Supresa no coração da mata
Durante três anos, Denise se embrenhou na mata Ribeirão Cachoeira com visitas freqüentes, na esperança de encontrar algumas espécies de macacos e roedores. Não imaginava, porém, que conseguiria flagrar a presença de predadores de grande porte como as onças e gatos-do-mato. "Em geral, essas espécies precisam de áreas maiores para a sobrevivência. Essa foi a grande surpresa", explica. Por isso, Denise ampliou a perspectiva do trabalho e decidiu conhecer os mamíferos não-voadores de pequeno, médio e grande porte, existentes no local.
O levantamento exigiu da bióloga a utilização de diversos métodos para conseguir comprovar a presença de animais na mata. Em geral, o método da observação é o mais utilizado. Pode-se observar diretamente um exemplar ou analisar indícios indiretos como pegadas, pêlos, fezes, arranhados em troncos, fuçados e vocalizações. Os mamíferos, explica a pesquisadora, possuem modos de vida diversificados. Existem os animais com atividade noturna, já outros são visualizados apenas durante o dia. Os bichos pequenos precisam ser capturados em armadilhas, com a autorização do Ibama. Já os animais terrestres de grande porte são mais difíceis de estudar e reconhecer pois são noturnos e muito tímidos, e sua captura é tarefa difícil. Para os primatas, que são diurnos, é necessário experiência para encontrá-los na mata e também um tempo de habituação, para que se acostumem à presença do pesquisador.
Para a eficiência do trabalho, a bióloga, optou pelas armadilhas fotográficas e de areia, do método captura-marcação-recaptura com armadilhas de metal, além de entrevistas com os moradores do entorno. Nas trilhas formadas na mata, a cada 50 metros foram colocadas caixas de areia contendo iscas de odor e de banana. Ao chegar no local, durante a noite, o animal deixava as marcas de suas patas na areia e no dia seguinte a bióloga reconhecia as pegadas com a ajuda de um guia de campo. No caso das armadilhas fotográficas, elas foram instaladas em três pontos diferentes e acionadas quando um animal atravessava diante dela. A realização dos censos diurnos para a localização das espécies levou a bióloga a percorrer pouco menos de 300 quilômetros em um ano.
Em todos os casos de identificação, Denise alcançou um número considerável de indícios que comprovaram a existência de sete espécies de mamíferos de pequeno porte e 23 de médio e grande porte (veja lista de animais). Deste total, onze do grupo dos carnívoros, quatro primatas e quatro roedores. Entre os mamíferos encontrados, oito espécies são ameaçadas e três provavelmente ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo.
Reprodução- O monitoramento fotográfico somou 8.076 horas. Neste método, o maior número de espécies registradas foi a de carnívoros. Onças-pardas jovens e adultas foram fotografadas em três ocasiões ao longo de 16 meses. Este fato demonstra o uso periódico do ambiente da floresta pela espécie. Outra evidência é a foto tirada em que aparecem um exemplar adulto e outro jovem, que levaria à conclusão que a espécie está se reproduzindo.
Nas observações visuais, o macaco bugio foi encontrado em abundância superior às demais espécies. Foram 103 avistamentos, o que significa uma densidade estimada de 37,1 exemplares por quilômetro quadrado. O gambá e o cachorro-do-mato foram as espécies mais abundantes nas armadilhas de areia. Os animais raros foram a onça-parda, o veado e o tapiti.