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O uso da mulher na propaganda e o crescimento do turismo sexual

RAQUEL DO CARMO SANTOS

A pesquisadora Louise Prado Alfonso: estada em Brasília que seria de 30 dias se transformou em seis meses de trabalho (Fotos: Reprodução/Antonio Scarpinetti) É bastante comum deparar com material publicitário de turismo trazendo a imagem da mulher como elemento representativo do povo brasileiro. A figura feminina sempre aparece complementando as propagandas de praias paradisíacas, do Carnaval, do patrimônio histórico e da natureza exuberante. Já na década de 1980, um estande da Embratur em Nova York (EUA) exibia uma brasileira com roupas de banho na frente de fotos do país. Os atuais cartões-postais da praia de Copacabana, por exemplo, estampam quatro mulheres de biquíni na areia.

Pesquisadora salva acervo
da Embratur que ia para o lixo

Na opinião da pesquisadora Louise Prado Alfonso, a divulgação dessas imagens por organismos oficiais de turismo acaba levando uma mensagem negativa e equivocada que contribui para o aumento do turismo sexual, problema cada vez mais preocupante no Brasil. Segundo ela, os aspectos depreciativos da divulgação da mulher brasileira como atrativo turístico poderiam ser previstos pela Embratur, que é nosso órgão oficial, desde que iniciou suas atividades.

Em sua dissertação de mestrado “Embratur: Formadora de imagens da nação brasileira”, orientada pelo professor Omar Ribeiro Thomaz e apresentada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), Louise Alfonso relaciona outras questões que trouxeram impactos negativos ao turismo brasileiro. Sua pesquisa eleva à tona uma discussão sobre os aspectos sociais do nosso turismo, tendo como pano de fundo as campanhas veiculadas pela Embratur desde o seu início na década de 1960.

(Fotos: Reprodução/Antonio Scarpinetti) De acordo com a pesquisadora, tão difícil quanto analisar as fases de ruptura das campanhas publicitárias, que serviram como instrumento estratégico dos diferentes planos de governo, foi sua luta para “salvar” o acervo documental da Embratur, que tem 40 anos de existência. “Embarquei para Brasília com a expectativa de trabalhar durante um mês consultando os arquivos. Qual não foi minha surpresa ao saber que todo aquele material seria descartado porque o consideraram antigo e ultrapassado. Eram mais de 200 caixas de documentos”, conta Louise.

A permanência em Brasília que deveria durar um mês acabou se transformando em seis meses de trabalho quase ininterruptos. Ao retornar, a pesquisadora trouxe na mala a história da instituição, nunca antes documentada de forma organizada. “O histórico conta a preocupação dos diversos governos em vender o Brasil como um produto para os mercados interno e externo. Além de mostrar o papel decisivo da Embratur na formação e divulgação de uma imagem brasileira, uma vez que a imagem é o principal instrumento para a venda de um produto turístico”, afirma.

Louise Alfonso explica que só recentemente começou-se a perceber os primeiros reflexos desta imagem turística ancorada na beleza e sensualidade da mulher brasileira, que acabou arraigada. “Cada vez mais vemos as cidades tentando alterar esta imagem, que acaba gerando problemas sociais, ambientais e econômicos”, avalia. Ela considera que a imagem de um ponto turístico deve ser acompanhada de ações que a tornem permanente. Como exemplos próximos, a pesquisadora observa a cidade de Holambra oferece desconto nos impostos para estabelecimentos e residências que mantenham uma fachada holandesa.

“Se essas ações não forem contempladas, o turismo pode acabar com a economia de uma cidade”, argumenta. Outro exemplo mencionado por Louise Alfonso é o da cidade de Santos, mais especificamente da Praia Grande. Houve um tempo em que a má propaganda causou um impacto tão negativo para o turismo local, que a prefeitura da cidade foi obrigada a promover uma ampla reestruturação urbanística na praia e lançar uma campanha para reverter a sua imagem.

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