Os dados apresentados no livro referem-se aos anos de 2003 e 2004, com maior ênfase para este último. Nos dois períodos, perto de 3,7 mil professores da rede estadual de ensino participaram das atividades desenvolvidas pela Unicamp no contexto do Teia, como o programa é mais conhecido. Esses educadores atuam em escolas vinculadas a 14 DEs, onde estão matriculados cerca de 700 mil alunos. Na Universidade, as ações são coordenadas pelo Grupo Gestor de Projetos Educacionais (GGPE), vinculado à Reitoria. De acordo com o professor Roberto Vilarta, coordenador do GGPE e um dos organizadores do livro, perto de 80 pessoas estão diretamente envolvidas nas atividades. “Um dentre tantos aspectos relevantes desse trabalho é o fato de que ele ajuda a quebrar barreiras. Os professores-alunos que participam do Teia do Saber vêm até a Unicamp, onde interagem com nossos docentes, alunos de pós-graduação, laboratórios e bibliotecas. Eles se percebem integrantes da nossas estruturas de ensino, pesquisa e extensão”, afirma.
Essa aproximação entre a Universidade e a escola pública, diz Vilarta, gera conhecimentos que ajudam os educadores da rede estadual a enfrentar com mais preparo as dificuldades e dilemas do cotidiano. Além disso, prossegue, a oportunidade de estudar numa escola de ensino superior com reconhecido nível de excelência eleva a auto-estima dessas pessoas e interfere positivamente em suas vidas. “Não é raro os participantes do Teia do Saber manifestarem a intenção de fazer um curso de pós-graduação. De fato, segundo informações das nossas unidades de ensino, um número cada vez maior de pessoas que participaram do programa tem feito inscrição para participar do processo de seleção de nossos programas de mestrado e doutorado”.
Esses e tantos outros impactos positivos acarretados pelo Teia do Saber estão retratados nos textos e fotografias contidas no livro. De acordo com os jornalistas Álvaro Kassab, Raquel do Carmo Santos e Antonio Scarpinetti, profissionais da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unicamp e co-organizadores da obra, o objetivo da publicação foi demonstrar que o programa não influencia apenas no desenvolvimento de metodologias de ensino, mas também em vários outros âmbitos da vida dos professores da rede estadual, bem como na de seus alunos. “Nós quisemos dar voz a esses educadores, de forma que fossem ouvidos não só pela comunidade acadêmica, mas também pela sociedade de modo geral”, explica Kassab, responsável pela edição do material.
Mil imagens A idéia de produzir o livro, conforme Kassab, partiu do professor Roberto Vilarta, após este ter lido uma matéria sobre o Teia do Saber no Jornal da Unicamp. A opção por uma obra no formato livro-reportagem, diz o jornalista, veio da necessidade de valorizar o testemunho dos personagens. “Penso que esse modelo enriqueceu a publicação e deu a ela um caráter documental”. Segundo Raquel, autora dos textos, a obra traz 133 entrevistas. Foram contemplados os depoimentos dos professores-alunos, estudantes da rede pública, dirigentes, docentes e alunos de pós-graduação da Unicamp e de representantes da Secretaria de Estado da Educação, entre eles o então titular da Pasta, professor Gabriel Chalita.
Raquel conta que percorreu, acompanhada de Scarpinetti, autor das fotos, 22 municípios pertencentes às 14 DEs atendidas pela Unicamp no programa. Foram visitadas 25 escolas e produzidas cerca de mil imagens, sendo que 504 delas foram publicadas. “Nosso intuito, em cada uma dessas cidades, foi contar a história de vida desses personagens e de como ela foi afetada pelo Teia do Saber. Embora o trabalho não tenha sido aleatório, nós não tivemos a preocupação de pré-estabelecer as entrevistas. Nós colhíamos os depoimentos à medida que encontrávamos as pessoas. Foi tudo muito espontâneo. Tanto é assim, que o livro não é laudatório. Ele também traz críticas feitas pelos entrevistados”, relata.
