ANTONIO ROBERTO FAVA
Coordenado pela professora Luiza Sumiko Kinoshita, do Departamento de Botânica (IB) da Unicamp, o livro As Plantas e os Múltiplos Olhares: a Botânica no Ensino Médio deverá estar no mercado até o final deste ano. Escrito em parceria com cinco professores da rede pública de ensino, com a participação especial de alunos de escolas do ensino fundamental e médio, a publicação destina-se não apenas a docentes de áreas afins, mas também a estudantes de modo geral e até mesmo aos apreciadores da flora nativa brasileira.
Numa
linguagem simples e acessível, a obra revela
como se deu a experiência no ensino/aprendizagem
da Botânica com aproximadamente 140 alunos
da Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre
Francisco Silva, no Jardim Londres, bairro de Campinas.
A obra é toda ilustrada com desenhos e textos
dos próprios alunos, revelando os conhecimentos
sobre a flora nativa, adquiridos por meio do ensino
da Botânica através do Programa de
Ensino, vinculado ao projeto Flora Fanerogâmica
do Estado de São Paulo. A idéia inicial
do livro surgiu quando se verificou que o ensino
tradicional de Botânica se caracterizava como
teórico demais, e que ensino da disciplina
era muitas vezes pautado em livros que davam exemplos
de plantas exóticas. Além disso,
existe ainda o fato de que o ensino tradicional
de Botânica tem-se caracterizado como desestimulante
para os alunos, sendo subestimado dentro do próprio
ensino de Ciências e de Biologia.
Pudemos verificar que os próprios estudantes consideram o ensino da Botânica abstrato demais e fora da realidade do estudante, diz a professora Luiza. Nas escolas, de modo geral, faltam condições satisfatórias de infra-estrutura e melhor preparo dos professores para modificar essa situação. A troca de conhecimento da Botânica torna-se mais fácil por meio de prática freqüente, acredita Luiza. O que os professores da Unicamp quiseram mostrar aos alunos e docentes da Escola Padre Francisco Silva é que se pode aprender Botânica dentro do seu próprio cotidiano com as plantas que há no jardim de sua casa, com a planta medicinal (qualquer residência possui um pé de boldo, de camomila ou de erva-cidreira) e com as plantas que são consumidas pelo homem - as verduras, os legumes e as frutas.
Fora
da classe - Não é possível ao aluno aprender Botânica sem que tenha possibilidade de observar a natureza, atendo-se apenas às lições da sala de aula. E nós fizemos isso: tiramos os alunos de uma classe e os levamos para conhecer as matas do Sítio São Francisco, na estrada de Mogi-Mirim, por exemplo --, explica. Os primeiros a receber esse tipo de informação foram os professores, para que tomassem conhecimento de como funcionava o Programa de Ensino. Uma vez no campo, aos alunos eram apresentados às mais diversas espécies de vegetais que por ventura encontrassem.
Ensinamos
que todas as plantas têm um nome as
árvores não são simplesmente
mato e que cada uma delas tem
a sua função no ecossistema; as árvores,
as trepadeiras, os arbustos e outros tantos vegetais.
É claro que as lições
não se limitam às plantas; sempre
que possível, ou para matar a curiosidade
de um aluno, os professores associavam aos animais.
E puderam perceber a presença deles, direta
ou indiretamente. Direta, vendo e observando-os,
como os pássaros, as abelhas, as borboletas,
que atuam como polinizadores; e entre os dispersores
estão os pássaros e os mamíferos,
por exemplo, percebidos, indiretamente, por meio
das pegadas, das fezes, e de animais como o macaco
bugio, diz Luiza, que arremata: Para
aprender botânica, não se precisa necessariamente
ir ao Amazonas. Basta apenas que prestemos atenção
no que ocorre no entorno da escola onde o aluno
estuda, ou de sua própria casa.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Francisco Silva, até um pequeno tanque com plantas aquáticas foi construído, para que os alunos mantivessem verdadeira sintonia com pesquisadores e professores do Instituto de Biologia da Unicamp.
Obra enfatiza parceria
O livro As Planta e os Múltiplos Olhares: A Botânica no Ensino Médio, está sendo editado por Luiza Kinoshita, em conjunto com os professores Antonio Carlos Rodrigues de Amorim, Jorge Yoshio Tamashiro e Roseli Buzanelli Torres, pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O livro - escrito pelos professores Edna Scola Klein, Maria Ângela de Melo Pinheiro, Maria Stela Beraldo de Lima, Valdemir Cardoso da Silveira e Maristela Marcam - divide-se em três partes: na primeira, os capítulos enfatizam a parceria entre a escola e as duas instituições de pesquisa de Campinas - Unicamp e IAC. Neles é possível reconhecer a multiplicidade de experiências de ensino, de pesquisa e produção de conhecimentos, com atividades que visam à aproximação entre as instituições de pesquisa e escolas da rede.
Na segunda, os capítulos evidenciam trabalhos que podem ser realizados no entorno da escola, utilizado didaticamente como recurso, a partir da produção coletiva de um conjunto de atividades de ensino. O entorno da escola passa a existir como potencial para uso didático, na medida em que se realizam atividades relacionadas ao estudo de Botânica, dentro e fora da sala de aula.
E na terceira parte do livro, os professores da escola debruçam-se nas experiências vivenciadas no Programa de Ensino..
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