Os gols virão

16 de setembro de 2010

Por Phil Baty

Ao contrário de seus times de futebol, as universidades da América do Sul não se destacaram no cenário global. Mas o Brasil parece propenso a atingir em breve grandes sucessos. O continente sul-americano não tem uma única instituição na lista da Times Higher Education das melhores 200 universidades do mundo.E as instituições que estão mais próximas de conseguir entrar na lista, de acordo com um especialista, ficam prejudicadas por uma série de obstáculos em sua escalada.

“A América Latina tem diversos desafios no caminho do desenvolvimento das universidades de classe internacional”, diz Philip Altbach, diretor do Centro para Educação Superior Internacional do Boston College, nos EUA. As principais concorrentes são as grandes universidades públicas do continente, como a Universidade de Buenos Aires. Entretanto, estas estão dominadas por estruturas de governo burocráticas, atrasadas e às vezes politizadas. Elas contam principalmente com um corpo docente em meio período – e o pessoal em meio período não pode ser a base de uma universidade de pesquisa. Elas também são sub-financiadas e a maioria não pode cobrar honorários de seus alunos.

Mas, sem dúvida, pode-se ver alguma luz nesta questão, diz ele. “Talvez apenas no estado brasileiro de São Paulo possa haver universidades de classe internacional. Suas 2 principais universidades têm corpo docente com nível de doutorado, contratados em tempo integral, e as universidades possuem uma significativa missão de pesquisa, com financiamento adequado do estado.”

Na verdade, a Universidade de São Paulo chegou muito perto de ser incluída na tabela das 200 melhores instituições em 2010-11 – como revelado pelos dados da aplicação Times Higher Education World University Rankings iPhone, que inclui informações sobre mais de 400 instituições.

A classificação iPhone rankings app também revela que a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade de São Paulo estão bem perto das 200 melhores.

Em seu livro The Challenge of Establishing World Class Universities, de 2009, Jamil Salmi, coordenador de educação terciária do Banco Mundial, destaca tanto o potencial como os desafios na Universidade de São Paulo.

É a instituição mais seletiva do Brasil, escreve, e tem “o número mais alto de programas de graduação bem conceituados, e a cada ano ela produz mais doutores graduados do que qualquer universidade americana”.
Mas ele lamenta: “Ao mesmo tempo, sua habilidade de gerenciar seus recursos é restringida por regulamentos de serviço civil, mesmo que seja a universidade mais rica do país.

“Ela tem bem poucas ligações com a comunidade internacional de pesquisa, e apenas 3 por cento de seus alunos de pós-graduação são de fora do Brasil. A universidade é muito voltada para dentro de si mesma.”

Salmi informa para a THE que na região tem havido um desenvolvimento muito positivo. Ele destaca o estabelecimento de sistemas de reconhecimento na maioria dos países, e o desenvolvimento de sistemas de empréstimo a estudantes no Brasil, no Chile e na Colômbia.

Entretanto, ele também pontua os desafios: baixo investimento público no ensino superior, estruturas de governo medíocres, escassez de programas de intercâmbio e associações internacionais, cultura predominantemente monolíngüe no campus e uma “falta de visão a longo prazo do desenvolvimento do ensino superior”.

Mas Andreas Schleicher, chefe da divisão de indicadores e análise da Organização para Cooperação Econômica e do Development’s Directorate for Education, diz que para alguns países na região, “tem havido desenvolvimento recente muito interessante” que pode brevemente ter um impacto nos World University Rankings da Times Higher Education.

“Enquanto para a maioria dos países da OECD o gasto por aluno continuou a subir desde 2000, países como Brasil e Chile viram crescimentos ainda mais rápidos na participação do que nos níveis de gasto”, diz.

O gasto por aluno no Chile caiu 25 por cento e 15 por cento no Brasil – “ e no entanto, o retorno do mercado de trabalho para o ensino superior parece estar se equilibrando.

“No Brasil, a vantage em ganhos de formados terciários sobre os formados na escola secundária está agora acima de 263 por cento, bem acima do número para qualquer país OECD. O número para os EUA, que é alto pelos padrões OECD, é de 177 por cento.

”É difícil dizer até que ponto os fatores de oferta e procura são relevantes neste caso, mas estes dados sugerem que a qualidade está melhorando.”

E o continente parece pronto para se mostrar muito maior na pesquisa de classe internacional em algumas áreas chave.

Um relatório Global Research Report on Brazil da Thomson Reuters, o fornecedor de dados para o World University Rankings, identifica o Brasil como força dominante no novo pacote de “Tigres latinos” – incluindo o México e a Argentina.

O relatório diz que a parte de trabalhos científicos internacionais da América Latina subiu de 1,7 por cento em 1990 para 4,8 por cento em 2008. Em 1981, quase 2.000 trabalhos tinham o endereço de um autor no Brasil. Em 2008, o número foi cerca de 20.000.

“A característica mais marcante da nova geografia da ciência é a escala de investimento e mobilização de pessoas por trás da inovação que está em andamento, impulsionada por uma visão de alta tecnologia de como ter sucesso na economia global,” diz o relatório Thomson Reuters.

O Brasil, que tem uma população de 190 milhões, gastou £8,4 bilhões em pesquisa e desenvolvimento em 2007: isto equivale a cerca de 1 por cento do produto interno bruto – bem à frente de muitos países europeus.

A cada ano, o país produz mais de 500.000 novos graduados e quase 10.000 novos pesquisadores com doutorado, diz o relatório, representando uma multiplicação por 10 em 20 anos.
É nas ciências biológicas que o Brasil causa mais impressão.

Entre 2003 e 2004, o país publicou por volta de 85.000 trabalhos, que representam 1,83 por cento de todos os trabalhos publicados em periódicos indexados pela Thomson Reuters.

Mas o Brasil é responsável por cerca de 19 por cento da quantidade mundial de trabalhos de pesquisa em medicina tropical, e mais de 12 por cento de pesquisas em parasitologia.

Neste relatório, Thomson Reuters adverte: “o Brasil é uma economia de pesquisa cada vez mais importante e competitiva. Sua força de trabalho em pesquisa e investimento em P & D estão se expandindo rapidamente, oferecendo muitas possibilidades novas em um portfólio de pesquisa em campos diversificados. O perfil do Brasil, em busca da excelência, tamanho e interface com o restante da base de pesquisa internacional, fazem dele um parceiro essencial em qualquer futuro portfólio de pesquisa internacional.