MARIA ALICE DA CRUZ
"O calipso e o samba são perfeitamente harmonizáveis”. Este é um dos motivos que inspiraram a musicista Rosalind Garnes a doar, para o Departamento de Música da Unicamp, dez tambores de aço feitos em seu país de origem, Trinidad e Tobago. O objetivo é propagar o som que ela se acostumou a ouvir e executar desde criança. A rítmica dos brasileiros e o talento dos estudantes de música da Unicamp inspiraram a instrumentista. Mais: sua filha, Soluna Garnes, aluna do curso de música da Unicamp, é a única estudante de tambores de aço no Brasil. A expectativa, de acordo com o chefe do Departamento de Música, Esdras Rodrigues, é formar uma orquestra de tambores de aço, como as existentes em Trinidad e Tobago.
Moldados com martelo, os tambores são confeccionados a partir de barris de petróleo e ganham diferentes timbres, semelhantes aos de diversos instrumentos eruditos, entre os quais o violino, violoncelo, baixo e piano.
Rosalind veio à Unicamp para realizar com estudantes de música um workshop, que se encerrou com um concerto no último dia 11, que foi gravado em DVD por estudantes do curso de Midialogia e será levado a Trinidad e Tobago. Durante o concerto, Rosalind explicou que os instrumentos são usados tanto para execução de música popular quanto erudita. No repertório, foram apresentadas peças tradicionais de seu país e outras mundialmente conhecidas, inclusive clássicos da bossa nova e dos Beatles.
Os estudantes desvendaram rapidamente os mistérios dos tambores tocados por Soluna no Instituto de Artes, desde 2003, ano em que ingressou na Unicamp. “Parece que esses alunos tocam os tambores há muitos anos. Por serem músicos, a afinidade fica mais fácil”, brinca Rosalind. Como no Brasil não havia esse instrumento, Soluna o trouxe no avião para poder estudar.
Além do aprendizado, o workshop foi uma experiência divertida, na opinião da cantora Claudia Noemi de Oliveira, aluna do quinto ano de canto lírico na Unicamp. A leitura cantada ajudou na execução das peças propostas por Rosalind. “O calipso é muito empolgante e dá vontade de dançar. É impossível tocar quieto, tem de curtir a música”. A cantora explica que são duas as dificuldades segurar as baquetas e produzir tecnicamente o som. Ela teve de dar conta de dois tambores para produzir o som do double second, que seria o violoncelo numa orquestra. A energia de Rosalind também agradou aos alunos. “A professora é muito divertida e tem um jeito legal de se expressar”, conta Cláudia. “A leitura cantada torna mais fácil a execução”, explica.
Soluna conclui a graduação em 2008, mas falou sobre a possibilidade de permanecer no Brasil. Quando indaga à mãe se vai ou não ficar, Rosalind logo responde: “Sim, ela vai ficar”. A explicação vem em seguida, com um largo sorriso: “Eu quero voltar. Eu gosto do Brasil”.