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Monteiro Lobato
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História das Guerras
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Livro revela Lobato jovem
e apaixonado

Professora Marisa Lajolo (Foto: Arquivo/Antoninho Perri)De uns anos para cá Monteiro Lobato vem atraindo a atenção de pesquisadores, agregando-se à sua popularidade estudos sobre a originalidade e pluralidade de sua contribuição à cultura brasileira. Como parte da celebração do Ano 40 da Unicamp, o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) promove a “I Jornada Lobatiana – avaliação e perspectivas de pesquisa sobre Monteiro Lobato”, nos dias 17 e 18 de abril. O evento inclui a inauguração de uma homepage (www.unicamp.br/iel/monteirolobato), uma exposição de documentos inéditos que ficarão expostos por 15 dias no saguão da Diretoria do IEL e no saguão da Biblioteca Central, e o lançamento de um livro, Quando o carteiro chegou... (Editora Moderna).

A professora Marisa Lajolo, do IEL, está à frente de todo o evento e também organizou o livro que reproduz os postais que Lobato enviou à noiva Maria Pureza Natividade, a Purezinha, com quem ele se casou em 1908. Nesta entrevista ao Jornal da Unicamp, a professora dá detalhes sobre o que está reservado aos leitores do escritor.

Evento na Unicamp inclui nova homepage e seminário

Jornal da Unicamp – Sobre Quando o carteiro chegou, o que há de tão peculiar na correspondência trocada entre Lobato e Purezinha, sua noiva, a ponto de justificar um livro?

Marisa Lajolo – O livro é muito original, constituído por 31 lindos cartões postais, que recobrem um período dois anos, de 1906 a 1908. Na época era moda colecionar e trocar cartões postais e Lobato e sua noiva parecem ter feito parte da tribo de colecionadores. A publicação deste livro lança luz sobre um Lobato desconhecido do público: um jovem (ele nasceu em 1882) flagrado em seu perfil de noivo apaixonado, ansioso pelo casamento. Nesta correspondência, o leitor também ganha acesso a cenários da vida cotidiana de um homem solteiro no interior paulista no começo do século 20: festas, figuras, fofocas, meios de transporte. Lobato tinha sido nomeado promotor público de Areias e esse cargo – numa cidade pacata – lhe dava muito tempo para caprichar nas mensagens para a noiva.

JU – Como foi a produção do livro?

Marisa Lajolo – O livro tem uma edição muito requintada. Formato grande, páginas coloridas , textos de introdução que contextualizam seus conteúdos. Os postais são reproduzidos em quatro cores, direitinho como Purezinha os recebeu há um século atrás. Além disso, as mensagens dos postais, manuscritas na (às vezes) difícil caligrafia do escritor, são também transcritas. No mesmo sentido, rodapés explicam elementos do texto e dos cartões que talvez tenham se tornado meio difíceis para leitores de hoje.

Purezinha e Lobato seguiam a moda de colecionar e trocar cartões postais (Foto: Arquivo/Antoninho Perri)JU – Se Lobato era jovem, o público alvo é o jovem?

Marisa Lajolo – Todo mundo. Os mais diferentes tipos de leitores encontrarão neste livro algo que lhes fale ao coração. Os leitores de Lobato – que são muitíssimos – encontrarão uma outra faceta de seu escritor preferido. Já quem não sabe quem foi Monteiro Lobato encontrará o saboroso documento de uma relação amorosa vivida há um século. Pesquisadores encontrarão material muito interessante sobre modos de escrita da época, vida cotidiana no interior paulista, práticas epistolares. O livro pretende circular também entre aqueles leitores para os quais Lobato é apenas uma referência televisiva. A linguagem das introduções e rodapés é extremamente simples. Quem sabe, através deste Lobato epistolar os jovens redescobrem o Lobato escritor?


JU – A exposição que acompanha o evento inclui a imagem de uma página de um caderno de receitas de Purezinha, a esposa de Lobato.

