Papel da universidade pública e
o mestrado profissional em debate
28/09/2015 - 14:54
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O mestrado profissional tem sido uma importante ferramenta para o aprimoramento dos professores da educação básica no Brasil, mas a universidade pública ainda precisa de um maior engajamento nessa área de aperfeiçoamento docente para contribuir de uma maneira mais ampla para a melhoria da educação do país. Essa foi uma das conclusões do Fórum Universidade Pública e o Ensino de Ciências: investigando a experiência dos mestrados profissionais para a qualificação dos professores, realizado nesta segunda-feira (28).
Estiveram reunidos no Centro de Convenções da Unicamp para debater suas vivências pesquisadores, coordenadores de cursos e mestres e mestrandos dessa modalidade de pós-graduação stricto sensu. Entre os palestrantes estiveram profissionais de órgãos governamentais e sociedades científicas, como a Sociedade Brasileira de Física (SBF), o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), a Sociedade Brasileira de Química (SBQ), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), e representantes do Mato Grosso, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal.
O professor Marcelo Viana, do IMPA, criticou a falta de uma formação de pós-graduação na área de matemática voltada especificamente para o professor da educação básica. Segundo ele, esses profissionais desempenham uma das funções mais estratégicas para o país, mas ainda não são vistos como prioridade para a comunidade acadêmica. “Os mestrados acadêmicos estão contribuindo de maneira muito substantiva para a educação. Aos poucos, as resistências vão sendo quebradas, mas elas ainda existem”, afirmou Viana, que é membro da Sociedade Brasileira de Matemática.
Viana coordena o Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat), que envolve mais de 70 instituições de ensino superior em todas as 27 unidades da federação. “O programa parte da constatação de que o professor de matemática não sabe a disciplina que está ensinando e, por causa disso, se sente inseguro sobre o modo de ensinar.”
Criado em 2010, o Profmat conta com 96 polos de ensino e já admitiu 8.500 discentes em cinco turmas semipresenciais. O professor do IMPA destacou a baixa evasão do curso, inferior a 10%, e atribui a isso, além de bolsas concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a progressão na carreira proporcionada pelo curso e a valorização pessoal do profissional que se dedica para conquistar um título de mestre.
Para o físico Ildeu de Castro Moreira, vice-presidente da SBPC e professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a academia precisa voltar mais seus olhos para a licenciatura e para a formação continuada dos docentes que estão na rede básica. Outro ponto importante, alerta, é a desvinculação entre a pesquisa em educação e os problemas reais da educação pública. “Seria importante que tivéssemos um estímulo da universidade brasileira para a pesquisa da situação da educação pública”, alertou Castro.
Desafios
Os mestrados profissionais têm crescido tanto quanto os mestrados acadêmicos, afirmou Sidnei Quezada Leite, professor do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) e membro da SBQ. No entanto, segundo ele, o maior desafio dos mestrados profissionais é a questão da interiorização, já que muitos alunos precisam percorrer grandes distâncias para frequentar as aulas presenciais.
O fomento da Capes para o aprimoramento dos docentes do sistema público não vai mudar a realidade escolar se as redes municipais e estaduais não fizerem sua parte para modificar a educação básica, declarou Jorge Megid Neto, professor da Faculdade de Educação da Unicamp. “O nível baixo de remuneração dos professores não atrai ninguém para a permanência na carreira, quanto mais para se envolver em processos de formação que não tenham uma bolsa adicional por dois anos”, indicou Megid. Ao retornar para a sala de aula, esses profissionais vão se deparar com condições inapropriadas de trabalho para sustentar a aplicação daquele material desenvolvido no aprimoramento. “Serão chamados de mestres, o que amplia muito a dignidade desses professores, mas a dignidade deve ser reconhecida também em termos das soluções profissionais e de trabalho.”
O baixo nível de formação discente fica latente nas avaliações internacionais. Segundo resultado de 2014 do Pisa (Programa Internacional de Avaliação dos Alunos), 55,3% dos estudantes brasileiros alcançaram apenas o nível 1 de conhecimento, ou seja, só são capazes de aplicar o que sabem em situações específicas do cotidiano, e se todas as informações relevantes estiverem presentes.
Sobre as ações da Unicamp para o incremento do mestrado profissional, a professora Rachel Meneguello, pró-reitora de Pós-Graduação, explicou na mesa de abertura do encontro que a instituição está atenta a essas iniciativas para responder de maneira articulada a demandas específicas. Dos 76 programas de pós-graduação na modalidade mestrado da Unicamp, apenas quatro são mestrados profissionais. “Estamos caminhando devagar, mas com qualidade”, destacou a pró-reitora.
O Fórum Universidade Pública e o Ensino de Ciências foi organizado pelo Fórum Pensamento Estratégico (Penses) da Unicamp, um espaço acadêmico, vinculado ao Gabinete do Reitor, responsável por promover discussões que contribuam para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da sociedade em todos os aspectos. O Pensews busca prospectar temas e ideias que de alguma forma estejam à frente do tempo, estreitando a relação da Unicamp com a sociedade.
Comentários
Faculdade de Educação propõe criação de Mestrado Profissional
Informamos que, colaborando com a Unicamp, na questão de formação de docentes, a Faculdade de Educação, através do PPGE, enviou proposta à Capes para a criação de um Mestrado Profissional e Educação Escolar. Estamos aguardando sua avaliação. Bela iniciativa do Penses.
Profa. Mara Regina Jacomeli
Coordenadora do PPGE/Unicamp