Uma mostra da importância dos estudos realizados por Miriam é o fato de a tese que será apresentada na Holanda ter recebido o prêmio de melhor pôster experimental no XX Congresso da Associação Européia de Urologia, ocorrido em março, em Istambul. Neste trabalho, a pesquisadora concentrou-se nas propriedades do estradiol. De acordo com ela, a literatura cita trabalhos clínicos que apontam um aumento importante das disfunções miccionais nas mulheres após a menopausa. Alguns autores associam esse problema à redução do nível de determinados hormônios, entre eles o estrogênio. Assim, segundo essa hipótese, a reposição deste hormônio minimizaria os distúrbios. "Entretanto, estudos clínicos bem controlados não têm demonstrado que a administração de estrogênio seja eficaz na redução dos sintomas relacionados com os distúrbios miccionais".
Por outro lado, prossegue Miriam, estudos experimentais, realizados em animais de laboratório, concluíram que o estradiol tem, sim, influência sobre o funcionamento da bexiga, melhorando a sua contração. A grande questão a ser respondida era: por que o fármaco funcionava nos animais e não agia da mesma forma em humanos? Para tentar responder a esta pergunta, a pesquisadora tomou para análise fragmentos de bexigas de suínos. Os animais foram escolhidos porque seus órgãos apresentam similaridades com os órgãos humanos. Em seguida, ela colocou os fragmentos numa solução fisiológica e os estimulou com pequenos choques elétricos, de modo a reproduzir a contração que acontece no organismo.
Por último, ela submeteu os fragmentos a baixas e a altas concentrações do hormônio. "Foi possível constatar que de fato o estradiol tem influência na redução da contração da bexiga. Entretanto, para obter esse resultado, foi preciso empregar uma dose mil vezes maior do que a encontrada naturalmente no organismo feminino. Se essas doses fossem administradas na mulher, surgiriam sérios efeitos deletérios, como problemas cardiovasculares", esclarece. A saída para esse obstáculo, no entender da pesquisadora, talvez seja a utilização de estrógenos que atuarão especificamente nos receptores vesicais da bexiga.
Própolis - A outra tese elaborada por Miriam também trabalha com a questão da disfunção miccional. Neste caso, porém, ela analisou um flavonóide extraído da própolis, a galangina. Depois de isolar a substância, que tem propriedades antioxidantes, a autora do trabalho investigou a sua capacidade de melhorar a performance da bexiga, também usando fragmentos obtidos a partir de suínos. Depois de inúmeros ensaios, a pesquisadora constatou que o flavonóide atua de duas maneiras distintas. Em baixas doses, melhora a contração do órgão. Em doses elevadas, provoca reação contrária. Ou seja, o estudo abre a perspectiva para que, no futuro, a substância possa vir a ser empregada no tratamento das disfunções provocadas tanto pela baixa, quanto pela alta contração do órgão.
Para que isso ocorra, entretanto, serão necessários estudos clínicos. "Até onde sabemos, não existe uma pesquisa clínica que tenha analisado o flavonóide no tratamento dos distúrbios miccionais. O único trabalho existente, de um cientista italiano, trata do emprego da substância na recuperação da musculatura de ratos", afirma o orientador da tese, professor Paulo César Rodrigues Palma, professor da disciplina de Urologia da FCM. De acordo com ele, os trabalhos desenvolvidos por Miriam são de excelente qualidade. "Trata-se de uma profissional muito bem preparada. O fato de ela defender duas teses de doutorado simultâneas, em países diferentes, dão a dimensão da sua capacidade", acrescenta.