Acordo para universidade indígena
03/06/2016 - 09:59
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A Unicamp firmou na tarde desta quinta-feira (3), na Casa do Professor Visitante (CPV), um acordo de cooperação com o povo indígena Paiter Suruí, localizado no município de Cacoal, estado de Rondônia. Com a cooperação será possível o estabelecimento das bases de trabalho conjunto para a realização de cursos de educação superior no território Paiter Suruí, voltados para as sociedades indígenas. O acordo foi assinado pelo reitor da Unicamp José Tadeu Jorge e pelo cacique Almir Narayamoga Suruí, líder maior do povo Paiter Suruí e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Rondônia.
Conforme o cacique Almir Suruí, a expectativa é que, a partir do acordo, seja possível a criação, no futuro, de uma universidade indígena no território Paiter Suruí. O líder indígena também ressaltou a importância da cooperação no sentido de capacitar o povo Paiter Suruí para fazer a gestão do seu território, composto por 148 mil hectares de floresta. Atualmente, vivem no território aproximadamente 1400 pessoas. O primeiro registro de contato com não indígenas aconteceu há 46 anos.
“Esta cooperação é muito importante para o nosso povo. Ela vai possibilitar uma abertura para que tenhamos acesso ao ensino superior de qualidade, com o objetivo de preparar o nosso povo para fazer a gestão do território. Pretendemos levar vários cursos superiores de interesse do povo para o nosso território. Dentro de um plano de 50 anos, nós queremos implementar uma universidade indígena. E esses mesmos professores da Unicamp que estarão no nosso território por meio do acordo de cooperação vão contribuir para criarmos políticas pedagógicas para esta universidade indígena”, explicou o cacique.
Para o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, o acordo deverá contribuir para a preservação da cultura indígena, enriquecendo, ao mesmo tempo, os saberes da Unicamp. “O conceito de universidade que nós defendemos é aquela instituição preocupada com os aspectos de preservação da cultura e com a produção e disseminação do conhecimento em todos os seguimentos da população do país. Portanto, no caso do Brasil, a preservação da cultura indígena e a possibilidade de interação dessa cultura com a universidade tem muito a enriquecer a Unicamp. Essa parceria vai permitir que a Universidade contribua da melhor forma com o conhecimento que gera para que os indígenas possam manter os seu hábitos culturais, disseminar essa cultura e poderem avançar naquilo que entenderem ser mais adequado para o desenvolvimento das suas tribos”, considerou Tadeu Jorge.
A implementação das atividades do acordo ocorre por meio do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE) da Unicamp, inserindo-se no âmbito do projeto Multilinguismo no Mundo Digital e do grupo de pesquisa Interdisciplinar CLE Auto Organização. Também colaboram no projeto, professores da Unicamp ligados ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), Faculdade de Educação (FE), Instituto de Artes (IA), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e Instituto de Computação (IC).
Para a professora Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano, que coordena o grupo de pesquisa interdisciplinar do CLE, o trabalho com o povo Paiter Suruí já vinha sendo desenvolvido há um ano. “Estamos trabalhando conjuntamente com esta etnia desde maio do ano passado, quando fizemos um primeiro seminário no território Paiter Suruí. Este seminário envolveu a participação de cerca de 1000 pessoas, entre indígenas, pesquisadores e estudantes. Foi neste momento que discutimos a possibilidade de criação, via trabalho inicial com a Unicamp, de uma universidade indígena”, lembrou Ítala D’Ottaviano.
A professora da Unicamp informou que há ainda parcerias com docentes de outras instituições como a Universidade Federal de Rondônia, Unesp (campus de Marília e de Presidente Prudente), USP e PUC-Campinas. No plano internacional a Unesco e a Universidade Sami (Tromso, Noruega), participam da iniciativa.
Participaram da cerimônia de assinatura do convênio, além de professores, funcionários e pesquisadores da Unicamp, os docentes do CLE, Walter Carnielli, Claudia Wanderley e Fábio Maia Bertato, além da professora Ariane Porto, do Instituto de Artes (IA). Durante a solenidade, o líder do povo entregou ao reitor um colar que simboliza a sabedoria. Tadeu Jorge retribuiu com um botton comemorativo aos 50 anos da Unicamp.PAAIS
Em conversas com professores e autoridades da Unicamp, o líder Almir Narayamoga Suruí também comentou sobre a importância do desenvolvimento de políticas públicas e ações de inclusão no âmbito do ensino superior. Ele elogiou o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) da Unicamp, o primeiro sem cotas implantado em uma universidade brasileira. “Políticas públicas para educação são um direito do povo e um dever do governo. Eu particularmente não sei se sou favorável a cotas. O governo tem que tratar este tipo de política de forma igualitária para todo o povo brasileiro. Mas acredito que tem que ter uma política para avançar a inclusão social, talvez seja necessário hoje na universidade, mas não tem que ser de todo o tempo. O importante é que o governo leve políticas de educação de qualidade aonde é necessário ser levado”, disse.
Comentários
Excelente iniciativa, fico à
Excelente iniciativa, fico à disposição, como professor da universidade, para contribuir no que seja preciso.
Parabenizo a Unicamp, pela
Parabenizo a Unicamp, pela iniciativa belíssima da instituição, acreditando no potencial dos povos indígenas. Não somos os piores, faltam oportunidade para nós. Temos sabedoria, cultura, identidade e língua própria, ciência tradicional, fé, conhecimento tradicional, etc. Somos iguais a todos povos do planeta, mas simplesmente são negados pela sociedade dominante, o nosso direito de progredir.
Parabéns a Unicamp e a
Parabéns a Unicamp e a inciativa dos povos indígenas. Merecem muito uma Universidade de qualidade e todo apoio da sociedade.