Houve uma acentuada melhora no desempenho da Unicamp no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade 2017), de acordo com os Indicadores de Qualidade da Educação Superior – do qual derivam o Conceito Enade e o Indicador de Diferença entre os Desempenhos Esperado e Observado (IDD). Os resultados foram apresentados pelo Ministério da Educação e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em 9 de outubro; agora em novembro, o Inep divulgará outros dois indicadores: o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC), também derivados dos resultados do Enade e de outros insumos.
A professora Eliana Amaral, pró-reitora de Graduação da Unicamp, faz uma análise dos resultados e atribui a melhora de desempenho da Universidade às ações de esclarecimento junto a todos os cursos que realizaram o Enade 2017, em visitas com a presença dos coordenadores e estudantes inscritos, buscando garantir uma participação consciente e minimizando o boicote – “que se manifesta comparecendo, mas não respondendo adequadamente às questões”. Em meio a uma longa viagem de trabalho, Eliana Amaral concedeu, por e-mail, a entrevista que segue.
Portal da Unicamp – Houve uma melhora acentuada no desempenho da Unicamp em cursos como de arquitetura e urbanismo, ciência da computação, ciências biológicas e mesmo em ciências sociais. A que atribui essa melhora?
Eliana Amaral – A conscientização sobre a importância do Enade na avaliação do ensino superior permite a realização da prova de forma comprometida. A PRG reforçou ações de esclarecimento junto a todos os cursos que realizaram o Enade 2017, buscando garantir uma participação consciente, que representasse os conhecimentos adquiridos nos cursos de Graduação da Unicamp, minimizando o boicote que se manifesta comparecendo, mas não respondendo adequadamente às questões. Foram feitas visitas a todas as unidades pela assessora da PRG, professora Mara Patrícia Mikahil, com a presença dos coordenadores e estudantes inscritos de acordo com critérios encaminhados pelo Enade (concluintes 2017). Nestas reuniões, o foco foi esclarecer a todos sobre o Sistema de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes) e seus componentes, incluindo Enade, e sobre a importância de uma participação consciente e qualificada.
Foi esclarecido que a participação é um componente curricular obrigatório com registro no diploma, requerido para todos os alunos do ensino superior selecionados no ano a que corresponde, em ciclos trienais. Também informamos que seus resultados são utilizados no processo de reconhecimento e renovação de reconhecimentos dos cursos de graduação pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) e também como critério de seleção em editais do Governo Federal. Ainda foi explicada a relevância do preenchimento de alguns instrumentos eletrônicos complementares que compõem a avaliação completa do Sinaes, que são o cadastro socioeconômico e questionário do estudante.
Na edição de 2017, tivemos 39 de 52 cursos com conceito Enade 4 e 5 e apenas um curso com conceito abaixo de 3. Além dessa situação específica, sabemos que pode ainda ter havido algum “boicote”. Muitos cursos tiveram acentuada melhora no conceito, o que entendemos ser reflexo da maior compreensão e adesão ao exame, gerando um resultado que reflete melhor o verdadeiro desempenho do nosso estudante, e consequentemente, do curso e da instituição. Mesmo que seja reconhecida a qualidade dos cursos da Unicamp, ter esses resultados permite oferecer à sociedade um retrato mais fiel deste nosso processo formativo de qualidade. Entendemos que a melhoria nestes conceitos reflete a participação comprometida dos nossos estudantes, com apoio das coordenações.
Portal da Unicamp – Mas também houve piora, como em análise e desenvolvimento de sistemas, química tecnológica e educação física. Quais seriam os motivos?
Eliana Amaral – Temos que lembrar que conceito 3 significa curso adequado, na média dos demais. Esses três casos, que foram exceção entre os 52 cursos da Unicamp cujos estudantes realizaram a prova de 2017, precisam ser analisados, junto com a direção da unidade, coordenação e Núcleo Docente Estruturante. Não podemos saber se foi consequência de aumento de percentual de estudantes que optou por “boicotar a prova”. Não há razão para acreditar que outros motivos explicariam essa pequena variação. Os resultados da versão 2017 do Enade serão debatidos com os interessados assim que for divulgada, pelo Inep, a distribuição de respostas por questão para o conjunto de estudantes de cada um dos nossos cursos.
Para o curso de Educação Física Licenciatura, temos uma situação particular. Os alunos, em sua maioria, fazem duas habilitações que são bacharelado e licenciatura, e realizaram o Enade 2016 ao concluírem o Bacharelado em 2016. Mas alguns destes alunos que realizaram a prova foram convocados a fazer o Enade 2017, ano em que concluíram a sua 2ª habilitação (licenciatura). Podem ter comparecido, o que é a exigência, mas não respondido às questões da prova. Dos 37 inscritos no curso noturno, 23 fizeram a prova em 2016; no curso integral, 50 concluintes, sendo que 24 fizeram 2016 e 2017.
Portal da Unicamp – Houve um aumento no comparecimento dos alunos? Acha que há por parte deles maior conscientização sobre a importância do Enade? Por que considera essa participação importante?
Eliana Amaral – Acredito que é resultado do trabalho de conscientização que se tem feito ao longo dos anos, com importante envolvimento e dedicação das coordenações. O Conceito Preliminar de Curso (CPC), um indicador de qualidade que avalia os cursos de graduação. Seu cálculo e divulgação ocorrem no ano seguinte ao da realização do Enade, com base na avaliação de desempenho de estudantes, no valor agregado pelo processo formativo e em insumos referentes às condições de oferta – corpo docente, infraestrutura e recursos didático-pedagógicos –, conforme orientação técnica aprovada pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes). Ter uma avaliação suficiente no CPC e no Enade facilita o processo de Reconhecimento do Curso junto ao CEE. Esse fato contribui para um compromisso da comunidade da Unicamp com esses resultados.
Portal da Unicamp – O boicote, como na pedagogia, ainda é uma questão a ser superada? Qual a argumentação para o boicote?
Eliana Amaral – Como para os outros cursos, foi realizada reunião na Faculdade de Educação com presença de um grande número de alunos, que questionaram a realização do exame e apresentaram seus argumentos. Os aspectos apontados, na discussão, referem-se a críticas ao processo de avaliação do ensino superior e sua pouca permeabilidade às características das diversas instituições, além de insatisfação com políticas oficiais que afetam a formação de professores, por exemplo. Após, mantiveram-se reunidos para discutir, deliberar e votar sobre sua participação no Enade 2017.
Portal da Unicamp – Quais as ações que a PRG vem colocando em prática em relação ao Enade?
Eliana Amaral – Além do processo de conscientização nas unidades, temos divulgado os resultados e explicado os componentes que compõem o Sinaes em visitas da Pró-Reitora às congregações das unidades de ensino e pesquisa e reuniões das instâncias acadêmicas, como Câmara Central de Graduação (CCG), Câmara de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) e Conselho Universitário (Consu). Também temos acompanhado as visitas para renovação de reconhecimento dos cursos realizadas pelas equipes de avaliadores designados pelo CEE e salientado o desempenho dos nossos estudantes e nossa participação no Sinaes. Nessas visitas sempre se discutem os resultados do Enade anterior e como orientar a comunidade acadêmica sobre a importância de termos uma avaliação de desempenho que faça justiça ao curso e à instituição. Lembramos ainda que um bom desempenho simplifica o processo de renovação de reconhecimento. A essas ações, somam-se as visitas anuais aos cursos selecionados no ano para realizar Enade, com presença das coordenações e estudantes. Este ano, serão os cursos de Ciências Econômicas, Administração, Administração Pública e os antigos cursos de Gestão da FCA que constam com alguns concluintes em 2018.