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Reitores da região do Mercosul
buscam estratégia comum

Trabalho mostra que maioria dos agressores são desconhecidos,
ao contrário do que diz a literatura

LUIZ SUGIMOTO

Todos os indicadores, diretos e indiretos - publicação de trabalhos científicos, número de pesquisadores, produção de patentes -, apontam a América Latina como uma das regiões do planeta que menos investe em tecnologia. Um atraso que aumenta diariamente, segundo o professor Jorge Brovetto, secretário executivo da Associação de Universidades do Grupo de Montevidéu (AUGM), entidade que congrega 15 universidades públicas do Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. (Veja entrevista com Brovetto nesta página).

Simultaneamente, no discurso político da região se introduz cada vez mais as terminologias da ciência, tecnologia e inovação. Por outro lado, afirma Brovetto, são as universidades públicas as instituições mais comprometidas não apenas com a inovação, mas também com a produção do conhecimento voltado diretamente para atender a demandas e carências da sociedade. Nesse contexto, a Unicamp organizou no último dia 11 o Seminário "Políticas e Estratégias em Ciência e Tecnologia nos Países do Mercosul", com a presença de autoridades no tema.

Aos palestrantes, coube tentar responder como os governos estão enfrentando a problemática da C&T, se está havendo coerência entre discurso e realidade, e se existem políticas nacionais com esse objetivo. No âmbito acadêmico, os participantes apresentaram propostas em nível regional para a produção de conhecimento que leve ao desenvolvimento e bem-estar social e avaliaram como as universidades estão cumprindo esse papel.

"A AUGM tem entre seus objetivos contribuir para o crescimento da massa crítica e de recursos humanos de alto nível, aproveitando as taxas comparativas das capacidades instaladas em nossos países. Queremos consolidar a pesquisa em ciência e tecnologia, incluindo o processo de inovação, adaptação e transferência de tecnologias em áreas estratégicas. Se, a partir deste seminário, instalarmos uma instância em que o Mercosul seja abordado de maneira diferente, em que se busque resolver problemas estratégicos regionais, creio que teremos chegado à razão de ser desta associação de universidades", prevê Brovetto.

35a. Reunião do Conselho de Reitores da AUGN: participantes apresentaram propostas de nível regional para a produção de conhecimentoConseqüente – Na opinião do professor Francelino Grando, secretário de Política Tecnológica Empresarial do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a AUGM já é o exemplo mais conseqüente em meio às gestões do Mercosul. "Começamos a consolidar no Brasil uma rede de conhecimentos, prioritária para o novo governo, que a vê como uma rede no âmbito do Mercosul. A AUGM, que conseguiu avançar mais do que os governos nesse esforço de integração, pode se tornar um caudatário importante de ações governamentais", diz o secretário.

Segundo Francelino Grando, a academia deve contribuir efetivamente para a superação dos grandes obstáculos que as economias desses países encontram para sua inserção no século 21. Ele alerta, porém, que ainda não se vê esta inclusão mesmo entre os países assinantes do acordo. "Quando vou à Argentina, preciso levar na mala um adaptador para ligar o carregador de celular na tomada local. Seria mera curiosidade, não fosse um problema que se repete em toda a escala produtiva dos mais diversos setores. Se não superamos um inconveniente de tecnologia de informação básica, o que dizer de nanotecnologia ou microbiologia".

Uma proposta concreta trazida pelo MCT é de que a AUGM assuma a organização do Prêmio Mercosul de C&T para jovens pesquisadores. Grando adiantou, também, que os governos pretendem realizar um estudo sobre a Bacia do Paraná. "Ao invés de imaginarmos, no âmbito dos governos, quais iniciativas devem ser aprovadas, podemos apoiar as ações já em curso e que as universidades têm condições de identificar com muito mais competência", conclui.

O porvir - Alberto Ricardo Dibbern, reitor da Universidade Nacional de La Plata, reclama que as universidades argentinas não têm sido protagonistas da história recente e tampouco são convocadas para ajudar a resolver os graves problemas do país. "Nossas instituições devem juntar esforços com setores da sociedade e participar da história que está por vir. Isto implica em nos inserirmos no mundo produtivo, interando com as empresas em programas que tenham repercussão imediata na economia e que, ao final, ofereçam apoio fundamental para um pacto social", afirma.

