Coletivo Transverso (estêncil e lambes), New Family Crew (grafite), Vitor Mafra (Arena de Rap) e alunos da Unicamp trazem os direitos humanos e a diversidade em forma de arte para a Unicamp. De acordo com a diretora de Cultura, Verônica Fabrini, as atividades fazem parte do projeto “Cultura na Unicamp: no que isso me afeta?”. As intervenções acontecem de 26 a 28 de fevereiro, das 10 às 18 horas, em diversos pontos do campus de Barão Geraldo. A iniciativa de trazer as intervenções urbanas para o ambiente acadêmico é da Diretoria de Cultura da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) e do Comitê Gestor do Pacto Universitário pela Promoção do Respeito à Diversidade, da Cultura da Paz e dos Direitos Humanos na Unicamp.
A Arena de Rap acontece dia 28, das 17h30 às 21 horas, no teatro do Ciclo Básico e deve reunir grupos de hip hop de Campinas e região, de acordo com Vitor Mafra, idealizador do projeto e aluno de ciências sociais da Universidade. Projeto de extensão do Centro de Lógica e Epistemologia (CLE) da Unicamp, a Arena nasceu justamente com a proposta de utilizar o rap como veículo cultural artístico para unir a comunidade acadêmica e a sociedade, segundo Mafra. Além dele, participam mais dois alunos da Unicamp, um DJ e um artista de hip hop. Recém-chegado de Cabo Verde, onde apresentou o projeto, Mafra acredita que por meio de eventos como a Arena e o projeto Cultura na Unicamp seja possível construir o respeito à diversidade de maneira orgânica.
Um teatro de arena pode encerrar o dia com outras cores, o cinza já batido de uma caixa de ar-condiconado pode anoitecer colorido e, no caminho percorrido rotineiramente, uma poesia pode desviar sua atenção: “O poema muda o sentido do caminho”. De acordo com Verônica Fabrini, a ideia de realizar a intervenção urbana na calourada converge com a proposta da DCult de construir um ambiente de integração, capaz de acolher diversidades. “Com estas intervenções, a Diretoria de Cultura pretende fazer com que as pessoas olhem a cultura não como um lugar que tem de ser assistido ou pelo qual se tem de pagar ingresso, mas algo que já está ali para ser utilizado. E a intervenção urbana, sendo democrática, tem esta função de aproximar as pessoas desta concepção de cultura.”
Coletivo Transverso
“A rua é o principal espaço de expressão da diversidade, é o lugar político por excelência”, acentua Cauê Maia, coordenador do Coletivo Transverso. Sobre a participação na calourada, ele enfatiza: “Nosso trabalho propõe a reflexão. A escola de quem não tem é a rua. E para nós, que a temos e gratuita, a responsabilidade que nos cabe é divulgar o mais amplamente possível o resultado de nossas pesquisas e nossos trabalhos.”
Segundo Cauê, o Transverso já esteve na Unicamp, a convite da professora Heloisa Cardoso, do Departamento de Artes Cênicas, e uma de suas intervenções (um lambe-lambe com a frase "seguro morreu de tédio") inspirou uma pergunta no vestibular da Unicamp. O tema diversidade, escolhido pela DCult é muito oportuno em sua opinião. “É preciso que haja diversidade, que ela seja respeitada e cultivada por quem assim o queira. Novas formas, mais gentis e cuidadosas, de conviver no espaço público virão apenas com o respeito ao outro, aos múltiplos outros. É preciso sobretudo reconhecer a humanidade no que é diverso, perceber isso que nos é comum a despeito das divergências.”
New Family
Grupo formado em Campinas, o coletivo New Family contará com vários artistas de Campinas e pessoas da comunidade acadêmica que desejarem participar das ações. Atualmente, o time é composto por Dimi e Moai, que fazem parte desde sua primeira formação. A criação surgiu da vontade de reunir novos talentos do graffiti de Campinas.
Conhecido pela atuação nas ruas, mais recentemente na Avenida Aquidabã, no centro de Campinas, a New Family Crew já chamou a atenção de diversas empresas, pelo estilo e qualidade, recebendo convites para trabalhos em parceria com várias marcas. Seu único critério, segundo Dimi e Moai, é “nunca perder a essência das ruas”.
Direitos Humanos
Para Verônica Fabrini, a parceria com o Pacto Universitário pela Promoção do Respeito à Diversidade, da Cultura da Paz e dos Direitos Humanos da Unicamp na Calourada é enriquecedora, pois o momento de recepção aos calouros é estratégico para realização das ações, por tratar-se da ocasião em que os jovens chegam à Universidade abertos a novas experiências e percepções, portanto propensos a absorver os conceitos que a Unicamp lhes apresenta. “A ideia de uma Universidade integradora, que permite aproximações e que, portanto, acolhe diversidades e proporciona suas conexões é objetivo central neste projeto.”
A coordenadora do Comitê Gestor do Pacto, Neri de Barros, enfatiza que este momento de recepção aos calouros é importante pela possibilidade de apresentar à geração de ingressantes de 2018 uma Universidade comprometida com os Direitos Humanos e gerar neles empatia por esse dado de identidade da comunidade na qual estão se inserindo. “A missão da Universidade é produzir e divulgar conhecimento. Mas essa experiência por si só não é capaz de garantir o respeito aos Direitos Humanos – a sociedade é que deve escolher realizar este movimento. No entanto, cabe à Universidade divulgar os dados e argumentos de que dispõe para esclarecer que os Direitos Humanos são uma resposta a situações concretas de violência altamente destrutivas da vida humana e das condições de existência.”
A participação do Pacto na Calourada coincide com a comemoração, em 2018, de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além da parceria no projeto “Cultura na Unicamp: no que isso me afeta?”, o Pacto integra com textos e vídeos o Manual do Calouro da Pró-Reitoria de Graduação. “A Declaração Universal dos Direitos Humanos resulta da consciência que se tinha em 1948 de que a destruição provocada pela segunda Grande Guerra resultou de uma forma mais insidiosa de violência que consiste fundamentalmente na negação ao outro, ou seja, na negação do reconhecimento de sua condição humana e de seu direito à vida, à liberdade e à identidade. Assim, é importante que se diga que os Direitos Humanos têm de ser abordados em sua relevância abrangente e universal. É comum pessoas fazerem julgamentos negativos sobre seu valor, motivadas pelo medo e ressentimento ligados a eventos pontuais. É preciso, portanto, por meio de informações, que fique claro que os Direitos Humanos não podem ser avaliados desse ponto de vista uma vez que eles se aplicam ao próprio direito de reconhecimento de nossa humanidade.”
Neri lembra que, ao longo do ano, serão realizadas várias ações direcionadas à promoção dos direitos humanos e o convite é aberto. “Contamos com todos: estudantes, docentes e funcionários! Queremos opiniões, críticas, e sugestões. Queremos também receber o relato das expectativas, dos problemas e também das boas experiências no campo da pesquisa, do ensino, da gestão e do convívio. No final do ano, gostaríamos de oferecer como presente à comunidade um balanço do que a Unicamp fez pela sociedade trabalhando em favor dos Direitos Humanos.”