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>>ENSINO
Um
belo programa, que eleva nível da educação
Unicamp, em parceria com prefeituras, leva
Programa de
Formação de Professores do ensino básico
para 20 cidades
da Região Metropolitana de Campinas
JOÃO
MAURÍCIO DA ROSA
Um
dos maiores problemas educacionais do Brasil a limitada
formação dos professores do ensino básico
- começa a ser combatido na sua origem a partir de agosto,
com o início das aulas do Programa de Formação
de Professores na Unicamp. O curso é gratuito e o projeto
está integrado à política pública
de formação de professores em ensino superior.
Coordenado
pela Faculdade de Educação (FE) e destinado aos
professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental
de 20 cidades da região, o programa atende aos requisitos
da Lei de Diretrizes e Bases, que determina a formação
superior para os professores das séries iniciais do ensino
fundamental e estabelece um prazo de dez anos para a adequação
dos professores não graduados.
A
trajetória da educação básica no
Brasil sofreu uma guinada histórica nas últimas
décadas, privilegiando a massificação do
ensino em detrimento da qualidade. Ampliou-se o número
de vagas e o acesso dos menos favorecidos, mas prejudicou-se
o conhecimento. O achatamento salarial e o aumento da carga
horária dos professores afetaram o nível de ensino
e promoveram uma grande migração para o setor
privado, que teve um crescimento sem precedentes. A educação
tornou-se um produto barato e a elite, que predominava nas escolas
públicas, migrou para escolas particulares, sendo seguida
pelos bons professores.
A
dívida com os professores do ensino fundamental e infantil
é imensa, não só pelo número de
profissionais ainda não graduados, como pelo empobreciemnto
ocorrido na sua formação básica e média,
em geral realizada nas próprias escolas públicas,
diz a professora Agueda Bernardete Bittencourt, diretora da
FE.
Colega
para colega Para contornar em parte essas dificuldades,
o programa contará com o envolvimento de 25 professores
da Faculdade. Eles farão um trabalho inicial intenso
com 72 profissionais auxiliares, pós-graduados pela própria
FE, e que já atuam nas escolas municipais, têm
experiência, portanto, quanto à realidade em que
vivem os alunos e seus colegas professores na rede pública.
Esta primeira etapa vai demandar 720 horas/aulas até
agosto, sendo 480 teóricas e 240 práticas, com
estágios nas unidades da Unicamp.
Será uma maratona para os docentes da Unicamp, que iniciam
o programa ao mesmo tempo em que orientam o curso de graduação,
até a sua conclusão, com carga horária
de 1.800 horas em cada uma das dez turmas previstas, além
de 400 horas de práticas culturais dentro da Universidade.
E o trabalho não pára no fim do curso. Segundo
uma das coordenadoras do programa, Elisabete Pereira, a proposta
é criar uma estrutura de educação continuada
em cada um dos municípios.
Curso
em três níveis O programa conta com
três níveis de curso: aperfeiçoamento, especialização
com pós-graduação latu-sensu e graduação
em Pedagogia. A expectativa é atingir em 2002, segundo
a professora Agueda, 60 professores já graduados
para formação em pós-graduação
e 400 que serão graduados em Pedagogia ao longo
de três anos. Estima-se que existam 2.780 professores
da rede municipal de ensino da Região Metropolitana de
Campinas necessitando do curso. Do total de 4.012 professores
do ensino fundamental, 1.555 não são graduados.
No ensino infantil estão 3.091 professores, sendo 1.225
sem formação superior.
O
ensino infantil não é obrigado, pela lei, a ter
professores formados, mas para nós isto é uma
exigência, ressalta Agueda. O Estado de São
Paulo ainda é privilegiado, porque são poucos
os profissionais que não possuem pelo menos o curso médio
de Pedagogia, embora tenham avançado em titulação,
em termos de cultura não houve evolução,
acrescenta. Nos próximos cinco anos, todos os professores
da rede que ainda não possuem cursos de graduação
e especialização, terão a oportunidade
de acesso aos cursos universitários.
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Projeto
é uma construção coletiva
Trata-se
do projeto de maior alcance social da Unicamp e um ato heróico
que deve ficar registrado, destacou o reitor Hermano Tavares,
ciente das dificuldades e importância do programa, durante
a cerimônia de assinatura do convênio, em 14 de
março, reunindo autoridades da região, entre prefeitos,
secretários de educação municipais e representantes
das prefeituras. Das 19 cidades da Região Metropolitana
de Campinas que assinaram convênio de participação
no programa, apenas Holambra ficou de fora. Amparo e Piracicaba,
embora não façam parte da RMC, estão incluídas.
O
programa foi uma construção coletiva e hoje nos
alegramos com a forma que tomou, afirma o pró-reitor
de Graduação, Angelo Cortelazzo. Segundo ele,
o curso servirá de exemplo para outras ações
em universidades de todo o País, principalmente pela
estrutura inovadora. Para o vice-prefeito de Vinhedo, Élcio
Bocaleto representante do prefeito e presidente da RMC
Milton Serafim , a ação concreta para a
qualificação dos professores permite uma reflexão
crítica, pois se trata de um projeto de popularização
da Unicamp. O conhecimento produzido na Universidade terá
um efeito multiplicador nas salas de aula dos municípios.
Portanto, é difícil dimensionar a importância
do momento, avaliou.
Propostas,
discussões e muito empenho nortearam as reuniões
do Fórum de Secretários de Educação
ao longo do ano passado, até se chegar ao esboço
final do programa. O primeiro contato se deu em um café
da manhã no dia 10 de janeiro de 2001, dias depois da
posse dos prefeitos da RMC. Inúmeros encontros se sucederam,
diante do interesse dos secretários e da Unicamp na equação
de problemas ligados às secretarias, principalmente referentes
à formação de professores.
Inovador
Uma das coordenadoras do programa, Elisabete Pereira,
explica que um dos princípios para a estruturação
do curso foi justamente o de oferecer aos municípios
a possibilidade de organizar atendimentos de educação
continuada a seus professores, uma infra-estrutura de formação
em cada uma das secretarias. O caráter inovador
do projeto é o de possibilitar uma preparação
integral e intensiva. Para a coordenadora, a proposta
é fruto de um processo de reflexão e crítica
entre diferentes concepções sobre a formação
de docentes.
De acordo
com o assessor da Secretaria de Educação de Sumaré,
José Carlos Mariano, atuante desde as primeiras reuniões,
foi um período produtivo e de muitos questionamentos.
Era necessário buscar respostas para diversas questões,
como a liberação de recursos e estrutura do curso,
comenta. Ele concorda com Cortelazzo quando o pró-reitor
define o projeto como uma construção coletiva.
Em muitos momentos, as variadas idéias e maneiras
de enxergar as coisas ajudaram a construir o curso. O
assessor entende também que o programa garante sustentação
para se manter uma equipe de formação continuada
em Sumaré. Teremos um grupo de alto gabarito, que
permitirá unir a teoria e a prática.
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Uma
vocação para a qualidade
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