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Pós-graduação lato sensu de Gestão Educacional
oferecida pela Faculdade de Educação deve ser repetida

Curso de especialização
forma 4,2 mil gestores

MANUEL ALVES FILHO

Panorama da cerimônia de encerramento do curso no Ginásio de Esportes: mostra pública reuniu trabalhos de conclusão de curso (Fotos: Antônio Scarpinetti)Durante 16 meses, profissionais que atuam na rede estadual de educação de São Paulo, entre eles diretores, coordenadores, supervisores e dirigentes regionais de ensino, voltaram a ser estudantes. Nesse período, eles freqüentaram o curso de pós-graduação lato sensu de Gestão Educacional oferecido pela Unicamp, por meio de sua Faculdade de Educação (FE). Dos cerca de 6 mil matriculados, 4,2 mil foram aprovados. Estes participaram no último dia 31 de março da cerimônia de encerramento das atividades acadêmicas. Na ocasião, os trabalhos de conclusão de curso (TCCs), vários com nível que os qualifica para publicação, foram apresentados e defendidos numa mostra pública. De acordo com o diretor da FE, professor Jorge Megid Neto, a iniciativa foi positiva, a despeito da identificação de problemas inerentes a um programa de tamanha dimensão. Segundo ele, a experiência deve ser repetida, em menor proporção e com aprimoramentos, com gestores das redes municipais de ensino de dez cidades que compõem a Região Metropolitana de Campinas (RMC). “Estamos em conversações nesse sentido”, informa.

Grau de exigência da Unicamp foi mantido

De acordo com uma das coordenadoras executivas do curso, professora Agueda Bernardete Bittencourt, o índice de aprovação ficou abaixo do desejado, mas muito acima dos alcançados em cursos parcialmente a distância. Por outro lado, por tratar-se de um curso de pós-graduação, o grau de exigência foi mantido nos níveis praticados pela Unicamp. Cabe observar, conforme a docente, que grande parcela dos gestores realizou enormes esforços para acompanhar as atividades propostas, uma vez que a cultura acadêmica está baseada no estudo, no pensamento e na criação, enquanto a cultura das escolas públicas de São Paulo tem se pautado pela ação e pela busca de soluções imediatas. “Um bom exemplo de como está sendo visto o curso aparece do depoimento de uma das alunas, que está há 15 anos na rede estadual. Ela afirmou recentemente, durante um congresso internacional sobre gestão educacional, realizado em Rio Claro, que foi neste curso da Unicamp que pela primeira vez ela percebeu ter sido chamada para estudar. Normalmente, segundo ela, os gestores só são chamados para aprender rotinas de trabalho”, relata a professora Agueda.

Ela faz questão de destacar, ainda, que o curso revelou as enormes dificuldades de formação de parte dos profissionais da educação e as precárias condições de trabalho existentes no interior do sistema de ensino público paulista. Diversos trabalhos realizados pelos alunos trataram de problemas relativos ao cotidiano e à história das unidades escolares, tais como políticas públicas, projetos, planos e avaliação das escolas. Também foram elaborados projetos temáticos e mais de mil memoriais de formação. Todo esse material abre a perspectiva para estudos mais detalhados da rede pública, uma vez que os TCCs irão compor um banco de dados a ser disponibilizado pela Faculdade de Educação através de sua Biblioteca Virtual aos pesquisadores e demais interessados.

A participação no curso também despertou o interesse de várias pessoas em dar prosseguimento aos estudos. Diversos alunos manifestaram o desejo de fazer o mestrado e posteriormente o doutorado na Unicamp. “Tenho conhecimento de que alguns deles já estão sendo convidados a participar de grupos de pesquisas coordenados por docentes da Faculdade de Educação que trabalharam no curso”, informa a professora Agueda. Segundo ela, a realização do curso só foi possível graças ao envolvimento dos professores da FE, apoiados pelos seus alunos de pós-graduação.

A coordenadora executiva do curso de Gestão Educacional afirma que resistências iniciais foram superadas com o passar do tempo, inclusive em relação ao uso do ensino a distância, que respondeu por metade das atividades. Ao cabo do programa, foi possível perceber que o recurso tem aspectos muito positivos, como convidar os alunos à leitura. “É um recurso importante, mas que talvez deva ser usado com um pouco mais de parcimônia. Penso que, em cursos como esse, o ideal é que as aulas não-presenciais respondam por algo em torno de 30% do programa, para que haja um maior aproveitamento por parte dos alunos”, analisa o diretor da Faculdade de Educação. “Logo se saberá mais sobre essa experiência, pois nós já temos notícias de quatro teses de mestrado e doutorado em andamento abordando diferentes aspectos do curso de Gestão Educacional”, conta a professora Agueda.

Uma das preocupações manifestadas pela docente foi em relação à necessidade de definição pelaNo sentido anti-horário, Jorge Megid Neto, Agueda Bittencourt, Fernando Arantes e Miriam Chinellato de Oliveira: a serviço da educação pública Unicamp de uma política a respeito da formação continuada, uma vez que as solicitações dos órgãos públicos têm sido recorrentes. Agueda considera que um atendimento mais efetivo a todos os profissionais ligados à Secretaria de Educação exigirá necessariamente a participação das outras universidades públicas paulistas, pois os docentes não podem deixar de lado suas atribuições de pesquisa, orientação e criação sob pena de colocarem em risco seu próprio desenvolvimento acadêmico e o de sua área. A pesquisa, diz, é o fator que garante uma criação como essa. “O conteúdo e mesmo a forma adotada no curso são frutos da pesquisa desenvolvida na Faculdade de Educação”.

