Recado às mulheres: é possível
conciliar trabalho e amamentação
07/08/2015 - 09:32
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É possível as mulheres conciliarem trabalho e aleitamento materno? Segundo a neonatologista Mônica Pessotto, coordenadora do Banco de Leite do Hospital da Mulher "Prof. Dr. José A. Pinotti" - Caism da Unicamp, não somente é possível como é desejável. Sua fala ocorreu no contexto da Semana de Aleitamento Materno, organizada pela Aliança Mundial Para Ação em Aleitamento Materno (Waba), que acontece mundialmente há 24 anos. O Caism, que detém o título de Hospital Amigo da Criança, comemorou a data nesta quinta-feira (6) com algumas ações, entre elas essa palestra ministrada por Mônica Pessotto sobre o assunto durante a reunião do Departamento de Tocoginecologia, realizada semanalmente com a abordagem de assuntos relevantes do ponto de vista da ciência. Na palestra, a médica defendeu o aleitamento exclusivo, por ser fundamental nos primeiros meses de vida da criança, e sustentou que as mulheres devem se esforçar por driblar as suas dificuldades e tentar conciliar amamentação e trabalho, porque eles são perfeitamente possíveis. Ela falou a um público que lotou o anfiteatro do centro. Acompanhe uma entrevista da neonatologista concedida ao Portal da Unicamp.
Portal da Unicamp – Qual é o foco da campanha deste ano?
Mônica - Estamos aproveitando para abordar o aleitamento e o trabalho como o mote das discussões da Semana de Aleitamento Materno, que está ocorrendo de 1 a 7 de agosto. A Waba elege um tema que deve servir de reflexão durante a campanha. No caso deste ano, o assunto se reveste de importância, sobretudo pela dificuldade de se manter hoje o aleitamento exclusivo, visto que as relações estão se tornando mais complexas. As mulheres, na vida moderna, estão muito mais engajadas no trabalho, pois muitas vezes essa atividade representa o sustento da sua família., e isso pode pesar muito na decisão de amamentar. Mas há algumas alternativas para tentar ajudá-las a manter a amamentação nesse período. É possível fazer o aleitamento exclusivo. Só que elas precisam conhecer os direitos trabalhistas, precisam de apoio e precisam saber como fazer isso bem-feito. Sem esses conhecimentos, muitas raciocinam do seguinte modo: vou voltar a trabalhar, então vou começar a dar mamadeira para que o bebê já vá acostumando. Com isso, sem saber, ela já está dando o start nesse processo de desmame. Se trabalharmos com elas previamente, já discutindo isso no pré-natal, no alojamento conjunto e na revisão de parto, na puericultura, então, quando iniciarem o trabalho, já terão alternativas para tentar conciliar o aleitamento.
Portal da Unicamp - A quantas anda o aleitamento no Brasil?
Mônica - Em termos de duração do aleitamento materno, nós temos pesquisas nacionais feitas nas capitais e no Distrito Federal. Uma pesquisa de 2009, do Ministério da Saúde, apontou que a média nacional do aleitamento materno exclusivo é de 54 dias. Aumentou um pouco, mas ainda está aquém dos seis meses de aleitamento exclusivo. Por isso temos que buscar todos os incentivos para tentar prolongar a amamentação pelo maior tempo possível.
Portal da Unicamp - O Caism ensina a mãe a amamentar. Como tem sido essa atuação?
Mônica - Fazemos todos os passos para favorecer e manter a amamentação, inclusive realizando capacitação de funcionários. Eles aprendem a conversar com essas mulheres, esclarecer sobre a importância da amamentação, a técnica da mamada, o que fazer diante das dificuldades. Mas basicamente vamos trabalhar isso mais no pré-natal, no parto e no puerpério imediato. Temos um ambulatório de seguimento dos recém-nascidos que ficam internados e temos um ambulatório para crianças que têm um pouco mais de dificuldade na amamentação e voltam precocemente ao hospital. A etapa seguinte envolve enviar essas crianças para o Centro de Saúde para continuarem a estimulação. Recentemente, o Caism criou uma sala de apoio ao aleitamento materno, inaugurada no ano passado, e acabamos de receber a placa do Ministério da Saúde corroborando essa frente de atuação. Está indo muito bem. Dentro do Caism temos 13 mulheres que engravidam por ano. Estamos treinando uma equipe do Banco de Leite para auxiliar essas mulheres. Quando elas voltam ao trabalho, ensinamos como faz a ordenha. Fazem isso durante a jornada de trabalho e guarda mo leite no final da jornada. Pegam o leite, levam-no para casa, a fim de que alguém dê ao bebê. Assim vai mantendo a amamentação. Muitas mulheres que atuam na área de saúde têm que dar plantão e então essa iniciativa é positiva e uma das pioneiras, pensando em termos de oferecer as condições para que possam amamentar durante a jornada de trabalho.
Portal da Unicamp - Alguns trabalhos atualmente sinalizam o valor da amamentação materna para o bebê com benefícios na vida adulta. Isso procede?
Mônica - Sim. Há uma série de estudos que comprovam isso na esfera da saúde. Os bebês amamentados pela mãe têm menos infecção, menos doenças de comprometimento imunológico, menos diabetes, menos hipertensão. Outros trabalhos mostram que o Q.I. de quem é amamentado é melhor em relação aos que não são amamentados. Saiu recentemente um trabalho do professor Cesar Victora, que trabalha na Organização Mundial da Saúde (OMS), que fez uma coorte e seguiu um número elevado de crianças em Pelotas (RS) desde a década de 1980. Os adultos que foram amamentados na infância conseguiram maiores salários e mais sucesso profissional.
Portal da Unicamp - O que é mais importante para a mulher?
Mônica - Saber dos seus direitos trabalhistas, como licença-maternidade e direito à creche. Mas também cabe à equipe de saúde conversar com as mães para tentar ajudá-las da melhor maneira possível no seu processo de amamentação. É preciso explicar-lhes técnicas de ordenha do leite, tipo de frasco, onde guardar, qual a validade do leite, como transportar para casa, onde tirar o leite.