O combate do câncer de cabeça e pescoço deve envolver diagnóstico precoce, mas sobretudo medidas preventivas para que ele nem ocorra. Tabagismo (cigarro), etilismo (bebidas) e Papiloma Vírus Humano (HPV) são os principais fatores de risco para que a doença se desenvolva, além de dieta pobre em frutas e verduras. Os diversos componentes químicos da combustão do tabaco atingem a boca, a garganta e a laringe. Os sintomas na vigência de doença avançada são dor, sangramento, perda de dentes, perda de peso, entre outros. Mas, com o aumento do diagnóstico precoce e dos tratamentos atuais, o índice de cura subiu de 50% em duas décadas para cerca de 70% hoje. Um movimento internacional que luta por aumentar a conscientização e promover educação e treinamento no diagnóstico, tratamento, resultados e pesquisa no câncer de cabeça e pescoço vem acontecendo através da Campanha Julho Verde ao longo deste mês, tendo como marco também o dia 27 de julho (quinta-feira), data que envolverá diversas ações. A campanha integra a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e será lembrada pela Unicamp. Médicos e profissionais da saúde irão orientar os pacientes quanto aos principais fatores de risco e formas de prevenção. Veja a seguir entrevista com o cirurgião do Hospital de Clínicas (HC) Álfio Tincani para o Portal Unicamp esclarecendo sobre o câncer de cabeça e pescoço, que soma anualmente mais de 550 mil casos novos no mundo.
Portal Unicamp - O que é a Campanha Julho Verde?
Álfio - É um movimento internacional com vistas a aumentar a conscientização e promover educação e treinamento no diagnóstico, tratamento, resultados e pesquisa no câncer de cabeça e pescoço. O Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço será lembrado neste dia 27 de julho (quinta-feira). A campanha em nosso país é promovida pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), a segunda maior sociedade da especialidade do mundo, atrás apenas da Sociedade Americana. A nossa sociedade promove durante todo o mês de julho atividades de conscientização e informação no combate a este tipo de câncer. A iniciativa surgiu como parte das cerimônias de abertura do 5º Congresso Mundial sobre Câncer de Cabeça e Pescoço em Nova Iorque, do qual participamos. Na sessão de abertura, houve pronunciamento do ex-presidente dos EUA Bill Clinton e do ator norte-americano Michael Douglas, que foi portador de neoplasia de cavidade oral provavelmente devido ao HPV.
Portal Unicamp - Como os cânceres de cabeça e pescoço incidem na população brasileira e mundialmente?
Álfio - São cerca de 23 mil novos casos anualmente, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Cerca de 7% da população brasileira pode ter infecção pelo HPV detectada na boca. O número parece pequeno mas, em um contexto de 200 milhões de pessoas, esse percentual representa cerca de 14 milhões de indivíduos em risco de desenvolver a doença no Brasil. Nos Estados Unidos, são mais de 55 mil casos novos por ano, representando 3% de novos casos de câncer. No mundo, calcula-se mais de 550 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço anualmente, com uma mortalidade de 300 mil pacientes. A predominância depende muitas vezes dos costumes da população e pode variar nas diferentes regiões do nosso país. O câncer de boca e laringe está hoje entre os cinco mais frequentes entre os homens. Nas mulheres, prepondera o câncer de tireoide, sendo o quinto mais comum entre elas.
Portal Unicamp - Epidemiologicamente, o que tem propiciado o aparecimento do câncer de cabeça e pescoço?
Álfio - Os tumores de cabeça e pescoço são uma denominação genérica do câncer que se localiza em regiões como boca, língua, palato mole e duro, gengivas, bochechas, amídalas, faringe, laringe (onde existem as cordas vocais e é formada a voz), esôfago, tireoide e seios paranasais. Principalmente os fumantes e pessoas que fazem uso frequente de bebidas alcoólicas são os mais afetados. Porém é cada vez mais frequente o diagnóstico da doença em indivíduos jovens (menores que 45 anos) sem exposição a estes fatores de álcool e fumo, agora com tumores originados pelo HPV.
Portal Unicamp - Como age o HPV?
Álfio - A infecção pelo HPV tem contribuído, nos últimos anos, para o aumento da incidência desta doença, segundo a Sociedade Brasileira de Cabeça e Pescoço. É um importante fator de desenvolvimento do câncer de faringe. Uma das formas de contágio por essa infecção é a prática do sexo oral e com múltiplos parceiros.
Portal Unicamp - Como deve ser a prevenção?
Álfio - O diagnóstico precoce e o rápido início do tratamento são fundamentais para a cura do câncer de cabeça e pescoço. Um dos principais problemas é o diagnóstico tardio, que ocorre em 60% dos casos, deixando sequelas no paciente até pelo tratamento com cirurgias de grande porte, muitas vezes seguida de radioterapia e quimioterapia. O diagnóstico precoce é feito pelo achado através do autoexame de uma ferida na boca que não cicatriza. Sangramento oral, dor local ou até nódulos no pescoço podem ser os achados iniciais da doença. Múltiplos parceiros e promiscuidade geralmente são a causa mais comum da infecção pelo HPV.
Portal Unicamp - Quais os tratamentos disponíveis em nosso meio para o câncer de cabeça e pescoço?
Álfio - Os tratamentos irão depender da localização do tumor e do seu estágio de desenvolvimento quando do diagnóstico. Os tumores mais precoces geralmente são tratados com cirurgia ou radioterapia. Os mais avançados podem ser tratados com a combinação de cirurgia, quimioterapia e radioterapia e ainda imunoterapia.
Portal Unicamp - Quais as ações do HC da Unicamp nessa direção?
Álfio - O Ambulatório da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Departamento de Cirurgia está constantemente orientando os pacientes quanto aos malefícios de hábitos como etilismo e tabagismo, além dos riscos do HPV. Neste mês de julho em especial, isto está sendo mais enfatizado ainda. No dia 27 de julho, médicos irão orientar os pacientes sobre os principais fatores de risco e sobre as formas de prevenção.