboratório é o único da América Latina que prepara compostos para essas entidades na Suíça.” 

O professor João Ernesto de Carvalho, hoje diretor da FCF, desenvolveu sua carreira no CPQBA (Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas) e de lá trouxe um exemplo do desinteresse da indústria farmacêutica no atendimento às populações pobres. “O primeiro projeto do CPQBA, na década de 1980, envolveu a Artemisia annua, uma planta da China que produz a artemisinina utilizada apenas em casos graves da malária (como a cerebral). Tivemos todo o trabalho de aclimatar as espécies, selecionar a melhor variedade para produção em escala, isolar e produzir artemisinina. Não houve qualquer interesse da indústria, pois é mais fácil e barato importar da China – é a mentalidade do menor preço e maior lucro. A pesquisa depende basicamente das universidades e, por isso, este fórum é tão importante.” 

A programação do Fórum Permanente sobre doenças negligenciadas teve ainda as seguintes palestras: “Diagnóstico e novos tratamentos para a esquistossomose”, com a professora Silmara Marques Alegretti (IB/Unicamp); “Correlação entre as formas clínicas da doença de Chagas e o metabolismo bioenergético do Trypanosoma cruzi”, com Fernanda Ramos Gadelha (IB/Unicamp); “Diagnóstico e novos tratamentos para a doença de Chagas”, com Eros Antônio de Almeida (FCM/Unicamp); “Diagnóstico e novos tratamentos para a leishmaniose”, com Carlos Emílio Levy (FCM/Unicamp); e “Diagnóstico e novos tratamentos para a hanseníase”, com Cristiana Santos de Macedo (Fiocruz).