Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 249 - de 26 de abril a 2 de maio de 2004
Leia nessa edição
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Artigo: estatização de vagas
Cartas
Soja: perigo nos novos fronts
FEA: melhoria de alimentos
Autonomia dos enfermeiros
Bambu: tratamento de esgoto
Empresas juniores
FEM: "cadeira" para crianças
Unibanda: acesso à música
Básico: valoriza graduação
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Oportunidades
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O quitandeiro
Geoprocessamento
 

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Projeto alternativo desenvolvido pela FEC pode ser aplicado em pequenas e médias cidades

Bambu barateia tratamento de esgoto doméstico


ANTONIO ROBERTO FAVA



Os pesquisadores Adriano Luiz Tonetti e Saulo Bruno Silveira e Souza: método apresenta série de vantagensUm cilindro de aproximadamente um metro e meio de altura por 0,76 m de diâmetro, com fundo de forma cônica. Dentro, 70 quilos de caule de bambu cortados em pedaços de 6 cm de comprimento. Com esses componentes, pesquisadores do Departamento de Saneamento e Ambiente (DSA) da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, coordenados pelos professores Bruno Coraucci Filho e Roberto Feijó de Figueiredo, desenvolveram um dos mais baratos e eficientes métodos para o tratamento de esgoto doméstico. Esse sistema alternativo aos tradicionalmente empregados, denominado de reator anaeróbio com recheio de bambu, pode ser utilizado no tratamento de esgoto de pequenos e médios municípios brasileiros.

De acordo com o doutorando Adriano Luiz Tonetti, da FEC, esse método, combinado com outros sistemas complementares de tratamento – filtros de areia, valas de filtração, escoamento superficial e irrigação de cultura agrícola – possui a capacidade de produzir um efluente que possa ser reutilizado ou que, no caso de ser lançado em um corpo hídrico, não cause danos ao ambiente. Todos esses projetos são desenvolvidos na Estação de Tratamento de Esgotos Graminha, localizada na cidade de Limeira, a 60 quilômetros de Campinas.

DSA desenvolve série de pesquisas

Ressalte-se que o Departamento de Saneamento e Ambiente (DSA) está desenvolvendo uma série de pesquisas voltadas para a instalação de métodos alternativos de tratamento de esgoto doméstico que sejam simples, eficientes e adequados às condições econômicas brasileiras, de modo que possam ser aplicados em cidades de pequeno porte populacional, localidades isoladas, pequenas propriedades (sítios, chácaras), condomínios fechados, postos de gasolina e restaurantes de beira de estrada e hotéis de campo, por exemplo.

Eficiência compatível – Para a realização do estudo e avaliação da eficácia no tratamento do esgoto, uma parte do material que chega à estação é inicialmente desviada para ser processada por meio dos reatores anaeróbios. Esses reatores cilíndricos, que possuem em seu interior os caules de bambu, recebem o esgoto bruto na sua parte inferior que, no percurso até a região superior, entra em contato com microrganismos que aderem à superfície dos pequenos pedaços de bambu. Esses microrganismos acabam utilizando os compostos orgânicos e nutrientes contidos no esgoto, e seu processo metabólico acaba resultando na decomposição do material poluente.

"Trata-se de um sistema que já apresenta uma eficiência bastante compatível com os métodos tradicionais adotados nas estações de tratamento das grandes cidades brasileiras", segundo Saulo Bruno Silveira e Souza, pesquisador que está concluindo o mestrado na FEC.

O sistema proposto pelos pesquisadores da Unicamp possui baixa utilização de equipamentos mecanizados, uma vez que emprega materiais baratos e facilmente encontrados em diversas localidades, propiciando considerável vantagem de um tratamento simples e visivelmente econômico. No caso estudado, entravam no reator 10 litros de esgoto por minuto e o tratamento efetuado apresentou uma eficiência de aproximadamente 70% quanto à remoção de matéria orgânica "que, se lançada num manancial (ou qualquer outro curso d’água), afetaria consideravelmente a vida aquática do rio", observa o doutorando Adriano Luiz Tonetti.

