Unicamp leva energia a comunidade isolada
Projeto conjunto usa tecnologia de
ponta para beneficiar população de cidade no Amazonas
CRISTIANE PERES BERGAMINI
FABIANA GAMA VIANA
Especial para o JU
Levar energia elétrica produzida com tecnologia de ponta para uma comunidade no coração da Amazônia. Este é o objetivo do Projeto Celcomb Produção de Energia Alternativa a partir de Células a Combustível e Gás Natural , que vai abastecer a comunidade isolada de Arixi, localizada no município de Anamã, no Amazonas, com energia elétrica a partir da implantação de um sistema reformador à base de gás natural, purificador de hidrogênio e célula a combustível. Este sistema produz o hidrogênio a partir do processo de reforma do gás natural e, por meio de uma reação química na célula a combustível, gera energia elétrica. A célula a combustível é um equipamento que converte hidrogênio e oxigênio (do ar) em energia elétrica, água e calor.
O projeto, que será desenvolvido em dois anos, envolve inicialmente a análise sócio-econômica e ambiental da comunidade e estudos técnicos de projeto do sistema reformador de gás natural, seguidos pela construção do equipamento e aquisição de uma célula a combustível de 5 kW. Após sua implantação será constituída uma equipe técnica formada pelos próprios habitantes da comunidade que receberão instruções para operação e manutenção do equipamento. Posteriormente, haverá o acompanhamento do funcionamento do sistema instalado e análise sócio-econômica e ambiental da população.
A escolha da comunidade se deu pelo fácil acesso ao gás natural, matéria-prima a ser utilizada, já que Anamã está entre Manaus e o município de Coari, local por onde passa o gasoduto proveniente da reserva de Urucu. A prefeita de Anamã, Esmeralda Moura, ressalta que a comunidade de Arixi, com aproximadamente 600 habitantes, é abastecida com energia elétrica apenas no período das 18h às 22h30, por meio de um grupo gerador diesel, consumindo 14 litros de combustível por hora. A obtenção do diesel fica prejudicada devido ao acesso a Anamã ser feito unicamente por barcos e canoas, o que também dificulta a constante manutenção do sistema, interrompendo, desta forma, o fornecimento de energia para a comunidade.
O projeto, financiado pelo Ministério de Minas e Energia e pelo Fundo Setorial CT-Energ, surgiu através de uma parceria entre o Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe), o Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), o Laboratório de Hidrogênio do Instituto de Física (LH2), todos pertencentes à Universidade Estadual de Campinas, com o Departamento de Eletricidade da Universidade Federal do Amazonas.
De acordo com a professora Lucia da Costa Ferreira, coordenadora do Nepam, a comunidade será beneficiada participando diretamente das decisões sobre o uso da energia alternativa. Nesse caso, os principais benefícios são a diminuição da dependência do diesel, que possui um custo elevado,é de difícil transporte e altamente poluente; além de investimentos em equipamentos coletivos que fortalecem a organização social e comunitária e propiciam a significativa melhoria na qualidade de vida, produtividade e renda, sem aumentar a demanda por recursos naturais.
“Este projeto, quando implantado, irá evidenciar que é possível conciliar as necessidades energéticas de uma comunidade isolada, a partir da utilização do gás natural existente, com a tecnologia do futuro que são as células a combustível. Desta forma, é possível melhorar a realidade sócio-econômica da população e atender a necessidade de redução dos impactos ambientais com a produção de energia elétrica”, destaca o coordenador do projeto, Carlos Alberto Figueiredo, professor da Universidade Federal do Amazonas.
No que se refere às expectativas do projeto, segundo o professor Ennio Peres da Silva, chefe do Laboratório de Hidrogênio e coordenador do Nipe, espera-se obter uma nova alternativa para o suprimento de energia elétrica em localidades isoladas. “A possibilidade do uso de recursos energéticos locais e também de fontes renováveis, como o etanol, que pode ser utilizado no lugar do gás natural, significa uma nova alternativa tecnológica a ser considerada no atendimento das comunidades isoladas do sistema elétrico brasileiro”, afirma o professor.