Dibbern lembra que, nos países sul-americanos, o ensino superior conta com forte financiamento do estado. "No Uruguai, 90% dos universitários entre 18 e 23 anos de idade estão no sistema público; na Argentina, são 45%. Nossa responsabilidade é muito maior porque estamos formando os principais recursos humanos para o futuro. A universidade deve retomar o papel de protagonista".

Enrique Rubio, presidente da Comissão de C&T do Senado do Uruguai, informa que o maior problema enfrentado por seu país no setor educacional é a migração. Nos últimos dois anos, entre 10% e 15% dos jovens entre 18 e 23 anos saíram do país, boa parte atrás de cursos qualificados". De acordo com o senador, o Uruguai não possui estratégias para o setor, apenas políticas soltas, quando para os uruguaios este é num tema superurgente. "Ciência, tecnologia e integração formam a peça-chave para a construção do Mercosul", acrescenta.

Cientistas nas empresas

O reitor Brito Cruz: "País que tem poucos cientistas nas empresas, tem poucas idéias"O reitor da Unicamp Carlos Henrique de Brito Cruz, ao abrir a série de conferências do seminário organizado pela Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori), insistiu na importância das empresas para o desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil. “Ao mesmo tempo em que a universidade é um lugar fundamental da pesquisa científica, a empresa também precisa ser. Esse argumento parece pequeno, mas está na raiz dos problemas estruturais que nosso país enfrenta em suas políticas de C&T", afirma.

Tais dificuldades, segundo o reitor, derivam da pouca percepção da sociedade sobre a importância da C&T, desconhecimento que decorre, por sua vez, da dificuldade de converter o esforço do trabalho em beneficios para o contribuinte, como emprego, melhores condições de visa e saúde. "Nisso, a empresa tem um papel crucial. Não há um sistema de ciência e tecnologia baseado apenas em universidade, precisamos desses dois atores", enfatiza.

Brito Cruz menciona casos importantes de empresas cujas riquezas foram construídas por pesquisadores brasileiros, como Embraer, Petrobrás e Embrapa. "Não temos dificuldades em encontrar dezenas de exemplos, mas também não temos seiscentas ou mil empresas com ênfase na pesquisa, que é o que precisaríamos para colocar o país entre os mais desenvolvidos na área", observa. Para destacar o tamanho do desafio pela frente, o reitor da Unicamp levantou que o Brasil registrou pouco mais de cem patentes nos Estados Unidos, contra 3.500 da Coréia do Sul. "País que tem poucos cientistas nas empresas, tem poucas idéias", compara.

À crítica de que a universidade brasileira preocupa-se apenas com teses de doutorado e mestrado e em publicar artigos científicos, Brito Cruz responde que a função da instituição é mesmo esta. "Mesmo nos EUA, a universidade responde por apenas 3% das patentes. A universidade não pode ser valorizada principalmente por esses registros ou só por isso. Ela precisa ser reconhecida por sua capacidade de oferecer uma boa educação, não pode virar um braço das empresas para o desenvolvimento de tecnologia".

Estímulo – Rodolfo Joaquim Pinto da Luz, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, destacou o avanço do Brasil na formação de recursos de humanos, lembrando que na década de 1960 apenas 100 mil estudantes estavam nas universidades, número que hoje alcança 2,6 milhões; se em 1990 foram formados 6.811 mestres e 1.206 doutores, em 2001 eles foram 19.630 e 6.000, respectivamente. "O desafio é exatamente como transferir o conhecimento gerado nas universidades, inserir os formados no mercado de trabalho e fazer com que o sistema produtivo absorva tecnologia. Precisamos da associação entre universidade e iniciativa privada, pois não tempos recursos humanos disponíveis em abundância e nem temos como formá-los em curto prazo. O governo precisar estimular a empresa a gerar tecnologia", pede o reitor da UFSC.

Veja também:

"Universidades precisam se Unir"

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