Depois de passar pelo reator de bambu o esgoto, parcialmente tratado, evidentemente mais limpo, vai para um tratamento complementar, onde o líquido é aplicado sobre um filtro de areia. "O efluente que sai desse segundo reator pode ser reutilizado para uma série de outras finalidades, como por exemplo para descarga sanitária, lavagem de calçadas, jardinagem ou qualquer outra atividade doméstica. Não serve, é evidente, como água potável ou para ser utilizada na cozinha, para o preparo de alimentos", ressalva Adriano.

Verificou-se que os resultados obtidos por meio desse processo foram superiores às expectativas: as normas brasileiras determinam que se aplique, no máximo, 100 litros de esgoto por metro quadrado de superfície de areia. No entanto, chegou-se a aplicar três vezes mais volume de esgoto e o resultado obtido foi bastante superior ao definido pela legislação, garante o pesquisador.

Pesquisadores usaram quatro filtros
Para a realização desses estudos, os pesquisadores da FEC construíram quatro filtros com quatro tamanhos diferentes para seus leitos de areia com 25, 50, 75 cm e l metro de espessura. Pode-se verificar também que cada profundidade dos filtros de areia gerava um tratamento diferenciado e, em muitos casos, o leito mais profundo produzia uma água totalmente translúcida, "praticamente isenta de contaminantes", explica Adriano.

Uma outra alternativa para a complementação do tratamento do esgoto liberado pelos reatores de bambu seria a sua aplicação em pequenas valas de filtração. "O que isso quer dizer é que, nesse caso, a camada de areia foi enterrada e recoberta pelo solo encontrado na própria região da execução do projeto. Além desse sistema ter apresentado uma grande eficiência, traz ainda como diferencial a vantagem de poder ser instalado no fundo de um quintal ou em uma pequena chácara ou sítio, não prejudicando a circulação de moradores", conclui o pesquisador.

Um outro processo estudado refere-se ao "escoamento superficial" –pesquisado pelo aluno de pós-doutorado Ronaldo Stefanutti –, que por meio do qual o líquido que sai dos reatores com recheio de bambu é disposto na parte superior de uma rampa de tratamento e, no percurso até chegar à parte baixa da inclinação, entra em contato com um tipo especial de grama ou capim. Saulo Bruno explica que é preciso destacar que "a planta adotada nessa pesquisa, beneficiada pela riqueza de nutrientes presentes no esgoto, pode crescer de forma bastante vigorosa. Dessa forma, pode-se ter, como benefício, o seu possível uso para a alimentação de animais", diz.

Esse processo já está sendo utilizado no município de Populina, no Estado São Paulo, com 20 mil habitantes, cujo resultado tem-se revelado "bastante satisfatório". Um outro projeto semelhante foi idealizado para o tratamento de esgotos da cidade de Jaguarão, no Rio Grande do Sul. Nesse caso, teve-se a transferência de tecnologia através da parceria da FEC e UFRS com a empresa de saneamento gaúcha Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN).

Destinado ao tratamento de esgoto, outro sistema que obteve êxito nos estudos refere-se à irrigação de uma cultura de milho. Como resultado, verificou-se que o líquido que atingia o lençol d’água subterrâneo possuía baixíssimo potencial de contaminação. "Pudemos certificar que o milho produzido na plantação, além de uma melhor produção, tinha uma aparência mais robusta, quando comparado àquele cultivado exclusivamente com água e adubação química", lembra Saulo.


Sem acesso à rede
Com base em dados do IBGE, Adriano diz que 58% da população brasileira não tem acesso à rede coletora de esgoto. E mais: 84% dos municípios do país não possuem nenhum tipo de tratamento para o esgoto que é coletado. A quase totalidade desses resíduos é despejada in natura nos cursos hídricos, aumentando a insalubridade e mortalidade que afetam a população brasileira.

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