A professora explica ainda que as frutas, cada vez mais, se revelam constituídas de substâncias bioativas que trazem algum benefício para o organismo, geralmente devido à presença de antioxidantes, reconhecidos como capazes de retardar o envelhecimento e o aparecimento de doenças e até de evitá-las. “Esse fato levou ao conceito de alimentos funcionais, que estão na ordem do dia, e mais recentemente à idéia de quimioproteção, conseguida através de substâncias bioativas presentes em produtos in natura ou processados”, observa. Normalmente estuda-se uma forma de preservar o quimioprotetor presente em um produto vegetal durante seu processamento, ou a forma de extração para adicioná-lo em outros produtos industrializados. “É o que acontece, por exemplo, no processamento do suco de manga para preservar determinados componentes bioativos”, acrescenta.
O interesse dos consumidores levou a bióloga Andréia Cristiane Souza Azevedo a pesquisar os componentes da manga que podem apresentar caráter bioativo, o que deu origem a tese de doutorado orientada pela professora Gláucia Pastore. Andréia Azevedo estudou as enzimas oxidativas e a presença de compostos bioativos em mangas produzidas no Brasil, com base nas variedades Tommy Atkins, Haden e Palmer, mas concentrando-se na primeira, em três diferentes estádios de maturação. A determinação dos teores das principais enzimas oxidativas foi utilizada como parâmetro para estabelecimento dos estádios de maturação: o verde, o de vez, e o maduro.
Andréia Azevedo afirma que os resultados mostraram a influência da maturação na composição química da fruta, com reduções nos teores de água, minerais, gorduras, fibras e vitamina C, e aumento dos teores de açúcares. “Os estudos mais detalhados foram sobre os compostos fenólicos na Tommy Atkins, a variedade mais produzida. Ela desperta maior interesse agronômico por ser mais resistente a doenças e ao transporte, e oferecer maior produtividade. Foram avaliados treze padrões de polifenóis, encontrando-se sete deles na polpa da fruta”, explica. Segundo a pesquisadora, os polifenóis por ela determinados e estudados são conhecidos pelo papel protetor. “Sua ação está sempre ligada à capacidade de atacar radicais livres, que se formam em grande quantidade no organismo humano face ao sistema de vida moderno. Os radicais livres acarretam várias doenças crônico-degenerativas, que são aquelas que se manifestam no decorrer do tempo e não de forma aguda, a exemplo do câncer”, complementa.
Gláucia Pastore ressalta a importância da descoberta, pela ciência, desses efeitos benéficos trazidos por componentes presentes em frutas e verduras. “A capacidade de retirar radicais livres, responsáveis pela oxidação, é o ponto chave: sem oxidação não ocorre degeneração, mesmo quando a pessoa é predisposta geneticamente. Nesses casos, a dieta minimiza a tendência natural”, observa. A professora vê na manga um conjunto de propriedades importantes, como as oferecidas pelo caroteno, responsável pelo pigmento amarelo, por vários carotenóides, que são antioxidantes, e pelo alto teor de vitamina C e de fibras boas. “Ainda falta conhecimento em relação às frutas brasileiras. Esse tipo de pesquisa contribui com a determinação das substâncias bioativas na manga e mostrando como elas se relacionam com a maturação e com as enzimas que degradam”, pondera.
Em seu estudo, Andréia Azevedo determinou as porcentagens dos vários componentes nos principais estádios de maturação, a atividade antioxidante e a presença de uma importante substância antioxidante como a mangiferina, principalmente na casca do fruto. A pesquisadora não encontrou estudos sobre mangas do Brasil que envolvessem a ação bioquímica e o poder antioxidante. Em sua opinião, tais pesquisas permitirão o aperfeiçoamento genético para obter espécies com maiores teores de substâncias de interesse da saúde pública, além de municiar as empresas nacionais com informações que lhes permitam melhor explorar as frutas brasileiras industrialmente, visando ao mercado interno e externo.