RAQUEL DO CARMO SANTOS
Estudo desenvolvido na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) constatou que o uso da ducha higiênica por mulheres profissionais do sexo não interfere na microflora vaginal. As investigações, que constam da pesquisa de mestrado da médica ginecologista Rose Amaral, contestam trabalhos da literatura científica que dão conta que a utilização da ducha poderia estar associada ao aparecimento de bactérias. Elas causam incômodo, ardor e corrimento intenso, entre outros problemas. A investigação tomou como base 155 mulheres que atuam em uma das maiores zonas de prostituição do país, localizada no Jardim Itatinga, em Campinas. A médica atua no Posto de Saúde do bairro há quatro anos.
Segundo Rose Amaral, que foi orientada pelo professor Paulo César Giraldo, o uso da ducha higiênica é algo cultural entre as mulheres de uma maneira geral e, por isso, faltavam explicações plausíveis para recomendações com relação à interrupção do hábito. Estimativas apontam que, a cada três mulheres, uma utiliza a ducha como prática rotineira. “A simples limpeza da cavidade vaginal com a duchinha do chuveiro elétrico já é considerada higienização”, explica a médica.
A especialista destaca que a prática é bastante difundida nas regiões Norte e Nordeste do país. As mulheres norte-americanas também consideram a importância do uso e, entre as mulheres muçulmanas, o emprego da ducha faz parte de um ritual de purificação.
Na população estudada, mais de 60% das mulheres possuem o hábito de higienização com a ducha. Segundo a ginecologista, as profissionais do sexo buscam uma sensação de conforto e limpeza. Sabem também que o uso do equipamento não pode prevenir doenças e gravidez indesejada. Elas mantêm, em média, sete relações sexuais por dia e o uso da ducha constitui uma prática importante neste processo. “A lavagem é inevitável porque as profissionais têm grande atividade sexual e são usuárias de lubrificantes vaginais”, esclarece a médica.
Um outro aspecto que a médica Rose Amaral constatou ao longo do tempo em que presta assistência a essas mulheres diz respeito ao comportamento sexual. Mesmo atuando como médica, e tendo interesse específico nas questões mais técnicas, a ginecologista constatou algumas características peculiares, entre as quais a grande quantidade de mulheres que têm relações sexuais homoafetivas. “Elas atuam como profissionais do sexo, mas têm suas famílias e parceiras com quem convivem”, explica.
Dados do Centro de Saúde do Jardim Itatinga indicam que lá trabalham cerca de 1,9 mil profissionais do sexo. O diferencial do local em relação a outros centros de prostituição está no fato de que as mulheres residem no bairro em que trabalham. “Trata-se de um bairro residencial com estrutura e pronto-atendimento médico. Existem projetos voltados para essas mulheres. Distribuímos, por exemplo, cerca de 140 camisinhas por mês para cada profissional. Também realizamos atividades pontuais de prevenção de doenças. Estes aspectos marcam as diferenças do local”, revela Rose Amaral.