RAQUEL DO CARMO SANTOS
A uva niagara rosada é a mais aceita pelo consumidor brasileiro. Seu gosto perfumado e doce faz com que seja considerada a uva de mesa mais vendida no país, sendo que a região de Campinas é uma das principais produtoras. Mas, para chegar até as famílias, o caminho percorrido é marcado por muitos entraves que o engenheiro Daniel Gomes fez questão de detalhar em sua pesquisa de mestrado. “As embalagens são impróprias para acondicionar a fruta e o transporte não é especializado, para citar apenas algumas das falhas no processo”, explica Gomes.
O orientador do trabalho, o professor Antonio Carlos de Oliveira Ferraz, acredita que exista espaço para o incremento de tecnologias que possibilitem um produto mais qualificado para o consumidor, pois uma das principais preocupações são as características com que a fruta chega ao seu destino e a perda da qualidade ao longo do trajeto, estimado em torno de 20%.
O trabalho de campo foi realizado por Daniel Gomes, que investigou cada etapa do processo da colheita até chegar ao consumidor. “Percebi que nas questões de agronomia, a avaliação é de bom para ótimo, ou seja, as tecnologias empregadas para a produção, manejo e colheita estão satisfatórias. Hoje, o produto pode ser encontrado em várias épocas do ano, e não apenas na safra de verão, entre novembro e janeiro”, pondera o engenheiro. A problemática está, justamente, nos procedimentos pós-colheita. Em alguns casos, a uva é transportada por 12 horas para chegar ao local de distribuição. Isso faz com as condições de transporte sejam inadequadas.
As conclusões foram evidentes depois de submeter a fruta a simulações para verificar o efeito da vibração na qualidade. Para isso, Gomes utilizou uma mesa vibratória, onde o produto permaneceu durante uma hora, o que corresponderia a uma viagem de caminhão em um percurso de 500 quilômetros. Na seqüência, os cachos da uva foram avaliados em diversos fatores como perda de água, qualidade do engaço ou cabo do cacho, presença de doenças e danos profundos ao fruto. Uma das constatações foi a perda de água, aspecto que compromete em muito a qualidade do produto. Segundo o engenheiro, uma perda de água de 6% - marca que registrou no estudo pode condenar a qualidade do cacho, uma vez que em sua composição a uva tem 80% de água.
Embalagens Pelo estudo, não houve diferenças entre as embalagens de papelão e madeira ficou evidente que oferecem proteção na mesma proporção. As caixas de papelão têm encontrado maior aceitação por parte dos produtores pela praticidade que oferecem para montagem. Já as caixas de madeira são mais tradicionais, mas por dificuldades de acondicionamento, são cada vez menos utilizadas. Uma questão a ser considerada, no entanto, é que as caixas de madeiras garantem um pouco mais a qualidade da fruta. No empilhamento das caixas, as de papelão são menos resistentes e podem amassar o fruto. A proposta, neste caso, seria viabilizar embalagens mais apropriadas para o transporte e melhorar as orientações para os encarregados de acondicionar a fruta na embalagem.
Com relação ao transporte, o problema da falta de especialização é ainda mais grave. A própria acomodação da fruta na carroceria do caminhão é feita sem nenhum cuidado, e não há medidas de proteção contra contaminação. “Elas são transportadas ou cobertas por lonas pretas ou ar livre, o que compromete a temperatura a que são submetidas. Estes aspectos, aliados ao efeito negativo da vibração, resultam em produto de má qualidade para o consumidor”, salienta o engenheiro.
O professor Antonio Carlos Ferraz defende maior conscientização do consumidor em relação à compra de alimentos perecíveis. Ele acredita que os estudos acadêmicos referentes à pós-colheita dos produtos só são valorizados se existe um consumidor bem-informado. “Se o comprador adquire um abacaxi azedo ou internamente danificado, por exemplo, é difícil devolver o produto, quando na verdade seria o correto, pois pagou o preço de um produto que deveria ser íntegro e de boa qualidade", argumenta. (R.C.S.)