Alimento é para cães e gatos, mas nem por isso se deve perder de vista a qualidade do produto. Por isso, o consultor Nelson Aparecido Alves dedicou mais de cinco anos em pesquisas para traçar metodologia de implementação de um conjunto de normas e procedimentos, denominado Boas Práticas de Fabricação (BPF). No primeiro trabalho de Alves, em 2003, ele constatou na pesquisa de mestrado que, de 15 empresas estudadas, especializadas em alimentação para cães e gatos, apenas quatro haviam implantado as BPF, mesmo já estando em vigor instrução normativa, instituída pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para orientar o setor.

No doutoramento, defendido na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), o consultor não só desenvolveu um banco de dados para realizar um diagnóstico da empresa em relação aos requisitos de BPF, como também propõe uma metodologia para facilitar a implantação das medidas. “Com o roteiro, o fabricante terá condições de saber se está ou não atingindo os objetivos de adequação às regras, e também poderá implementar as normas com maior facilidade”, esclarece. Segundo Alves, que foi orientado pelo professor João Domingos Biagi, não há dúvidas de que um dos segmentos mais crescentes no país é o da fabricação de ração para animais domésticos, a chamada pet food. Para ele, cresceu a importância dos cães e gatos na família. “Essa valorização do animal tem contribuído para o aquecimento do mercado. Em muitos casos, eles são tratados como membros da família”, argumenta. Mesmo aquecido, o mercado ainda oferece indicativos para uma expansão ainda maior. Enquanto em países da Europa, por exemplo, 80% dos animais consomem comida industrializada, no Brasil esta marca atinge 40%.

Os donos de animais, explica o especialista, têm se tornado consumidores exigentes. Eles esperam que o alimento seja saudável para os cães e gatos e cumpra com as especificações da embalagem. Tanto é que, entre as mais recentes novidades, estão as rações específicas para cada raça ou idade, inclusive com várias categorias e preços, demonstrando a especialização do segmento. Nelson Alves explica ainda que estudos comprovaram que a comida industrializada é a melhor opção para o animal. “Faz bem para a sua aparência, pelagem, fezes e saúde geral”, defende.

Em menos de dez anos, foram instaladas no Brasil mais de cem indústrias de ração animal, o que coloca o país em terceiro lugar mundial no que diz respeito à produção de alimentos do segmento. O maior volume é destinado à avicultura. Com isso, as questões de qualidade têm sido alvo de instruções normativas por parte do governo federal. Para se adequar aos requisitos das Boas Práticas de Fabricação, as questões de higiene pessoal, instalações e cuidados durante o processo de higienização de equipamentos são itens imprescindíveis. Como ocorre na produção de alimentação para humanos, aspectos como o uso de toucas e controle de pragas também são exigidos, assim como a proibição do uso de bijuterias e objetos de adorno durante a manipulação do produto.

Quando foi realizado o primeiro estudo, em 2003, mesmo entre as quatro empresas que adotavam as BPF, foram encontrados pontos fracos com relação à higiene pessoal dos funcionários e à falta de uma política de treinamento. Nelson Alves acredita que, desde então, muitas coisas mudaram e o banco de dados testado em quatro fabricantes com resultados positivos, associado às orientações apontadas em seu trabalho, constituem-se em uma ferramenta fundamental para quem deseja se enquadrar às normas vigentes. (R.C.S.)