Tanto Raquel quanto Scarpinetti destacam que, mesmo mantendo o necessário distanciamento crítico, acabaram por se envolver com as histórias que registraram. “Nós nos emocionamos várias vezes ao constatar a importância do trabalho desenvolvido pela Unicamp em localidades cujo IDH [Índice de Desenvolvimento Humano, indicador usado pela ONU para medir a qualidade de vida de uma população] é baixíssimo”, afirma Scarpinetti. Entre os muitos episódios descritos no livro, os jornalistas destacaram meia dúzia. Em virtude da limitação de espaço, o Jornal da Unicamp selecionou dois. O primeiro refere-se a uma professora da rede estadual residente em São Bento do Sapucaí, região de Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba.
Dois episódios Aos 64 anos, 46 deles dedicados ao magistério, Maria José Dias de Oliveira demonstrou enorme satisfação em poder voltar aos bancos escolares como aluna. Curiosamente, um dos seus professores foi um doutorando da Unicamp, de 24 anos, mesma idade de um dos seus netos. “O mais interessante é que esta senhora afirmou que a participação no Teia do Saber despertou nela o interesse em continuar os estudos e fazer o mestrado”, conta Raquel. O segundo episódio tem relação com um aluno da rede estadual de ensino, André Aparecido Cristino, de 19 anos, morador de Cruz das Posses, distrito de Sertãozinho, região de Ribeirão Preto. O rapaz, que demonstra um potencial talento para as artes plásticas, tem recebido o apoio de um dos professores, participante do Teia do Saber, que lhe fornece o material para a pintura de quadros. Graças ao apoio, André dá outras cores à sina que o condenaria a repetir a trajetória dos pais, que são cortadores de cana.
Tão importante quanto trazer à tona essas histórias, destacaram os jornalistas, foi poder constatar que a despeito dos problemas que permeiam o ensino público nos níveis fundamental e médio, há muita gente trabalhando pela melhoria da educação. “De maneira geral, foi possível perceber que um número não-desprezível de pessoas, tanto da Unicamp quanto da própria rede estadual, tem o magistério como um ideal”, diz Raquel. O projeto gráfico do livro “Teia do Saber Capacitação de Professores da Rede Pública” foi concebido por Alex Calixto de Matos e a revisão foi feita por Renato Miguel Basso. A produção da obra contou ainda com a participação do professor Amauri Aparecido Aguiar, analista de organização e métodos da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac).
Software permite acompanhar dados do trabalho em sala de aula
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O software que a Unicamp doará à Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, por ocasião do lançamento do livro “Teia do Saber Capacitação de Professores da Rede Pública”, facilitará a comunicação entre as diretorias regionais de ensino e as instituições contratadas para ministrar as atividades do programa de capacitação dos professores da rede pública. Segundo o professor Roberto Vilarta, coordenador do Grupo Gestor de Projetos Educacionais (GGPE), órgão vinculado à Reitoria da Universidade, a ferramenta computacional permitirá que as DEs acompanhem on-line os dados sobre os trabalhos desenvolvidos em sala de aula.
Até então, os relatórios eram preenchidos manualmente e remetidos depois de alguns dias às autoridades da área. “A partir de agora, terminada a aula, o docente ou doutorando da Unicamp ou de outra instituição poderá acessar o site da Secretaria e registrar, num campo específico, informações como freqüência, metodologia, intercorrências etc”, afirma. Ao ter acesso de forma mais rápida a esses dados, explica Vilarta, a Secretaria fará um acompanhamento mais próximo dos resultados do Teia do Saber, o que possibilitará a adoção quase imediata de eventuais medidas para corrigir ou aperfeiçoar o programa. O software, que foi desenvolvido por especialistas da Unicamp, será acompanhando de um manual que explica em detalhes o seu funcionamento.
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