Marisa Lajolo – Este caderno de receitas é um dos objetos mais originais dentre os muitos documentos que os herdeiros do escritor depositaram na Unicamp. É um caderno bonito, de capa dura recoberta de tecido vermelho, folhas com molduras e que registra – em letra manuscrita, com caneta tinteiro – centenas de receitas daquela época. Na primeira página, Purezinha conta que algumas das receitas foram copiadas por Lobato “para ajudar”. Não é bonita a idéia de um marido que se esforça por compartilhar o cotidiano da esposa? Nas receitas que Lobato copiou, ele geralmente acrescenta uma gracinha, como por exemplo comentar a excelência do resultado final. Mas além de copiar receitas, Lobato também “ilustrou” o caderno: a exposição reproduz a cena de cozinha que ele desenhou na abertura do caderno.


JU – Esta “I Jornada lobatiana” também marca o lançamento de uma homepage do escritor. O que há de novidade nesta homepage, já que Monteiro Lobato já dispõe de uma visitadíssima página na internet, onde internautas podem, inclusive corresponder-se com suas famosas personagens?

Marisa Lajolo – Esta homepage tem como público alvo principalmente pesquisadores. Ela faz parte do projeto temático de pesquisa “Monteiro Lobato ( 1882-1948) e outros modernismos brasileiros” que, com apoio da Fapesp, CNPq e Unicamp vem sendo desenvolvido no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). Em dezembro de 2000 o arquivo pessoal de Monteiro Lobato, que estava sob a guarda de seus herdeiros, foi depositado no Centro de Documentação Alexandre Eulálio, do IEL. São quase dois mil itens entre correspondência, livros, originais, fotos, desenhos, recortes de jornal. Todo este material, que hoje já foi arquivísticamente tratado e catalogado pela equipe do Cedae, está à disposição de pesquisadores. A homepage, disponibilizando on-line parte deste material, torna-o acessível a pesquisadores de todo o mundo.

JU – O livro a ser lançado tem alguma relação com a homepage?

Marisa Lajolo – Em conjunto, ambos os “produtos” – homepage e livro- representam diferentes resultados de pesquisas acadêmicas. O livro vota-se também para o público geral e a homepage volta-se mais para pesquisadores da cultura brasileira. Também a exposição que faz parte do evento tem esta dupla face: ao lado da reprodução de documentos do acervo lobatiano do CEDAE, ela também divulga os projetos de pesquisa em curso, aqui na Unicamp, sobre o escritor. O livro Quando o carteiro chegou foi organizado por mim e pelo doutorando Emerson Tin , o que nos proporcionou a instigante experiência de falarmos para um público mais amplo do que nossos pares universitários. Por outro lado, disponibilizando on-line documentos inéditos, é possível que a Unicamp esteja se aliando a projetos em curso no mundo todo, que propõem a utilização da internet para facilitar o acesso à documentação cultural . Tradicionalmente, o acesso a manuscritos e a documentos mais raros é restrito a pesquisadores que têm condições de deslocamento e de permanência prolongada em lugares diferentes de suas instituições de origem.

JU – Mas se o objetivo é disponibilizar documentos, por que a homepage apresenta apenas parte do material existente no Cedae?

Marisa Lajolo – Divulgação de documentos pessoais é matéria de legislação. Para divulgá-los, é sempre necessário autorização das pessoas neles mencionadas, ou de seus herdeiros. Decidimos pôr no ar documentos de que dispomos que são assinados por Lobato e/ou por seus familiares. Sobre estes documentos a família tem jurisdição e autorizou a divulgação. Estamos nos esforçando para conseguir autorização junto aos titulares dos direitos dos outros documentos todos. Há também documentos lobatianos extremamente importantes em outras instituições brasileiras e podemos imaginar que esta homepage é o passo inicial de mapearmos exaustivamente onde se encontra cada documento para, num segundo momento, termos toda a documentação on-line, independente da instituição onde – no suporte papel – encontra-se cada documento.

JU – O que será discutido na “I Jornada lobatiana” do IEL?

Marisa Lajolo – A jornada pretende tanto discutir o uso nos estudos literários de bancos de dados informatizados, quanto trocar experiências entre pesquisadores que trabalham com Monteiro Lobato. Trata-se de um evento de pequena dimensão, sem público, que permitirá a pesquisadores que estão, por assim dizer com a mão na massa, entabularem um diálogo profundo sobre as questões com as quais se deparam em sua pesquisa.

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