A FE só conseguiu dar conta do desafio de oferecer o curso aos cerca de 6 mil gestores, no entender de Agueda, porque detém o maior programa de pós-graduação do Brasil em sua área. “Do contrário, seria impossível. Embora a Faculdade conte com apenas 100 docentes, nós conseguimos constituir uma equipe de 300 professores graças à participação dos nossos mestrandos e doutorandos”, afirma. O envolvimento dos pós-graduandos no programa, completa o professor Megid Neto, deu-se também em função de a Unicamp dispor de uma política que permitiu considerar esse trabalho como uma atividade de estágio docente de nível superior.

De acordo com o diretor da FE, dez prefeituras da RMC demonstraram interesse em também oferecer o programa aos educadores das redes municipais de ensino. As conversações estão em andamento. Caso a parceria se confirme, a iniciativa deverá atingir cerca de 300 pessoas. Segundo Megid Neto, o modelo utilizado com os gestores da rede estadual provavelmente sofrerá aperfeiçoamentos. As aulas presenciais, por exemplo, poderão responder por mais de 50% das atividades. Em vez de 16 meses, o curso deverá durar 18 meses. “Nossa idéia é oferecer o mesmo curso, sem que lancemos mão necessariamente do mesmo desenvolvimento metodológico”, explica.

Logística – A oferta do curso de Gestão Educacional exigiu uma grande capacidade logística por parte da Unicamp. De acordo com Miriam Cristina Chinellato de Oliveira, gerente executiva do Grupo Gestor de Projetos Educacionais (GGPE), ligado à Reitoria, o campus de Barão Geraldo recebia cerca de 3,5 mil alunos aos sábados, que desembarcavam de 70 ônibus e 80 vans. Os demais assistiam às aulas em dois locais em São Paulo. Em Campinas, foram colocadas à disposição dos estudantes 70 salas de aula. Perto de 70 funcionários trabalharam no lançamento do curso. Durante seu desenvolvimento, 30 estudantes deram apoio aos professores e alunos.

O curso também demandou a utilização de uma grande quantidade de equipamentos, tais como computadores (120), retroprojetores (70) e outros equipamentos audiovisuais. A logística contou, ainda, com o apoio da Vigilância e Sinalização do campus e do Hospital de Clínicas (HC). Dez lanchonetes e restaurantes abriram suas portas aos sábados para atender o público.

Histórico - A criação do curso de Gestão Educacional, segundo o coordenador do Grupo Gestor de Projetos Educacionais (GGPE), Fernando Antonio Arantes, nasceu do interesse da Secretaria da Educação, que procurou a ajuda da Unicamp. Em seguida, o GGPE propôs à Faculdade de Educação que elaborasse um projeto nesse sentido. Assim que ficou pronta, a proposta foi discutida com os representantes da Secretaria até que se chegasse ao formato final. Inicialmente, as atividades estavam previstas para durar 12 meses. Entretanto, elas foram estendidas por mais quatro meses, para que o programa pudesse ser cumprido e a qualidade do curso, assegurada. A Unicamp arcou com os custos adicionais desse prolongamento. Ao todo, o Estado investiu aproximadamente R$ 10 milhões. O curso foi coordenado por um colegiado formado pelos coordenadores das disciplinas e contou com a participação de representantes do GGPE, do corpo discente e Secretaria de Estado da Educação.

'A especialização fará a diferença'

Maria Aparecida Kuriki, formanda e titular da Cenp, durante a cerimônia de encerramentoA titular da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (Cenp) da Secretaria de Estado da Educação, Maria Aparecida Marques Kuriki, fez o curso de Gestão Educacional oferecido pela Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. De acordo com ela, esta foi a primeira vez que a Pasta proporcionou aos profissionais da rede estadual de ensino uma capacitação em serviço. “Penso que essa especialização fará diferença para a carreira dos nossos educadores. A excelência do curso foi patenteada por todos os alunos”, afirma.

Maria Aparecida considera que o curso apresentou uma logística “bastante interessante” e possibilitou aos gestores da rede pública uma interação inédita. “Os módulos enfocaram assuntos pertinentes ao cotidiano dos alunos, levando-os a uma reflexão bastante aprofundada sobre a situação real e a ideal vivida nas escolas”. Os ganhos para os profissionais da educação, avalia, foram inúmeros. “Espero que todo o conhecimento adquirido seja motivador para mudanças significativas na gestão educacional da escola pública. Esse resultado será aguardado com ansiedade por todos nós. É difícil prever o tempo e quais modificações serão implementadas, mas acredito que elas estarão visíveis a médio e longo prazo”, acredita.

A coordenadora do Cenp reserva, porém, críticas pontuais ao curso. Estas, de acordo com Maria Aparecida, devem-se muito provavelmente ao caráter inovador e à abrangência da iniciativa. No entender dela, a atuação dos monitores precisa ser revista. O ambiente utilizado para as atividades de ensino a distância, diz, foi positivo para os que tinham maior domínio da tecnologia, mas constituiu-se em uma dificuldade para os iniciantes. “Lavando-se em conta que tínhamos cerca de 6 mil alunos freqüentando o curso, as falhas são compreensíveis. Esses problemas servirão de alerta para nortear a elaboração do curso em outras oportunidades”.

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