Aprovado em seu conceito, protótipo será transformado em produto que se submeterá às normas legais
FEM testa nova ‘cadeira’ para
proteção de crianças em veículos
LUIZ SUGIMOTO
A Unicamp acaba de solicitar a patente de um novo dispositivo de segurança para o transporte de crianças em veículos. Trata-se de uma placa fixada ao banco traseiro com o próprio cinto do automóvel, e dotada de cintos adicionais que asseguram a retenção da criança com número maior de pontos. Esses cintos, fabricados com material de qualidade de uso automotivo, são reguláveis para crianças entre 3 e 10 anos de idade, garantindo uma "ancoragem" de modo anatomicamente correto e impedindo que elas se deitem ou fiquem em pé no banco.
"As cadeiras tradicionais ainda são as mais adequadas para crianças até 3 anos, mas, a partir dessa idade, podem ser substituídas pelo novo dispositivo com vantagens, sobretudo no preço, que deve ficar em um terço daquele cobrado pelo similar mais barato do mercado", afirma o professor Celso Arruda, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), que pesquisa materiais absorvedores de impacto e coordena o projeto denominado Criança & Segurança. O pesquisador acrescenta que esse equipamento é compacto - ocupando muito menos espaço que a cadeira convencional - e de fácil instalação. "Ele nem precisa ser retirado para que um adulto ocupe o assento traseiro. Outra vantagem é sua adequação ao nosso clima, pois está livre de acolchoados", afirma Arruda.
A concepção da "cadeira" desenvolvida na FEM é simples como a de uma mochila. Uma alça em cada ombro, e uma terceira na cintura, permitem que a criança fique apoiada de modo seguro na cadeira. O dispositivo é preso ao banco com o próprio cinto de segurança do veículo, sendo que recortes nas laterais, por onde é trespassada a alça vertical do cinto, garante que este fique na altura do peito e não do pescoço. Se imaginarmos a criança sentada de frente, veremos que ela estará protegida por cinco pontos, os três do cinto e mais dois das alças, sem qualquer desconforto, com pernas e braços permanecendo livres.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, condições inadequadas de transporte respondem por 25% das mortes de crianças e adolescentes por causas externas (violência e acidentes). Este percentual se refere ao ano de 1998, quando ocorreram 21.692 óbitos, sendo 5.565 atribuídos à falta de segurança no transporte. As crianças, especificamente, estão sujeitas a traumatismos quando projetadas ao banco da frente do veículo ou ao pára-brisa. O uso do cinto abdominal pode causar laceração das vísceras e, mesmo o cinto de três pontos, só deve ser utilizado por crianças acima de 1,45m de altura, sob risco de provocar enforcamento.
Teste na GM - No dia 16 de abril, a nova cadeira passou bem por um ensaio no campo de provas da General Motors, em Indaiatuba, com um boneco de peso e tamanho de uma criança de seis anos. "Aproveitamos o ensaio de colisão traseira de um Vectra contra um novo protótipo de pára-choque, a 50 km/h, e as imagens revelaram que a placa não se deslocou em relação ao banco e que o deslocamento da cabeça do boneco foi mínimo. O teste provou que o conceito do uso de placa, o que é inovador, está correto", anuncia o professor Celso Arruda.
O próximo passo será o desenvolvimento do produto, que precisa ser testado e certificado dentro da NBR 14400, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), recebendo o selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia) para comercialização. "Uma empresa já demonstrou grande interesse em adquirir a licença, mas haverá a exigência de a Unicamp acompanhar o processo de fabricação. Para isso, estamos criando uma empresa encubada para asse-gurar os padrões de qualidade", salienta o pesquisador.
O ensaio na GM foi programado, a priori, para testar o primeiro pára-choque com lâmina de alumínio, igualmente projetado na FEM. O objetivo é chegar a um equipamento com peso substancialmente reduzido (em até 50%), além de muito mais resistente à corrosão. Segundo Celso Arruda, a lâmina de alumínio resistiu, mas a longarina do caminhão dobrou com o impacto, o que acabou invalidando este primeiro teste.