Começa no próximo dia 19 o Rally dos Sertões 2017 e, além de carros, motos e aventureiros, levará o projeto Saúde e alegria nos Sertões (SAS), com atendimento médico e diversão para as populações das cidades mais carentes do trajeto. As responsáveis pela iniciativa são duas ex-alunas da Unicamp, Adriana Mallet, formada em medicina (FCM), e Sabine Bolonhini, graduada e mestre pela Faculdade de Educação Física (FEF), apaixonadas por viagens e que buscam um jeito de retribuir à sociedade sua formação. “Viajamos para lugares esquecidos e levamos o que temos de melhor”, conta Adriana, coordenadora médica do projeto. “Hoje, sabemos que qualquer pessoa que tenha um projeto de impacto pode fazer diferença”, completa Sabine, coordenadora-geral do projeto.
Em sua quinta edição, o SAS levará 44 voluntários entre médicos, educadores, artistas, engenheiros, comunicadores e estudantes às cidades de Santa Terezinha de Goiás, Alto Garças, no Mato Grosso, e Aquidauana, no Mato Grosso do Sul, além de passar por Goiânia e Bonito, onde começa e termina o rally. “Serão dois caminhões, nove carros e seis motos que percorrerão quatro mil km em dez dias”, revela Sabine.
De acordo com as organizadoras, a ideia é promover saúde e alegria também para quem está viajando. “A gente mapeia lugares fantásticos que nunca teríamos visitado como a Lagoa Santa, o Jalapão, a Chapada dos Veadeiros. São dois dias de atendimento e um dia livre, de deslocamento e turismo. Foi a paixão por viajar que nos uniu. Não queríamos abrir mão disso”, conta Adriana.
As cidades escolhidas para receberem a expedição são caracterizadas por um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo de 0,7, estrutura de saúde precária (de acordo com dados do SUS) e por estarem distantes dos centros urbanos. Além disso, devem ter menos de 20 mil habitantes, conforme a organização. “São municípios que não têm um eletrocardiograma e um aparelho de raios-x, por exemplo”, explica Adriana. De acordo com ela, ao longo desses cinco anos, mais de 20 mil pessoas foram alcançadas pelo SAS.
Uma visão de saúde integral
Nos caminhões, transformados em consultórios a cada parada, os profissionais da saúde oferecem atendimento oftalmológico, ginecológico, dermatológico e dentário. Este ano, um dos caminhões será inteiramente dedicado à saúde da mulher, fruto de uma parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, que apoia projetos de combate ao câncer (Amigoh). “A maioria das mulheres que atendemos já fez exame algum dia, mas nunca viu o resultado”, relata Adriana.
O exame realizado pelo grupo detecta o Papiloma Vírus Humano (HPV), que pode estar associado ao aparecimento de câncer de colo de útero. “Esse tipo de câncer é uma das doenças que mais mata mulheres no país, mesmo tendo cura”, destaca a médica. Em expedições anteriores, das 26 mulheres que apresentaram lesões precursoras do câncer e passaram por procedimentos cirúrgicos ambulatoriais, apenas uma precisou ser encaminhada para cuidados hospitalares mais complexos.
O grupo busca sempre planejar ações multidisciplinares, entendendo a saúde de modo integral. Assim, fará parte do projeto de saúde da mulher uma equipe de advogadas que dará orientações contra a violência doméstica. “Infelizmente é uma realidade muito comum. É importante que as mulheres conheçam os seus diretos”, pontua Adriana.
Diversão e saúde
Os projetos voltados para as crianças procuram associar os cuidados de higiene e saúde à diversão. O Ver magia, por exemplo, coordenado por outra ex-aluna da Unicamp, Ana Carolina Carneiro, une oftalmologia e cinema. “Ao serem avaliadas, as crianças ganham um ingresso para o cinema. A ideia é entregar os óculos para as que precisam no mesmo dia e elas poderem ir ao cinema já com os óculos, enxergando”, explica Adriana. “A tela do cinema desce ao lado do caminhão e a gente já vê os olhinhos das crianças brilharem porque nunca tinham visto uma tela daquele tamanho. São lugares realmente esquecidos”, descreve.
Outras ações incluem aulas de escovação e de lavar as mãos, brincadeiras e atendimento ambulatorial.
Educação e impacto social
Mas não são apenas as populações carentes as impactadas pelo SAS. A experiência também deixa marcas profundas nos voluntários. “Nosso sonho é sistematizar uma proposta de educação também para quem vai às expedições”, explica a coordenadora. Ela acredita que o ensino baseado em projetos como o SAS podem preencher algumas das lacunas deixadas pelo ensino formal. “Por mais que você ensine matemática e português, o estudante não sai preparado para resolver problemas da vida real. Eu acredito muito que projetos como o nosso possam contribuir para uma formação mais integral”, afirma.
A proposta do SAS foi ao encontro do programa de formação de líderes do cursinho Anglo SP, por meio do qual 54 jovens são selecionados para participar de um projeto de impacto social. A expedição foi para Sete Barras, no Vale do Ribeira, a região mais pobre do Estado de São Paulo. O desafio do grupo era, a partir de treinamento com oftalmologistas, triar duas mil crianças em um fim de semana para passar por consultas.
De acordo com Adriana, mais da metade desses estudantes estão se preparando para o vestibular de medicina, o que tornou a experiência ainda mais impactante. “Para muitos deles foi a primeira experiência médica. Foi propósito na veia. Hoje eles entendem para que estão se esforçando”, ressalta.
Acompanhar e participar
Desde 2015, o SAS não seleciona mais voluntários, seleciona projetos. Para participar das expedições, os interessados devem submeter propostas de intervenção alinhadas com as frentes de atuação do grupo. O processo de seleção ocorre sempre antes das expedições e é divulgado pelas redes sociais. Acompanhe o trabalho do SAS pelo facebook, instagram, youtube e flickr.