Tanto Candotti quanto Janine Ribeiro foram candidatos indicados pelo conselho da SBPC. Candotti também recebeu a indicação de sócios. Havia um terceiro candidato, Marco Antônio Raupp, diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), mas ele desistiu e está apoiando a candidatura de Janine Ribeiro. Candotti é professor do Departamento de Física e Química da UFES, e Janine Ribeiro é professor de Ética e Filosofia Política na USP.
Candotti explicou que mais de 250 sócios indicaram seu nome, o que o motivou a entrar na disputa. "Novos e velhos temas de educação e política científica e tecnológica, e das relações entre ciência e sociedade estão em discussão. Acredito que a SBPC deve desempenhar um papel ativo nessa discussão", diz ele.
A proposta de ação de Candotti foi feita em colaboração com os candidatos à diretoria indicados pelos sócios (veja tabela dos candidatos). Como diretriz, propõe a promoção do caráter nacional da SBPC. "A presença nos Estados é tímida, com honrosas exceções, há pouca atividade nas regionais, o que limita a representatividade das informações e análises que subsidiam suas propostas e protestos", aponta.
Já o professor Janine Ribeiro pautou sua proposta de ação na ampliação da atuação social da SBPC. "A ciência e o conhecimento em geral têm um papel social, que, num país com as desigualdades que tem o Brasil, se torna decisivo. Isso quer dizer que não podemos pesquisar sem levar em conta a responsabilidade social", destaca, em sua proposta. Ele vê a SBPC como braço político da ciência brasileira, o que não significa política partidária.
"Precisamos difundir junto ao nosso público interno o valor da ciência, o primeiro ponto é estabelecer essa percepção social", explica ele, acrescentando que essa não deve ser uma postura defensiva. Sua preocupação advém de sua formação e carreira de pesquisador em Humanas. "Nessa área, principalmente, os cientistas se sentem muito ameaçados em termos de apresentar a utilidade das suas pesquisas", completa. Para ele, é fundamental envolver a sociedade na discussão e legitimação da ciência, pois ela é que dará respaldo aos pleitos dos cientistas.
"Acho que a SBPC tem um papel importante a realizar no cenário político nacional, mas isso só será acatado pela sociedade se ela assumir uma atitude profissional", aponta o candidato Cerqueira Leite. "Há uma enorme necessidade, atualmente, de uma voz independente e é preciso que essa voz tenha um grande prestígio com a opinião pública", completa. Segundo ele, para que isso ocorra é preciso mudanças que seriam mais facilmente realizadas por alguém que estivesse fora da corporação. Ele se refere ao fato de os outros dois candidatos serem membros efetivos do conselho da SBPC.
Polêmica - Nem bem começou a disputa e a eleição da SBPC já despertou polêmica em torno do papel que ela tem na sociedade e do próprio processo eleitoral. Cerqueira Leite escreveu recentemente um artigo no jornal Folha de S. Paulo, do qual faz parte do conselho editorial, em que afirma que a SBPC está ameaçada de extinção e onde critica a inscrição de 1.900 professores do ensino fundamental e médio promovido pela prefeitura de Recife (Pernambuco). Segundo ele, o procedimento foi apoiado por um dos candidatos à presidência.
O artigo motivou uma resposta da bioquímica Glaci Zancan, atual presidente da entidade, em que ela afirma que o fato de a eleição da SBPC ter sido tratada em um grande jornal e que a contínua incorporação de novas sociedades científicas à entidade mostra que a SBPC está se fortalecendo. Ela também destacou que o processo eleitoral permite a apresentação de candidaturas alternativas às indicadas pelo conselho. A prefeitura de Recife também respondeu ao artigo, desmentindo a acusação de Cerqueira Leite sobre ter induzido professores da cidade a se associar à entidade para auxiliar a candidatura de um dos pesquisadores que disputam a presidência.
"A professora Glaci, como presidente da SBPC, não poderia dar outra resposta. É uma pessoa digna e tinha de defender sua instituição, mas não contestou nenhuma das minhas acusações", comenta Cerqueira Leite, sobre o artigo escrito por ela. Sobre a resposta da prefeitura de Recife, o professor emérito da Unicamp disse que não costuma responder a cartas de leitores e disse que o prefeito João Paulo deveria ter escrito um artigo. "A resposta da prefeitura é pouco convincente. Ninguém acreditaria que, às vésperas da eleição, se apresentasse em bloco um número de candidatos que dobra o colégio eleitoral por mera coincidência", reafirma Cerqueira Leite. Segundo ele, um dos candidatos, o qual ele não cita o nome, fez uma grande argumentação para que este bloco fosse homologado como eleitores.
Os dois candidatos à presidência, Candotti e Janine Ribeiro, não concordam com Cerqueira Leite quando este afirma que a SBPC está perdendo importância. "Acho que ele foi mal informado sobre a situação da SBPC. O número de sócios em dia é pequeno, mas é mais do dobro do que ele menciona", diz Candotti. Ele lembra, ainda, que há "uma torcida" de pessoas que não são sócias, mas que acompanham o trabalho da instituição com crítica atenção. "Não acredito que se possa dizer que a SBPC parou no tempo. Há pronunciamentos e ações importantes destes últimos dez, vinte anos, que ainda estão presentes na vida e na política de ciência e tecnologia do País. Basta ver a participação e a constante renovação dos debates nas reuniões anuais da SBPC", afirma.
Ele lembra também que a SBPC e outras sociedades conseguiram multiplicar por 10, em 1987, o número de bolsas de pós-graduação do CNPq e da Capes, consolidando o sistema. O professor Candotti ressalta, ainda, o trabalho constante da SBPC no incentivo à criação das fundações de amparo à pesquisa nos Estados.
"Melhor prova de que não está perdendo importância é o fato de termos várias candidaturas nesta eleição. Há gente que tem projetos para a SBPC", enfatiza Janine Ribeiro. "A SBPC é a única representação com dimensão política", ressalta. Segundo ele, as sociedades científicas se preocupam com questões mais específicas, como treinamento, capacitação, elevação do nível da ciência, focando mais as áreas que representam. Já a SBPC tem o papel de articular essas iniciativas com a política.
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