MANUEL
ALVES FILHO
Pesquisa inédita desenvolvida para a dissertação de mestrado da bióloga Andréia Navarro Meza, defendida recentemente na Unicamp, construiu a base de um mapa genético para variedades de cana-de-açúcar cultivadas, a partir do uso de marcadores moleculares. O trabalho é o primeiro passo para identificar os genes de interesse econômico, condição indispensável para a adoção de programas de melhoramento genético, cujo objetivo é criar plantas mais produtivas e resistentes às doenças. O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com uma safra em torno de 300 milhões de toneladas ao ano. O mercado sucroalcooleiro nacional movimenta perto de R$ 12,7 bilhões anualmente.
De acordo com a orientadora da pesquisa, a professora Anete Pereira de Souza, do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG), a cana-de-açúcar ainda é pouco estudada no mundo, se comparada ao milho e ao tomate, para citar dois exemplos. Os trabalhos de mapeamento molecular existentes restringem-se às espécies selvagens e não às variedades cultivadas. Isso acontece porque o genoma da cana é muito complexo, portanto mais difícil de ser estudado, explica. As atuais variedades comerciais, afirma a docente, resultam do cruzamento entre as espécies selvagens e a cultivada.
Conforme a especialista do CBMEG,
a pesquisa conduzida por Andréia constitui
o primeiro mapa genético de um híbrido
interespecífico do mundo. Ou seja, foram
tomadas para análise variedades que já
são exploradas comercialmente, e que apresentam
características antagônicas. Para traçar
o mapa genético, a autora do trabalho utilizou
o marcador molecular do tipo RFLP. Essa ferramenta
genética foi escolhida porque oferece
vantagens se comparada a outros tipos. Ela
permite que o mapa seja usado por outros pesquisadores,
tanto para a incorporação de outros
marcadores quanto para a criação de
novos mapas, esclarece a professora Anete.
O mapa genético, de acordo
com a autora da dissertação, localiza
a variabilidade do DNA, mas não ajuda a prevenir
as doenças que atacam mais freqüentemente
a cana-de-açúcar, como a ferrugem
e o vírus do amarelinho. A contribuição
do seu trabalho, ressalta, está relacionada
à localização dos genes ligados
a essas pragas e a outras características
de importância econômica (peso dos colmos
e teor de açúcar). O objetivo é
fornecer informações que poderão
ser utilizadas em processos de seleção.
Tal recurso, diz Andréia, acelera o trabalho de melhoramento. Atualmente, para saber se uma variedade é adequada para ser cultivada em São Paulo ou no Nordeste, é preciso realizar etapas de seleção no campo, o que inclui até mesmo o acompanhamento visual. Esperar a planta crescer para fazer uma avaliação normalmente é muito demorado, assinala. De acordo com a orientadora da pesquisa, para produzir uma nova variedade de cana são necessários, em média, 12 anos. A pesquisa realizada pela bióloga teve participação da Copersucar e da ESALQ, além de financiamento da Fapesp.
Setor gera 1 milhão de empregos diretos
A cana-de-açúcar é composta, em média, de 65% a 75% de água, mas seu principal componente é a sacarose, correspondendo de 70% a 91% de seus sólidos solúveis. A planta também contém glicose (de 2% a 4%), frutose (de 2% a 4%), sais (3% a 5%), proteínas (0,5% a 0,6%), amido (0,001% a 0,05%), ceras e graxas (0,05% a 0,15%) e corantes (3% a 5%). No Brasil, são cultivados aproximadamente 5 milhões de hectares. A safra de 300 milhões de toneladas serve de matéria-prima para a produção de 14,5 milhões de toneladas de açúcar e 15,3 bilhões de litros de álcool.
A agroindústria sucroalcooleira é responsável por cerca de 1 milhão de empregos diretos na área rural, além de outros 300 mil diretos e indiretos no setor industrial. O país abriga aproximadamente 350 usinas, todas privadas. O volume de exportação de açúcar é altamente significativo para a balança comercial. As receitas em divisas estão variando entre US$ 1,5 bilhão e US$ 1,8 bilhão por ano, o que representa cerca de 3,5% do total das exportações brasileiras..
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