|
>>
LIVRO
Os
antigos habitantes do Brasil
Professor da Unicamp narra para crianças
as origens dos povos indígenas,
no primeiro de uma coleção de 10 livros sobre
História
Qual
criança trocaria a descoberta de um segredo ou atalho
no jogo de videogame por saber o que é uma igaçaba?
De imediato, seria difícil convencê-la. Mas com
a didática e simplicidade aplicadas no livro Os
antigos habitantes do Brasil, escrito pelo historiador
Pedro Paulo Funari e editado pela Fundação Editora
Unesp, conhecer a história e a origem dos povos que habitavam
este país antes mesmo de ele ser descoberto se torna
divertido.
Lançado
em janeiro, Os antigos habitantes... é o
primeiro volume dos dez que compõem a coleção
Nossa História, coordenada pela professora Ernesta Zamboni,
do Departamento de Metodologia de Ensino da Faculdade de Educação
(FE) da Unicamp. Os textos de todos os livros foram padronizados
e adaptados pelo escritor de livros infantis Luis Galdino à
linguagem do público alvo (infantil e infanto-juvenil,
entre 7 e 11 anos, segundo Ernesta).
Com
texto fácil de ler apesar da gama de dados
e muito bem ilustrado pela artista gráfica Isabel Voegeli
Stever, a obra leva uma outra vertente da pré-história
aos bancos escolares. Os livros para crianças que
existem sobre esse período contam, basicamente, a pré-história
universal, diz Funari, professor do Departamento de História
da Unicamp. Sobre a origem dos povos que viveram no Brasil antes
da descoberta em 1500, há apenas uma outra obra voltada
a essa faixa etária: Os primeiros habitantes do
Brasil, de Norberto Luiz Guarinello), que é indicado
na seção Livros para consultar, na
penúltima página da obra de Funari.
Doutor
em arqueologia desde 1990, o professor e autor do primeiro volume
da coleção Nossa História afirma que detalhar,
de forma didática, desde as prováveis origens
dos povos indígenas até seus hábitos, gostos,
heranças e formas de manifestação é
uma maneira de incentivar o aprendizado sobre o assunto, quase
esquecido nas instituições brasileiras. É,
sobretudo, uma tentativa de substituir as informações
responsáveis pela construção da imagem
caricata e padronizada do índio pelo conhecimento da
cultura de povos cujo sangue corre nas veias de mais de 40 milhões
de brasileiros. Nas séries primárias quase
não se ensina o tema.
Origens
Alguns estudiosos acreditam que os índios possam
ter origens asiáticas, por conta dos traços comuns
aos de chineses e japoneses cabelos lisos, poucos pêlos,
olhos puxados. Uma das explicações encontradas
no livro de Funari para a saída desses povos rumo à
América do Sul é a travessia pelo Estreito de
Bering, já que o nível das águas era mais
baixo e os orientais poderiam ter atravessado a passagem a pé.
Uma minoria de especialistas acredita que esses povos
poderiam ter vindo pelo Pacífico, da Oceania, diz
o pesquisador.
Segundo
Funari, muito se perdeu da História. Uns 99%,
diz, pois o que se preservou foram cerâmicas, pedras e
pinturas nas cavernas. Mas das danças, casas e
costumes do cotidiano restou quase nada, lamenta.
Apesar
das controvérsias sobre a data de chegada dos primeiros
habitantes ao Brasil, Funari afirma que, seguramente, já
havia povos vivendo nas terras brasileiras há pelo menos
10 mil anos. Há teorias sobre a vinda de africanos
há 40 mil anos, de mongolóides há 20 mil
anos. Até 80 mil anos eu acho aceitável, embora
não existam dados seguros.
Fotos
de instrumentos utilizados para caça, a história
dos sambaquis, a importância da pedra e da cerâmica,
o gosto pela pintura, as raridades perdidas, a reconstrução
do ambiente terrestre, os deveres dos grupos indígenas,
seus costumes, sua língua e seu dia-a-dia são
mostrados em textos e ilustrações em Os
antigos habitantes do Brasil.
Entrelinhas
O incentivo ao estudo da Arqueologia é, por fim,
a mensagem escrita nas entrelinhas da obra do professor.
Apesar
de ainda não vingar nos currículos das universidades,
por ser uma ciência cara e pouco divulgada, trata-se de
uma tarefa bastante envolvente, segundo Funari. Mas é
bom lembrar que vivemos num país em que o acesso à
educação não é fácil. O número
de pessoas que vai para a universidade é restrito e isso
se agrava quando falamos em pós-graduação,
lamenta. Uma pena.
Ah,
e a igaçaba? O grande pote de cerâmica utilizado
por nossos primórdios para conservar o cauim (cerveja
de milho), e que quando ficava velho servia como urna funerária
para guardar restos mortais e impedir seu contato com o chão,
é apenas uma das tantas curiosidades relatadas no livro
do professor Funari.
-------------------------------------------
Coleção
Nossa História
O
Idealizadora da coleção Nossa História,
a professora Ernesta Zamboni se baseou em exemplos europeus
para apresentar textos mais densos sobre História às
crianças. Para tanto, tivemos o cuidado de obter
um material bem ilustrado, com cópias fiéis de
objetos de museus, e um projeto gráfico leve e bonito,
desenvolvido por Mari Pini, diz a coordenadora do trabalho.
Na Europa, vi muitos livros com textos historiográficos
para essa faixa etária e pensei em como o ensino aqui
é carente desse tipo de incentivo.
Os
dez livros, produzidos por pesquisadores, historiadores, arqueólogos
e especialistas em algumas particularidades da História,
têm o objetivo de incentivar a leitura, o conhecimento
sobre as próprias origens, servir de complemento no aprendizado
e preparar melhor os estudantes para um futuro não tão
distante, segundo Ernesta.
Ela
ressalta, nesse processo, a participação da Fundação
Editora Unesp. Queremos que esses alunos cheguem às
universidades melhor preparados para ler, aprender, pesquisar,
buscar informações complementares, afirma.
E a editora inovou, abrindo espaço para publicar,
além de ensaios e livros acadêmicos, textos para
o público infantil e juvenil.
O
lançamento de outros dois volumes da coleção
Nossa História está programado para meados deste
ano. Histórias sobre o mar português e o Brasil
imperial serão os temas das obras dos professores Paulo
Micelli e Iara Lis Schiavinatto, ambos da Unicamp.
-------------------------------------------
|
|