"Principalmente mulheres relativamente novas, com idade abaixo dos 25 anos, que talvez por falta de informação e acesso aos diferentes meios de regulação da fecundidade, optaram pela laqueadura sem receber a devida orientação sobre os benefícios ou danos advindos do método que, dependendo da técnica utilizada pelo cirurgião, é irreversível", explica o médico, que trabalha no Hospital Municipal de Sumaré.
Para isso, Luiz Eduardo tem uma explicação: "normalmente, mulheres jovens são as que ainda podem viver mudanças consideráveis na vida, como a perda ou troca de parceiro, morte de um dos filhos e, com isso, poderá querer ficar grávida novamente. Ou ainda fatores econômicos que determinam um novo rumo à sua vida", considera o pesquisador. Agora, a mulher que se submeteu a uma cirurgia de laqueadura, quando passa por um problema desse tipo, vive uma situação conflitante, tornando-se forte candidata ao arrependimento.
Por outro lado, mais de 50% das mulheres brasileiras engravidam antes de completarem 22 anos, levando a altos riscos de abortos provocados e a uma das mais altas taxas de mortalidade. E mais: o Brasil ostenta o nada honroso título de campeão mundial de laqueaduras. O estudo de Luiz Eduardo, centrado em Campinas, envolveu 3.878 mulheres. Nessa população, a taxa de laqueadura ficou em torno de 26%.
"Um pouco abaixo da média verificada no Brasil, que fica em aproximadamente 40%", diz o médico. Isso talvez porque a cidade ofereça uma boa qualidade de vida à população, além de poder contar com bons serviços de saúde, como os oferecidos pelas unidades de saúde da Unicamp, por exemplo.
Opção consciente - O propósito da pesquisa de Luiz Eduardo, que resultou na sua dissertação de mestrado Laqueadura tubária, número ideal de filhos e arrependimento, apresentada recentemente à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, sob orientação do professor Guilherme Cecatti, foi basicamente avaliar a questão da laqueadura tubária e o arrependimento manifestado pela mulher após a cirurgia.
O médico explica que, como pôde observar ao longo de sua pesquisa, as mulheres laqueadas têm mais filhos do que normalmente gostariam de ter tido. Muitas vezes, quando optam pela laqueadura, na verdade elas não fazem uma escolha que poderia ser classificada como uma opção consciente.
"A laqueadura acaba sendo uma última chance que a mulher tem de parar de ter filhos. Além disso, aquelas que são laqueadas antes de atingirem o número de filhos desejados tornam-se sérias candidatas ao arrependimento", observa. No entanto, existe uma mística muito grande de que a laqueadura é algo facilmente reversível. Não é. "Muitas mulheres dizem que gostariam apenas de ligar as trompas pois, se não der certo, poderão desligá-las na hora que bem entendessem. Na verdade, não é bem assim. Tanto a laqueadura quanto a vasectomia são procedimentos de esterilização definitivos. Obviamente, em casos específicos, pode-se tentar a reversão. Tudo depende do tipo de técnica utilizada na laqueadura e das condições das trompas da mulher", explica o médico. O índice de reversão, com sucesso, fica em torno de 15% a 20%, quando então a mulher consegue engravidar novamente.
Percebe-se que ainda hoje no Brasil, apesar dos avanços proporcionados pela legislação que regulamenta a prática da esterilização definitiva, as mulheres que geralmente iniciam precocemente a sua atividade sexual na adolescência, não conseguem controlar a sua fecundidade. Principalmente pela dificuldade de informação e acesso aos diferentes métodos anticoncepcionais.